Homilia no III Domingo do Advento C 2024
“Todo o povo estava na expetativa
e pensavam em seus corações se João Batista não seria o Messias” (Lc 3,15)!
1.Eis um povo em expetativa, um povo oprimido, que espera ansiosamente a vinda do Messias, o Salvador Prometido. Esperar é próprio do ser humano, que traz em seu coração o desejo da felicidade, da vida melhor e da vida maior. Porém, cada um, vai embrulhando essa esperança do Messias, com papel a seu gosto: uns esperavam-no um Deus todo-o-terreno, que iria pôr tudo em pratos limpos; outros esperavam-no um rei corajoso, capaz de pôr fim ao domínio romano. João Batista não os ilude nas suas expetativas. Ele não é o Messias. Por isso, toda a expetativa, que ardia nos seus corações, não podia ser posta nele (em João Batista), nem em qualquer sacerdote, profeta, rei ou reino deste mundo!
2. Apetece-nos perguntar: e nós, somos apenas um povo na expetativa, mais ou menos otimista quanto a um futuro a curto prazo? Ou somos peregrinos de esperança, com metas altas e largos horizontes? É verdade, que, no correr dos dias, temos muitas esperanças: há a pequena esperança na conquista de uma vida melhor, de uma melhoria no estado de saúde, de um êxito profissional, de encontrar um grande amor na vida. Mas quando estas esperanças se realizam, resulta, com clareza, que nada disto era ainda a nossa esperança (cf. Spe salvi, n.º 30), como a criança, que, às vezes, depressa abandona o brinquedo que esperou ansiosamente receber de presente. A grande esperança vem ao de cima, precisamente quando as pequenas esperanças já se realizaram ou, pior, quando não passaram de ilusões, que se diluíram na dura realidade da vida, como a espuma das ondas na rocha da praia. Precisamos, então, da âncora de uma grande esperança, que vá mais além do que qualquer coisa que esta vida nos possa prometer ou oferecer. Só algo de infinito, de pleno, de eterno, de divino, nos pode bastar!
3. Sim. Precisamos das esperanças – menores ou maiores – que, dia após dia, nos mantêm a caminho, como peregrinos de esperança. Mas a grande esperança, que dá sentido à vida – tem de ser posta em Deus. Só Ele nos pode dar aquilo que, sozinhos, não podemos alcançar. Deus é o fundamento desta nossa esperança maior, a esperança de uma alegria maior, a esperança de uma vida eterna. E não se trata de um deus qualquer, mas de um Deus de rosto humano, que Se revelou em Jesus Cristo e que nos amou até ao fim (cf. Spe salvi, n.º 31). Sem Cristo, estaremos sempre “sem Deus e sem esperança neste mundo” (Ef 2,12): cheios de tudo, mas vazios; fartos de tudo, mas não saciados; divertidos, mas sem profunda alegria!
4. É para essa grande esperança, acima de toda a expetativa, que aponta João Batista. Para a alcançar, é preciso dilatar o coração, alargar os horizontes, altear até ao céu a meta da nossa vida, “uma meta tão grande que justifique a canseira do caminho” (Spe salvi, n.º 1). Esta esperança não se confunde, pois, com a ilusão de que vai correr tudo bem, mas vem desta confiança: aconteça o que acontecer, não me vou desmoronar (cf. 2 Cor 4,16), posso sempre contar com Deus que está ao meu lado, um Deus Crucificado e não um Deus de varinha mágica, para resolver os problemas da vida. A grande esperança tem no horizonte um Deus, que me criou sem mim, mas não me salvará sem mim! Há de começar em mim a mudança que espero ver no mundo!
5.Que devemos então fazer, para que a nossa esperança individual se torne esperança para os outros? Ofereçamos sinais de esperança: partilhemos mais que as sobras, para revestir de dignidade quem não tem o essencial; pratiquemos a justiça com o olhar misericordioso do coração; vençamos a espiral diabólica da violência, com as armas do diálogo, da reconciliação e do perdão.
6.Irmão e irmãs: não deixemos que a expetativa para este Natal seja apenas a de uma boa prenda ou a de uma boa mesa. Mas a íntima certeza de que, em Cristo, fomos todos salvos em esperança (Rm 8,24)!
Oração no final da Homilia
P. Caminhemos nesta esperança, diante do Senhor, dizendo-lhe, em cada noite ou em cada dia:
Três crianças da Catequese:
Tu és a Estrela que guia o meu coração.
Jesus, Tu és a Estrela, que ilumina o meu chão.
Jesus, Tu és a Estrela e eu – de coração tão pequenino –
sou da esperança apenas peregrino!