Homilia no VII Domingo Comum C 2019
1. E se rasgássemos esta página do Evangelho? Ficava tudo mais fácil! Teríamos então um cristianismo low-cost, a baixo custo, sem esforço, em saldo. Para sermos sinceros, perante esta escalada radical de Jesus, a nossa tentação é a desistir da prova ou a de negociar com Ele uma descida de preço ou pedir condições especiais para pessoas normais. Eu diria que há três boas maneiras de rasgar este verdadeiro cartão de identidade cristã!
1.1.A primeira boa maneira é ouvir e responder: «Isto não é para mim! Esta fasquia é só para cristãos de alta competição»! Todavia, o Evangelho é claro quanto aos destinatários: «Digo-vos a vós que me escutais» (Lc 6,27). Jesus fala para os discípulos, propõe esta loucura a gente normal e não a heróis ou especiais de corrida! Jesus fala para nós, para todos nós. Portanto, isto é mesmo para mim!
1.2. A segunda boa maneiraé dar a volta ao texto, baixar a fasquia, e responder: «Isto não é bem assim»! Em vez de sal, ponhamos açúcar. Só que Jesus é tão concreto quando fala do amor aos inimigos, que não dá para adoçar nenhuma das formas do verbo amar. Este amor traduz-se em gestos muito práticos: fazer o bem, dar e emprestar sem esperar nada em troca, abençoar e rezar pelos inimigos, perdoar sem julgar e dar sem medida. Portanto, isto é mesmo assim!
1.3.A terceira boa maneiraé desistir, dizendo: «Isto é de loucos, isto é impossível! Não tenho pernas para ir tão longe, nem asas para subir tão alto». A verdade, porém, é que Jesus não nos pede nada de impossível, nada que não possamos fazer, com Ele e por meio d’Ele. Sim, com Ele, isto é mesmo possível.
2. Como levar então à prática esta página do Evangelho, se ela é mesmo para mim, se ela é mesmo assim, se ela é mesmo possível? Sugiro aplicar esta página em modo “XPTO”, isto é, à maneira de Cristo. Podemos dizê-lo assim:
2.1.Primeiro modo: Crescer na intimidade e na amizade com Cristo, o Amigo por excelência. Quando a minha amizade com Cristo cresce, a partir do meu encontro com Ele, pouco a pouco os Seus sentimentos tornam-se os meus e a Sua vontade a minha. Então o amigo de Jesus torna-se o meu amigo, porque, como diz o ditado – “Amigo do meu amigo, meu amigo é” – mesmo que seja o meu inimigo! Quanto mais eu crescer na amizade com Cristo, tanto mais serei capaz de ver com os Seus olhos de misericórdia os meus inimigos. Começarei então a amar o inimigo, não propriamente com carícias e afetos, mas a pensar no seu bem, a oferecer-lhe o perdão. Não posso ser cristão sem Cristo! Amar assim, só em modo XPTO.
2.2.Segundo modo:Rezar pelos inimigos. Esta é a condição para despertar em mim a capacidade de amar os que Deus ama e de os amar como Deus ama. Quanto mais a oração me une a Cristo no amor ao Pai, tanto mais me tornarei filho do Altíssimo, capaz de viver aquele amor, que é bom até para os ingratos e os maus. Sem oração, não há transformação do coração, não há respiração da alma, não há fôlego, para escalar este amor sem medida. Por isso, quando me sentir incapaz de amar e perdoar os meus inimigos, não devo desistir, devo rezar: “Senhor, dá-me a graça de me tornar um bom cristão, porque, só por mim, não serei capaz; Senhor, ajuda-me, porque sem Ti nada posso fazer”. Rezar assim, só em modo XPTO!
2.3.Terceiro modo: para escalar este caminho de perfeição, comecemos pelas coisas mais simples, em relação àqueles que nos fizeram mal: saudemo-los, ao menos, com uma palavra de bom dia, boa tarde, boa noite; rezemos todos os dias por essas pessoas; não falemos mal dos inimigos, sobretudo a quem nos vier falar mal deles; sejamos capazes, alguma vez, de dar sem esperar nada em troca, de perdoar a quem não merece, de fazer o bem sem olhar a quem. Fazer assim, só em modo XPTO.
3. De resto – queridos irmãos e queridas irmãs – fazer bem a quem nos faz bem, que graça é que isso tem?!