Homilia na Festa da Sagrada Família C 2024 – forma mais longa
1. Está aberta, desde a noite de Natal, a Porta Santa do Jubileu do ano 2025, que viveremos sob o lema “Peregrinos de esperança”. Gostaria, por isso, de contemplar a Sagrada família, e a partir dela, cada família sagrada, como comunidade de vida e de amor, que peregrina, caminha e cresce na esperança. A Sagrada Família é, na verdade, uma família de peregrinos. Vemo-la, pequenina família peregrina, marido e esposa, sem lugar para o parto do Filho Unigénito, na pequena cidade de Belém. Vemo-la peregrina de esperança, 40 dias depois, na apresentação do Menino Jesus no Templo, que ali é recebido de braços abertos, pelos anciãos Simeão e Ana, que há muito esperavam a consolação de Israel (Lc 2,25) e a libertação de Jerusalém (Lc 2,38). Vemo-la, peregrina de esperança, emigrantes ilegais, na fuga para o Egito (Mt 2,13-14). E já depois do regresso a Nazaré, o Evangelho de hoje (Lc 2,41-52) dá-nos conta do costume de ir todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa. Jesus, Maria e José integram-se neste povo santo de Deus, um povo peregrino. Não caminham sozinhos, isolados, sabem que não podem educar o seu filho sozinhos; precisam de uma sociedade, de uma escola, de uma comunidade, com a qual caminham de mãos dadas, como verdadeiros peregrinos de esperança!
2. Mas esta família, não é peregrina de esperança apenas quando se dirige ao Templo de Jerusalém! É uma família, peregrina de esperança, dentro de casa e da vida quotidiana; é uma família que conhece as aflições, as dúvidas, as sombras e as surpresas do caminho. Em momentos sombrios, aprendem a esperar e a confiar em Deus, ancorados apenas no «sim» fiel do Seu amor primeiro. Eles caminham, esperando, dia a dia, com toda a paciência, o crescimento e a revelação d’Aquele Menino que lhes foi prometido, dado e confiado como Filho do Altíssimo. Como qualquer pai e mãe de família, Maria e José sonham um futuro risonho para o seu filho Jesus e, por isso, sentem-se completamente “perdidos”, quando, nos inícios da adolescência, o veem centrado na vontade do Pai celeste mais do que nas preocupações dos pais terrenos. Maria e José conhecem, pois, a aflitiva perda do filho adolescente e sofrem silenciosamente com a “resposta seca” de Jesus, que, de todo, por certo, não compreenderam. Precisarão de tempo, para conhecer o seu filho Jesus. Maria guardava todas estas coisas no seu coração e «aguardava em jubilosa esperança» a Hora da manifestação de Jesus, como Filho de Deus. Ela seguiu à risca aquele ditado argentino, que nos pode ajudar a todos em momentos sombrios: “Espera até que tudo se esclareça”. Esta não é uma família com anjinhos de piquete! Não. É uma família, que segue em frente, na mesma direção. Jesus, Maria e José convergem na mesma meta: a comum obediência à vontade do Pai!
3. Assim é e assim há de ser também connosco: aprende-se a ser família, todos os dias. Todos os dias, em família, é preciso aprender a ouvir-se e a compreender-se, a caminhar juntos, a enfrentar conflitos e dificuldades, a saber esperar pela hora certa, a encontrar os modos adequados de dizer as coisas mais duras, para alcançar a harmonia e a paz em casa. Este é um desafio diário, que se vence com pequenas atenções, com gestos simples de carícia e de perdão, com um diálogo atento e paciente, cuidando de todos os detalhes do amor, nas relações entre marido e esposa, entre pais e filhos, entre jovens e anciãos! Dizia-me há dias uma filha, a respeito do pai, que lhe tinha acabado de morrer: “o meu pai teve um AVC há 12 anos, que o limitou muito e alguns achavam que uma vida assim já não valia a pena; mas valeu: o meu pai amadureceu muito na sua fragilidade; viu nascer, ao longo destes anos, quatro netos e, ainda há poucos dias, continuava a desenhar e a sonhar a construção de uma casa, que fosse «o refúgio da família», porque – dizia ele– «uma família unida é o Paraíso na Terra»”.
4. Fiquei a pensar nesta imagem da família, como «Paraíso na terra» e pensei que essa é a meta da nossa esperança, para a qual todos os dias é preciso caminhar. Não há, de facto, neste mundo, famílias perfeitas, não há famílias «cinco estrelas»; há famílias em caminho, em construção, em reparação, algumas sob o risco de derrocada, se não cuidarem a tempo dos alicerces e das feridas. E, então, nas exéquias, quis recordar àquela família de arquitetos, as palavras do Papa Francisco: “Gosto da imagem de uma família que habita uma casa de quatro andares, com crianças, jovens, adultos e idosos a viverem juntos: mas, por vezes, parece que não há comunicação ou diálogo entre os inquilinos de cada andar. Ora, a nossa tarefa é construí-los” (Papa Francisco, A esperança nunca desilude, 123).Sim, sejamos empreendedores de sonhos, construtores de esperança.
5.Queridas famílias: é um sinal revolucionário de esperança ver um jovem formar uma família, no meio da cultura reinante do provisório e do relativo. É um sinal de esperança, apesar das chamadas «novas famílias», esta nostalgia do coração humano por um pai e por uma mãe, por irmãos e irmãs, por avôs e avós, este sonho de uma família unida e reunida, refúgio de amor e de paz, sobretudo quando não a temos! Sejamos capazes de dar rosto a esta esperança e de lutar por ela, mesmo no meio de dificuldades e sofrimentos. “Avancemos, continuemos a caminhar; não percamos a esperança, por causa dos nossos limites, mas também não renunciemos a procurar a plenitude de amor e de comunhão, que nos foi prometida” (AL 325).
6.Irmãos e irmãs: Cuidemos da nossa família, desde as raízes dos mais velhos aos rebentos dos mais novos, na certeza de que «uma família unida é o Paraíso na Terra»! Porque não o será já… seja, pelo menos, a nossa família uma semente de paz, um rosto de esperança, num mundo novo e renovado pelo amor! Peregrinos de esperança, seja Jesus, a Estrela do Natal, a Estrela da nossa família!
Homilia na Festa da Sagrada Família C 2024 – forma mais breve
1.Está aberta, desde a noite de Natal, a Porta Santa do Jubileu do ano 2025, que viveremos sob o lema “Peregrinos de esperança”. Gostaria, por isso, de contemplar a Sagrada família, e a partir dela, cada família sagrada, como comunidade de vida e de amor, que peregrina, caminha e cresce na esperança. A Sagrada Família é, na verdade, uma família de peregrinos. Vemo-la, pequenina família peregrina, marido e esposa, sem lugar para o parto do Filho Unigénito, na pequena cidade de Belém. Vemo-la peregrina de esperança, 40 dias depois, na apresentação do Menino Jesus no Templo, que ali é recebido de braços abertos, pelos anciãos Simeão e Ana, que há muito esperavam a consolação de Israel (Lc 2,25) e a libertação de Jerusalém (Lc 2,38). Vemo-la, peregrina de esperança, emigrantes ilegais, na fuga para o Egito (Mt 2,13-14). E já depois do regresso a Nazaré, o Evangelho de hoje (Lc 2,41-52)dá-nos conta do costume de ir todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa. Jesus, Maria e José integram-se neste povo santo de Deus, um povo peregrino. Não caminham sozinhos, isolados, sabem que não podem educar o seu filho sozinhos; precisam de uma sociedade, de uma escola, de uma comunidade, com a qual caminham de mãos dadas, como verdadeiros peregrinos de esperança!
2.Mas esta família não é peregrina de esperança apenas quando se dirige ao Templo de Jerusalém! É uma família, peregrina de esperança, dentro de casa e da vida quotidiana; é uma família que conhece as aflições, as dúvidas, as sombras e as surpresas do caminho. Em momentos sombrios, aprendem a esperar e a confiar em Deus, ancorados apenas no «sim» fiel do Seu amor primeiro. Eles caminham, esperando, dia a dia, com toda a paciência, o crescimento e a revelação d’Aquele Menino que lhes foi prometido, dado e confiado como Filho do Altíssimo. Como qualquer pai e mãe de família, Maria e José sonham um futuro risonho para o seu Jesus e, por isso, sentem-se completamente “perdidos” com a aflitiva perda do filho adolescente. Sofrem silenciosamente com a “resposta seca” de Jesus, que, de todo, por certo, não compreenderam. Precisarão de tempo, para conhecer o seu filho Jesus. Maria guardava todas estas coisas no seu coração e «aguardava em jubilosa esperança» a Hora da manifestação de Jesus, como Filho de Deus. Ela seguiu à risca aquele ditado argentino, que nos pode ajudar a todos em momentos sombrios: “Espera até que tudo se esclareça”. Esta não é uma família com anjinhos de piquete! Não. É uma família, que segue em frente, na mesma direção. Jesus, Maria e José convergem na mesma meta: a comum obediência à vontade do Pai!
3.Assim é e assim há de ser também connosco: aprende-se a ser família, todos os dias. Todos os dias, em família, é preciso aprender a ouvir-se e a compreender-se, a caminhar juntos, a enfrentar conflitos e dificuldades, a saber esperar pela hora certa, a encontrar os modos adequados de dizer as coisas mais duras, para alcançar a harmonia e a paz em casa. Este é um desafio diário, que se vence com pequenas atenções, com gestos simples de carícia e de perdão, com um diálogo atento e paciente, cuidando de todos os detalhes do amor, nas relações entre marido e esposa, entre pais e filhos, entre jovens e anciãos!
4.Irmãos e irmãs: Não há, de facto, neste mundo, famílias perfeitas, não há famílias «cinco estrelas»; há famílias em caminho, em construção, em reparação, algumas sob o risco de derrocada, se não cuidarem a tempo dos alicerces e das feridas. “Avancemos, continuemos a caminhar; não percamos a esperança, por causa dos nossos limites, mas também não renunciemos a procurar a plenitude de amor e de comunhão, que nos foi prometida” (AL 325). Peregrinos de esperança, seja Jesus, a Estrela do Natal, a Estrela da nossa família!