Homilia na Ascensão do Senhor B 2024 – 1.ª opção
1.Pés na terra e olhos fitos no Céu. Lá no alto, Jesus. Sem a estreiteza do espaço, sem os limites do tempo. Cá em baixo, a Igreja: chamada a ir por toda a parte e a caminhar até ao fim dos tempos. Lá em cima, a Cabeça: Cristo, Senhor do Mundo e da História. Cá em baixo, o seu Corpo: a Igreja, Serva dos Homens e do Reino de Deus em cada tempo. Numa palavra, na sua Ascensão Jesus parte para ficar. E junto do Pai intercede por nós. E nós ficamos para partir e jamais para O substituir, na certeza de que Ele coopera connosco até ao fim dos tempos. Com os pés na terra e de olhos fitos no Céu, a Ascensão do Senhor diz-nos que chegou o nosso tempo, é agora nossa vez de «ir por todo o mundo, e pregar a Boa Nova a toda a criatura».
2.A Ascensão do Senhor é, por assim dizer, o dedo indicador de Jesus a atirar o nosso olhar para cima, a elevar o nosso espírito para as alturas do Eterno, a mostrar-nos a meta última do nosso crescimento humano e cristão, a meta da santidade. «Elevando-se à nossa vista», Ele ilumina os olhos do nosso coração, para compreendermos a esperança a que somos chamados, desafia-nos a caminhar de cara levantada, peito cheio do sopro do Espírito e cabeça erguida. É um exercício fundamental este de «olhar para o Alto», de contemplar Jesus, de olhar o Homem Novo, para que a nossa vida tenha largos horizontes, raízes fundas e desejos profundos... e assim aspiremos a crescer para Ele, «até que cheguemos todos ao estado de homem perfeito, à medida de Cristo na sua plenitude» (Ef 4,13).
3.Somos chamados a crescer interiormente, para que todo o Corpo da Igreja se configure à sua Cabeça, Jesus Cristo. Se n’Ele tudo já se cumpriu, se n’Ele o Corpo da nossa Humanidade já atingiu o seu máximo e o seu melhor... a verdade é que em nós tudo deve ainda cumprir-se. E por isso, há que vencer a lei da gravidade, que sempre nos atira para o chão, e seguir a atração pelas alturas. Este apelo da Ascensão, a crescer por dentro e para cima, a subir mais alto e mais longe, é para todos:
3.1.A Ascensão do Senhor é um apelo para os pais, para os catequistas, para os educadores: educar é «puxar para cima», não é ceder ao básico, não é conceder ao instinto, não é deixar fazer tudo o que apetece, não é deixar levar-se pela corrente ou pela onda... Educar é fazer brotar e frutificar o que há de melhor dentro de cada pessoa. Importa, por isso, educar, não apenas para competências práticas, funcionais, digitais, de inteligência artificial, mas para a desenvoltura da mente e do pensamento crítico, para a sabedoria do coração e para o domínio da vontade, para a oferta e para a descoberta do sentido último da vida: trata-se de educar para uma grande esperança, para uma vida que se eleva e transcende, precisamente na entrega a outras vidas.
3.2.A Ascensão do Senhor é um apelo para as crianças, adolescentes e jovens: ascender não significa subir de posto, ser mais importante, ser mais que os outros, mas querer ser mais para servir melhor, sem ceder à tentação do mais fácil, do rendimento mínimo e da lei do menor esforço. Procurai muito mais do que o imediato; buscai o sentido último e a beleza na vossa vida, frequentai os encontros da Catequese, a vida dos grupos paroquiais, as aulas de Educação Moral e Religiosa Católica, os tempos de convívio e de oração, sempre na alegria do serviço e da festa.
3.2.A Ascensão é também apelo a crescer na fé, a não se contentar com a “primeira comunhão” ou “a comunhão solene”, a não se limitar a “fazer o crisma” ou a cumprir o preceito dominical, a não se descartar dos compromissos comunitários, a não se isolar no caminho da fé. Cresçamos todos juntos, na escuta da Palavra, na participação fiel da Eucaristia, no compromisso com a Paróquia, no serviço às pessoas e sobretudo no testemunho corajoso da fé, nos ambientes da nossa vida.
4.O desafio que nos é feito a todos é o de crescermos na fé e no conhecimento de Jesus Cristo, o de crescemos em humanidade e santidade. Só assim, o Corpo de Cristo se edificará, até que cheguemos todos ao estado de Homem perfeito, à medida de Cristo na sua plenitude. Hoje Ele parece dizer-nos: «Crescei e aparecei. Aparecei e crescereis»!
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Homilia na Solenidade da Ascensão B 2024 – 2.ª opção (perspetiva mariana)
1.Jesus foi elevado ao Céu! Mas nem por isso estamos sós ou ficamos sós. Não estamos órfãos, nem de Pai, nem de Mãe. Cristo oferece, continuamente à sua Igreja, o Espírito Santo, a promessa do Pai, a força do alto, e podemos também contar, entre nós, e sempre, com a guia e a companhia de Maria, nossa Mãe!
2.Uma vez que celebramos liturgicamente a Ascensão do Senhor, enquanto estamos a viver estes intensos dias do mês de Maria, e em torno do «13 de maio», é oportuno perguntarmo-nos: Como viveu Maria, este precioso tempo, entre a Páscoa de Jesus e o dom do Espírito Santo, no Pentecostes? O livro dos Atos dos Apóstolos dá-nos uma indicação preciosa: os Onze apóstolos “foram para Jerusalém. Subiram para a sala de cima, no lugar onde se encontravam habitualmente. Todos unidos pelos mesmos sentimentos, entregavam-se assiduamente à Oração, com algumas mulheres entre as quais Maria, Mãe de Jesus e com os irmãos de Jesus” (At 1,12-14). A partir daqui, gostaria de recordar, em cinco pontos, como se fossem cinco mistérios do rosário, a fidelidade de Maria, que nos garante construir a Igreja de Jesus:
1.ª: Maria permanece fiel à Oração Comunitária:«Todos se entregavam assiduamente à Oração». Maria reza no seio da nova família. Reza como membro de uma comunidade. Reza com os apóstolos e os discípulos; reza com eles e por eles. A presença de Maria é por si só oração, e a sua presença entre os discípulos no Cenáculo, à espera do Espírito Santo, é orante. Eis porque a Igreja se sentiu sempre acompanhada por esta oração de Maria. Neste Ano da Oração, Maria ensina-nos, que não se pode viver a vida cristã sem o respiro da oração. Sem oração, a fé não respira e a vida da Igreja não vai bem. É pena, por exemplo, que estes dias de oração comunitária do rosário tenham tão poucos participantes! Era tão belo que nos pudéssemos reunir, em comunidade, com Maria, Mãe de Jesus e Mãe da Igreja, em oração. Porque é a oração, mais do que a força da nossa vontade, o verdadeiro motor e vigor da evangelização!
2.ª: Maria permanece fiel à escuta da Palavra.Entre a Páscoa e o Pentecostes, Maria e aqueles que o Evangelho chama de «irmãos de Jesus» estão reunidos com os apóstolos. Eles tornam-se irmãos e irmãs, pela fé e pela escuta da Palavra, entre os quais sobressai Maria, que guardou e cumpriu esta Palavra primeiro e melhor do que ninguém. Que bom seria se nos pudéssemos assemelhar um pouco a Maria: com o coração aberto à Palavra de Deus, com o coração silencioso, com o coração obediente, com o coração recetivo à Palavra de Deus, deixando-a crescer como uma semente para o bem da Igreja!
3.ª: Maria permanece fiel ao Espírito Santo: Maria, entre os Apóstolos, implorava com suas preces o dom do Espírito que, na Anunciação, já A tinha coberto com a Sua sombra» (L.G. 59). O Espírito que fecundara o seio da Virgem Maria, do qual nasceu Cristo, fecundará agora a Igreja, seu Corpo. Como é importante invocar, desejar e deixar o Espírito Santo entrar e atuar em nós! Neste processo sinodal, que vivemos, de escuta, de discernimento em ordem a tomada de decisões, é tão importante dar espaço e tempo e oração ao Espírito Santo, para construir a Igreja que Deus quer, sonha e faz!
4.ª: Maria permanece fiel à memória da última Ceia. Maria permanece fiel ao encontro do Cenáculo, fiel à memória da dádiva e do sacrifício de seu Filho, na Eucaristia. Não prestamos verdadeiro culto cristão à Virgem Maria, fazendo peregrinações a Fátima e faltando à Eucaristia! O mandato de Maria em Caná «fazei o que Ele vos disser», combina bem com o mandato de Cristo na Eucaristia: «fazei isto em memória de Mim». Nem os Pastorinhos, nem os maiores santos da Igreja, pelo facto de terem recebido revelações, se dispensaram alguma vez da Eucaristia! Antes das aparições de Maria, não houve as aparições do Anjo, convidado à comunhão e à adoração da Eucaristia? Como podemos encher a boca de “Maria”, se nos faltam o Pão e o vinho bom da Eucaristia?!
5.ª. Maria permanece fiel à Igreja:Maria está junto de Pedro e dos outros Apóstolos. A fé de Maria, que está no início e vem antes do nascimento de Jesus, precede e excede a fé dos apóstolos. Como podemos alegrar o coração de Maria, encher o recinto do Santuário de Fátima, nos dias 13, se depois deixarmos meio-vazias as nossas Igrejas, onde Cristo nos chama ao encontro com Ele, no primeiro dia da semana?
3.Irmãos e irmãs: não podemos edificar a Igreja apenas com reuniões e iniciativas, à espera de um sucesso de tipo empresarial. Se queremos que Jesus coopere connosco e presida à Igreja, perguntemo-nos seriamente: Como vai a nossa vida de Oração comunitária? Como valorizamos a proclamação e a escuta da Palavra de Deus? É o Espírito Santo que domina e ilumina as nossas decisões e ações comunitárias? Onde está a centralidade da Eucaristia, fonte e cume da vida da Igreja? Como se concretiza o amor fraterno entre nós? Se formos infiéis à oração, à escuta da Palavra, à celebração da Eucaristia, faltará o Espírito Santo na nossa vida e se vier a faltar o Espírito, seremos uma bonita associação humanitária ou de beneficência, mas não a Igreja de Jesus Cristo, de que somos todos membros e cooperadores, pela graça de Deus.
4.Que o exemplo da Virgem Maria, no Cenáculo, nos ajude a viver a Ascensão do Senhor, a encher o peito do sopro do Espírito Santo, a subir à sala de cima, para seremos elevados e crescer para o alto, até à medida de Cristo na sua plenitude (Ef 4,13).