HOMILIA NA COMEMORAÇÃO DE FIÉIS DEFUNTOS 2025
Surpreendidos pela Esperança
1.Nada mais certo na nossa vida, que a nossa morte! A morte é a mais previsível e a mais dura das realidades humanas, porque nos põe e expõe, diante do limite dos nossos limites, enquanto criaturas frágeis, que vêm da terra e ao pó voltarão. Por isso, a tentação é negar, iludir, esconder ou despachar a morte. Apesar do aumento da esperança média de vida, todos sabemos que morreremos! No entanto, mesmo quando contamos com a morte, de um familiar, de um amigo, de um doente, de um moribundo, a morte continua a ser uma surpresa para nós, porque a luta continua e porque “enquanto há vida há esperança”, nem que seja a esperança irracional de uma cura, de um milagre; nem que seja a esperança curta de mais um minuto, de mais um dia, de mais um mês ou de mais um ano de vida. Ninguém está verdadeiramente preparado para a sua morte ou para a morte de um ente querido. A morte chega e quebra, de repente, o fio da normalidade da vida. Por isso, por mais doente e idosa que esteja a pessoa, quando chega a sua hora, somos sempre apanhados pela surpresa da ausência, do frio e do silêncio. A morte, mesmo esperada, confronta-nos sempre com a humildade e a humilhação da nossa própria fragilidade! Ensina-nos que a vida não é uma propriedade, que gerimos, seguramos ou asseguramos para sempre, neste mundo, mas um dom de Deus que, a qualquer momento, nos chamará a Si, para ir ao seu encontro, sem disfarces, sem biombos. Faz-nos bem pensar que a nossa vida terá um fim, para poder ter o seu acabamento. A surpresa da morte serve para nos acordar para o essencial da vida e para despertar em nós a esperança silenciosa daquela vida que nunca mais acabará, daquela vida cuja plenitude nós não estamos sequer capazes de esperar e imaginar. Sim, a morte surpreende-nos na nossa distração e na nossa presunção de eternidade terrena! Mas ela não é o fim da história. Não é um ponto final. Quando muito, porque nos surpreende, é um ponto de interrogação ou um ponto de exclamação! É bom esperar em silêncio a salvação do Senhor!
2. Mas nós não somos apenas surpreendidos pela morte. A surpresa maior da história da humanidade, o acontecimento mais surpreendente, jamais possível e passível de ser esperado ou imaginado, é a Ressurreição de Cristo. Os discípulos de Jesus, que esperavam tudo d’Ele, não esperavam nada a Sua Ressurreição, por isso, desertaram da Cruz, escondidos, desanimados e sem esperança. As mulheres, que foram ao sepulcro na manhã do primeiro dia da semana, para ungir um corpo morto, foram surpreendidas pelo túmulo aberto e pela voz de dois homens com vestes resplandecentes, que lhes anunciavam: «Porque buscais entre os mortos Aquele que está vivo? Não está aqui: ressuscitou». Se a morte é a surpresa da rutura, a Ressurreição de Jesus é a surpresa da promessa anunciada e cumprida, que inverte toda a lógica humana. Pedro voltou para casa admirado, com o que tinha sucedido. Esta surpresa é a nossa certeza: para aqueles que morreram em Cristo, a sua última surpresa não será o frio da sepultura, mas o abraço caloroso e ressuscitador do Pai. A morte de Cristo abriu-nos a porta para o encontro, para o banquete eterno, onde, em que Deus "eliminará para sempre a morte e enxugará as lágrimas em cada rosto" (Is 25, 8).
3. Irmãos e irmãs: surpreendidos pela Esperança da nossa morte e ressurreição em Cristo, unamo-nos em oração e em comunhão a todos os que partiram antes de nós. Pela nossa oração de sufrágio, vivemos a nossa comunhão em Cristo e vamos em auxílio daqueles que já partiram para que alcancem a felicidade plena, na presença de Deus e na companhia dos santos. Que a certeza da maior surpresa – a Ressurreição – nos ajude a não desperdiçar a vida, mas a orientá-la para cima e a fazer dela uma obra-prima, uma oportunidade irrepetível de amar. Que a surpresa da morte nos recorde a brevidade da vida e que a esperança e certeza da Ressurreição nos inspire a preparar-nos para a surpresa maior: a de estarmos para sempre com o Senhor e gozarmos da beleza do seu amor!
Seremos nós ainda capazes de surpreender e de nos deixarmos surpreender, por esta grande esperança que tem a sua âncora no Céu?!