Liturgia e Homilias no 4.º Domingo do Advento C 2024
Destaque

Nestes dias, em que os mais pequeninos (as crianças e os pobres) são os destinatários das prendas e das maiores atenções do Natal que se aproxima, é bom não perder de vista o caminho para Belém, pois Jesus é a “Estrela que guia o meu coração; é a Estrela que ilumina o meu chão”. Neste caminho, deixemo-nos guiar pela esperança, essa virtude-menina, a exemplo de Maria, a Virgem Peregrina. Ela percorre um caminho de gestação e de esperança, pois leva no seu seio o Menino Deus, que Se faz Homem, fonte da nossa esperança. Com o Seu exemplo, a Virgem Maria incita-nos a sairmos de casa, da nossa zona de conforto, para levarmos às periferias do nosso mundo, aos mais sós e distantes, a Esperança do mundo, Cristo, nosso Senhor.

Homilia no IV Domingo do Advento C 2024

1. A poucos dias do Natal, depois da grande esperança, deixemo-nos agora guiar pela esperança-pequenina, à imagem da Virgem peregrina. A primeira obra de Maria, grávida, «mulher de esperanças», é uma viagem, é uma peregrinação, uma saída de si mesma. Ao partir de viagem, de norte a sul, atravessando as agrestes montanhas da Judeia, Maria não consulta os medos, mas persegue os seus sonhos; não se aquieta; levanta-se e segue em frente. Maria, arca da aliança, leva Jesus, Seu tesouro, leva dentro da sua vida uma outra vida. Bem vistas as coisas, Maria caminha impelida pela alegria da fé e pela urgência da caridade. Mas quem puxa a fé e a caridade é a esperança, essa tal virtude-menina. “É Ela, a pequenita, que arrasta tudo. É a esperança que faz caminhar a fé e a caridade” (Charles Péguy), como uma criança, que puxa pelos braços do pai e da mãe; é a esperança que puxa pela fé e pela caridade, para não as deixar paralisar no medo ou no êxtase. É a esperança que nos faz caminhar em saída, que faz de nós peregrinos de esperança!

2. Mas a esperança não é só a tal virtude-menina. É também a virtude dos mais pequeninos e dos mais pobres. Vejamos, por exemplo, a escolha de Belém, a mais pequena entre as cidades de Judá, para se tornar a cidade do nascimento do Salvador. Para entrar no mundo, Deus teve necessidade dos mais pobres: de Maria, de José, dos Pastores. Na noite do primeiro Natal, havia um mundo que dormia, acomodado em tantas certezas adquiridas. Mas, em segredo, os humildes preparavam a revolução da bondade e da ternura. Eram homens e mulheres totalmente pobres; alguns flutuavam pouco acima do limiar da sobrevivência, mas eram ricos do bem mais precioso que existe no mundo, ou seja, a vontade de mudança (Papa Francisco, Audiência, 27.09.2017). Nesse sentido, os pobres são os primeiros portadores de esperança!

3. Irmãos e irmãs: a esperança não é uma virtude para pessoas de barriga cheia! Quem se fecha no seu próprio bem-estar não conhece a esperança: só espera no seu bem-estar, e isto não é esperança, mas segurança individualista; quem se fecha na bolha da sua própria satisfação, já não espera mais nada. Ter tudo na vida é realmente uma desventura, porquanto significa, muitas vezes, ter uma alma vazia! E esse é o pior obstáculo para a esperança. Pensemos num jovem, ao qual não foi ensinada a virtude da espera e da paciência, que não teve de suar e lutar por nada e agora já não espera coisa nenhuma. Fechou a porta aos desejos, aos sonhos, à esperança. Pelo contrário, quem espera, quem deseja a mudança, são aqueles que experimentam em cada dia a provação, a precariedade e o próprio limite. São os pobres,  sem trabalho digno, cujo grito de miséria é um clamor de esperança; são os pobres arrumados como lixo para não desclassificar as nossas zonas e condomínios de luxo; mas são também os pobres da classe média, os novos pobres, “aqueles que têm de se sacrificar mais para fazer face às despesas, aqueles que têm de pagar rendas muito elevadas, enquanto veem o preço dos alimentos e dos serviços públicos aumentar; aqueles que não conseguem poupar, aqueles que talvez deixem os seus filhos numa situação pior do que aquele que receberam” (Papa Francisco, A esperança nunca desilude, p. 56).

4. Estamos a três dias do Natal. Sejamos “sinais palpáveis de esperança para muitos irmãos e irmãs que vivem em condições de dificuldade” (SNC, 10). As nossas viagens de Natal sejam autênticas peregrinações de esperança, saídas de nós mesmos ao encontro dos mais pobres, sem esperarmos que nos batam à porta. Não nos limitemos, porém, a fazer dos pobres os destinatários do nosso voluntariado ou de uma recolha anual de bens. Quantas vezes o faremos apenas para conforto da nossa má consciência?! Ajudar os outros não é dar o que sobra. A mudança não acontecerá se nos limitarmos a trabalhar para os pobres ou com os pobres. Se queremos ser peregrinos de esperança, sejamos capazes de abrir novos caminhos, para que sejam eles próprios, os pobres, protagonistas da mudança!

5. Irmãos e irmãs: os mais pequeninos e os mais pobres são rostos da esperança, que me interpelam, neste caminho para Belém, em que Jesus é a Estrela e eu sou o peregrino. Os pobres não podem esperar! De que estamos nós à espera?!

 

 

 

 

 

 

 

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