Homilia na Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo B 2024
Partilhar o pão, alimentar a esperança. Reconheceram-n’O ao partir do Pão. Este é o tema do 5.º Congresso Eucarístico Nacional, a decorrer em Braga, entre os dias 31 de maio e 2 de junho. Tomemos hoje estas palavras, como guia da nossa Homilia. Comecemos precisamente pela última frase:
Reconheceram-no ao partir do Pão (Lc 24, 35)!
Os discípulos de Emaús não reconheceram Jesus Ressuscitado, através da luz dos seus olhos, que estavam tristes e embaciados. Foi Jesus que, num gesto muito Seu, o de partir o pão, lhes abriu os olhos da fé, para O reconhecerem. Era, na verdade, para eles, mais fácil reconhecer Jesus, por aquele sinal, por aquele jeito, por aquele gesto tão tipicamente Seu, que lhes ficou gravado para sempre, desde a Ceia derradeira. Tal foi a marca impressa por este gesto de Jesus, que a “Fração do Pão” se tornou o primeiro nome da Eucaristia. Os primeiros cristãos, fiéis ao mandato de Jesus – «Fazei isto em memória de Mim» – “eram assíduos à fração do pão” (At 2,42)!
Partilhar o Pão
Esta fração do pão, gesto eucarístico por excelência, pelo qual Jesus Se revelou aos discípulos de Emaús, tem de ser também hoje a marca, o gesto típico dos cristãos, para revelar Cristo a tantas pessoas anónimas, “com uma bilha de água” na mão, sinal da sua sede infinita de Deus. Não podemos partir o Pão eucarístico, na Eucaristia, se não partilharmos, com os outros o pão quotidiano, o pão da cultura, o pão do essencial. Aos pobres deste mundo, já não lhes bastam belas palavras para lhes fazer arder o coração. É com as mãos abertas, que repartem o pão de cada dia, que podemos alcançar a graça dos olhos abertos da fé, aos que perderam a esperança!
Alimentar a esperança.
Sim. A Eucaristia alimenta a esperança. Como? De muitos modos e, pelo menos, em dois sentidos:
Em primeiro lugar, a Eucaristia alimenta a esperança de um mundo melhor, porque nos transforma n’Aquele que comungamos. Recebemos no Pão eucarístico o alimento e a força para transformar o mundo, tornando-nos, nós próprios, pão partido e repartido, sangue e vida dada e sacrificada pelos outros. Num mundo dilacerado por divisões e egoísmos, cercado por muros, a Eucaristia chama-nos a subir ao andar superior, à sala grande; isto é, a Eucaristia eleva-nos acima dos nossos interesses individuais, pede-nos um coração grande, capaz de convidar, acolher e incluir a todos. A Eucaristia, fazendo-nos sentar à mesma mesa da Palavra e do Pão da Vida, faz-nos companheiros, pessoas que partilham um único Pão. A Eucaristia converte-nos em irmãos, porque faz correr nas nossas veias o mesmo Sangue de Cristo e assim é terapia para a nossa fraternidade, ferida pelo sangue da violência. Vede: nas orações e nos gestos da Eucaristia, ressoa sempre o «nós» e não o «eu». O fermento desta transformação do «eu» em «nós», desta saída de nós mesmos, atuante na Eucaristia, é uma força de esperança, na construção de um mundo aberto, um mundo de irmãos!
Em segundo lugar, a Eucaristia alimenta também a nossa esperança nos novos céus e na nova terra. Ela dá-nos um “Pão vivo descido do Céu” (Jo 6,51). É o Pão do futuro, que já agora nos faz saborear um futuro infinitamente maior do que as mais risonhas expetativas. É o Pão que sacia os nossos maiores anseios e alimenta os nossos mais belos sonhos. Sempre que comemos deste pão e bebemos deste Sangue, anunciamos a Morte e a Ressurreição do Senhor «até que Ele venha» (1 Cor 11,26), «até ao dia» – do qual disse Jesus – «em que beberei do vinho novo no Reino de Deus» (Mc 14,25). A Eucaristia é a nossa «reserva» de uma mesa no banquete celeste, na sala superior do Paraíso: “Quem comer deste Pão, viverá eternamente” (Jo 6,58).
Irmãos e irmãs: Partilhar o Pão, alimentar a esperança. Vivamos esta dupla graça e esta dupla missão, com que correspondemos ao dom imenso da Eucaristia, pois – como reza a Sequência deste dia – «aos mortais dando comida, dais também o Pão da Vida. Que a família assim nutrida, seja um dia reunida, aos convivas lá do céu”.