Homilia no V Domingo da Quaresma B 2024
1. E chegámos com alegria a Jerusalém! A cinco dias da Páscoa, não faltam pessoas à volta de Jesus. Entre elas, sobressaem uns gregos, uns curiosos simpatizantes, que fazem este pedido a Filipe: “Senhor, nós queríamos ver Jesus” (Jo 12,21). Esta gente de fora quer ver Jesus por dentro, chegar ao Seu coração. Naquele pedido podemos entrever o pedido de tantos homens e mulheres do nosso tempo: talvez sem se darem conta, pedem-nos hoje não só que lhes falemos de Cristo, mas também e sobretudo que, de certa forma, lh'O façamos ver!
2. Como revela Jesus o seu rosto a quem O procura? Jesus surpreende-nos na resposta: Chegou a Hora de o Filho do Homem ser glorificado(Jo 12,23). Logo depois Jesus declarará que Ele será elevado da terra(Jo 12, 32): elevadoporque será levantado e cravado no alto de uma Cruz, lugar de suprema humilhação; elevado, porque daí, da Cruz, sairá vitorioso, será exaltado pelo Pai, graças à Sua Ressurreição.Portanto, a primeira condição para quem queira conhecer Jesus é olhar a cruz por dentro. É aí, por dentro da Cruz, que se desvela o mistério da morte do Filho de Deus, como um gesto supremo de amor, fonte de cura, de vida e de salvação. Não deixemos, pois, de olhar a Cruz, a partir de dentro, entrando nela, precisamente pelas fendas abertas do seu Corpo Crucificado e glorioso, isto é, entrando pelas suas Santas Chagas!
3. E para explicar o significado da sua morte e ressurreição, Jesus faz uso de uma imagem muito simples: se o grão de trigo, ao cair na terra, não morrer, ele permanece só; mas, se morrer, dará muito fruto(Jo 12,24). Vede: a Cruz é fecunda: atrai-nos para o Pai e cura-nos pelas Suas chagas; vede: a sua morte é fecunda: é fonte inesgotável da vida nova da Ressurreição. Então Jesus parece dizer hoje a cada um: se Me queres conhecer e compreender, olha para o grão de trigo, que morre na terra para frutificar, olha e entra por dentro da Cruz, através das minhas chagase contempla O amor do meu coração por ti, por vós, por todos.
4. Descendo ao concreto, o que nos ensina esta lei do grão de trigo, que morre para frutificar? Olhemos um pouco para a nossa vida e verifiquemos como nela se desenha a parábola do grão de trigo: as nossas alegrias nascem na dor; os maiores sucessos têm sempre o alto preço das nossas entregas escondidas; os nossos êxitos são feitos de sacrifício ocultos. Nenhum fruto, nenhuma coisa boa da nossa vida, que ainda permaneça, nos foram dados sem trazerem consigo o sinal da Cruz, sem terem esta marca do esquecimento, da negação, da humilhação, da morte de nós próprios: seja o filho que tivemos, a casa que construímos, o curso que fizemos, o casamento que vivemos. Mafalda Veiga cantava assim, numa das suas mais belas melodias: “É preciso morrer e nascer de novo; semear no pó e voltar a colher; há que ser trigo, depois ser restolho; há que penar para aprender a viver (…) A vida é feita em cada entrega alucinada, para receber daquilo que aumenta o coração”, daquilo que recria o coração.
5.Queres então mostrar Jesus a quem hoje O quer ver? Podes entregar-lhes os Evangelhos, onde Se revela o rosto de Jesus. Podes convidá-los a olhar a Cruz, por dentro. Mas sobretudo mostra aos outros o rosto de Jesus, tatuado nas tuas marcas e nas rugas da tua entrega, do teu serviço, da tua vida dada por amor. Testemunha aos outros a alegria de um coração novo e renovado, a alegria de um coração puro e purificado, a alegria de um coração transformado e transformador, a alegria de um coração capaz de morrer e de dar a vida por amor!