HOMILIA NO FINAL DO EVANGELHO DA PAIXÃO – ANO B 2021
1. A história da Paixão é uma história de fidelidade e de traição! Fidelidade absoluta da parte do Senhor Jesus: fidelidade à Palavra dada; fidelidade “até ao sangue, na luta contra o pecado” (Heb 12,4); fidelidade ao Seu Amor incondicional, até ao fim, por todos, por cada um, por mim. Mas se a Paixão de Jesus é, da Sua parte, uma história em carne viva do Seu amor fiel, já da nossa parte é uma história manchada pelo sangue da traição: traição da parte dos príncipes dos sacerdotes; traição de Judas, que está à mesa com o Mestre e O entregará por amor ao dinheiro; traição de Pedro que, apesar do seu juramento a pés juntos, negará Jesus por três vezes. E quando Jesus avisa, na Última Ceia, que um dos Doze O irá trair, como reagem os discípulos? Um por um, todos e cada um, duvidam da força da sua fidelidade a um pacto de sangue, que resista a tudo e até ao fim, e por isso dizem, desconfiados de si mesmos: “Serei eu, Senhor?”. “Sim”, podia responder-te Jesus, a ti e a mim: “Sim, tu és aquele por quem sou traído; mas tu és também aquele por quem sou irresistivelmente atraído”, movido por laços de amor irresistível. Na Sua Paixão por nós, Jesus transforma esta mancha de sangue, o sangue da nossa traição, no Sangue da nova aliança, sangue inocente, derramado por todos nós!
2. Irmãos e irmãs: a Paixão de Jesus desafia-nos a guardar o tesouro da fidelidade, que preserva a verdade e a beleza do amor até ao fim. “A família vive desta promessa de amor e de uma fidelidade que homem e a mulher trocam reciprocamente. A fidelidade é uma promessa de compromisso que vai crescendo, na obediência à palavra dada. Ela inclui o compromisso de receber e educar os filhos; mas realiza-se também no cuidado dos pais idosos, na proteção e cura dos membros mais frágeis da família, na ajuda recíproca para realizar as próprias qualidades e na aceitação dos próprios limites” (Papa Francisco, Audiência, 21.10.2015). Precisamos de valorizar este tesouro, esta obra-prima da nossa humanidade, este milagre do amor, que é a fidelidade, isto é, a honra à palavra dada, que não se pode manter sem o sacrifício dos pequenos e grandes gestos de cada dia; é uma fidelidade quotidiana, que se renova “todas as manhãs”, é uma cruz que se abraça, por amor, todos os dias!
3. Neste início da Semana Santa, somos desafiados a valorizar este muito frágil tesouro da fidelidade, em três sentidos:
3.1. Fidelidade «ao nosso sangue», isto é, fidelidade à família, o que implica fidelidade à palavra dada à esposa ou ao marido; fidelidade às promessas e aos compromissos assumidos entre pais e filhos, entre os familiares de sangue, a quem primeiro nos devemos e de quem nos recebemos, todos os dias.
3.2. Fidelidade «até ao sangue», na luta diária por guardar os mais belos tesouros da família, custe o que custar, dispostos a testemunhar um amor que resiste, um amor que não desiste, que não recua, que dá a face, que «dá o litro», que dá o próprio sangue; é um amor que tudo suporta, um amor que vai até ao fim.
3.3. Fidelidade «no sangue»,porque é uma fidelidade que se sela e se alimenta da Eucaristia. Na Eucaristia, Jesus faz-Se do nosso Sangue e faz-nos do Seu Sangue, ao partilhar connosco o cálice da nova e eterna aliança. Agora que podemos participar “de corpo e alma”, façamos com Jesus este pacto de sangue: voltar com alegria e não faltar, nem mais um domingo, à Eucaristia.
Irmãos e irmãs: sigamos, fielmente, Jesus, no caminho da Cruz! Ele é “a Testemunha fiel que nos ama e nos purificou dos nossos pecados com o Seu Sangue” (Ap 1,5), para permanecermos todos juntos na Arca da Aliança!