Homilia na Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus 2025
1. Salve 2025, Ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo!Desde que chegou a plenitude dos tempos, quando Deus enviou o Seu Filho, nascido de uma Mulher (Gl 4,4-7), o tempo deixa de ser cronometrado por um deus devorador, para se tornar, em cada instante, uma graça, uma bênção, uma chance, uma possibilidade, uma oportunidade oferecida por Deus. A história da humanidade, inteiramente grávida de Cristo, deixa de ser vista como um círculo fechado de eterno retorno, para se tornar um caminho aberto de esperança, em direção à plenitude da Vida, que nos é oferecida por Deus. Cada novo ano é, por isso, vivido pelos cristãos, como Ano da graça e como graça de mais um ano. E este ano de 2025 será ainda mais vivido como «Ano da graça», por se tratar de um Ano Jubilar. A Igreja celebrou o primeiro jubileu em 1300. E, desde os meados do século XV, celebra ordinariamente, um Ano Jubilar, de 25 em 25 anos. De onde vêm o espírito e o sentido deste Ano Jubilar?
2.Este sentido é manifesto em Jesus, quando Ele Se apresenta como Messias, na sinagoga de Nazaré. Ali Jesus proclama e faz acontecer o Ano da Graça do Senhor (Lc 4, 18-19; Is 61,1-2). Jesus cumpre, para todos e para todo o sempre, a grande esperança, que cada jubileu trazia ao povo de Israel, que o celebrava de 50 em 50 anos (Lv 25,2-22). A celebração do jubileu, entre os hebreus, estava associada a gestos libertadores, como o perdão das dívidas, a libertação dos escravos, a restituição dos bens penhorados, o repouso e o resgate das terras. O Jubileu tinha, na raiz da palavra yobel, a ideia de um anúncio festivo ao som da trombeta, mas também continha a ideia de trazer de volta algo que se perdera, a reposição da justiça. E a Igreja herdou este costume, fazendo, de 25 em 25 anos, a celebração de um Ano Santo, um Ano Jubilar. Quis o Papa Francisco que este Ano Jubilar de 2025 fosse uma porta aberta de esperança, em gestos concretos, como por exemplo, o perdão dos pecados e da dívida financeira aos países pobres, com quem os países ricos contraíram uma dívida ecológica; a criação de um fundo global para acabar de vez com a fome e o fim da pena de morte em todas as nações (SNC, n.º 16; MDMP 2025, n.º 11). Podemos replicar, na nossa vida pessoal, familiar, paroquial, laboral e social, estes grandes apelos: desarmando o nosso coração, com o perdão das ofensas recebidas; franqueando as portas de nossa casa, para acolher quem mais precisa; fazendo as pazes com alguém que nos magoou; abrindo mão dos nossos direitos à devolução de dinheiro emprestado ou de juros, perdoando dívidas, que outros tenham contraído connosco. Podemos traduzir estes grandes apelos, em coisas tão simples, como «um sorriso, um gesto de amizade, um olhar fraterno, uma escuta sincera, um serviço gratuito» (SNS 18; MDMP2025, n.º 11).
3.Irmãos e irmãs: o Ano da graça abre a sua porta em janeiro. No paganismo romano, este mês era consagrado ao deus Janus. A figura de Janus estava associada à imagem da porta, com duas faces, de entrada e de saída. Ora – vale a pena dizê-lo – um dos sinais mais expressivos do Jubileu é a abertura da Porta Santa. Para nós, esta Porta é Cristo. Jesus, o Verbo eterno de Deus feito homem. Ele é a Porta escancarada, que somos convidados a atravessar. Ele é a Porta da salvação, que o Pai misericordioso abriu, para que todos possamos voltar para Ele. Hoje mesmo tem lugar, em Roma, a abertura da Porta Santa da Basílica de Santa Maria Maior. Com a abertura da Porta Santa, é-nos dito a todos e a cada um: “Há esperança para ti; há esperança para cada um de nós. Deus perdoa tudo; Deus perdoa sempre. Regressemos ao coração que nos ama e perdoa! Não é necessário bater à porta! Não fiquemos à soleira da porta. Tenhamos a coragem de a atravessar, de dar um passo adiante, de deixar para trás contendas e divisões, para nos abandonarmos nos braços abertos do Menino, que é o Príncipe da Paz” (Papa Francisco, Homilia, 24.12.2024).
4.Vivamos este Ano jubilar, como peregrinos e portadores de esperança, levando esta esperança, em gestos concretos, aonde ela se perdeu: onde a vida está ferida e ameaçada; nas expectativas traídas; nos sonhos desfeitos e nos fracassos que despedaçam o coração dos nossos jovens, sem emprego ou sem trabalho estável; no cansaço de quem já não aguenta mais; na solidão amarga de quem se sente derrotado; no sofrimento que consome a alma; nos dias longos e vazios dos presos; nos aposentos estreitos e frios dos pobres; nos lugares profanados pela guerra e pela violência (cf. Papa Francisco, Homilia, 24.12.2024). Não nos demoremos a levar esta esperança. Caminhemos numa esperança que não se cansa. Não abrandemos o passo. Como os pastores, vamos apressadamente, dispostos a oferecer sinais de esperança, sobretudo a quem mais precisa.
5.Por último, este dia, que é o primeiro do ano civil e Dia Mundial da Paz. Todos desejamos a todos o melhor possível e se tivéssemos de resumir tudo, diríamos simplesmente que desejamos a Paz. Mas nenhum de nós imagina o que o espera em 2025. Mas sabemos todos Quem nos espera sempre, de portas e braços abertos. Abracemos, em esperança, o novo ano, sim, mas sem a ilusão de dias fáceis. O confronto diário com as más notícias apagarão depressa esta luz artificial do tempo do Natal. Por isso, todos os dias e em cada dia do ano, saibamos pôr a nossa esperança somente em Cristo, e não nas expetativas e previsões, mais ou menos otimistas dos analistas. Permaneçamos ancorados na esperança segura de que Jesus, o Emanuel, está connosco e caminha no meio de nós. Só esta esperança, que não se cansa, poderá ajudar-nos a resistir à prova de fogo da desesperança e a confrontarmo-nos com ela, em todos os dias do novo ano de 2025. Começámo-lo bem, no colo da Mãe de Deus, Mãe da Igreja e nossa Mãe. Que Maria nos reconduza a Jesus. É Ele a Estrela do caminho deste Povo peregrino. Na graça de um novo ano, a todos desejo um Feliz Ano Jubilar de 2025! Comece em mim e em ti a mudança. Somos todos Peregrinos de esperança!