HOMILIA NO XV DOMINGO COMUM A 2023
1. As coisas não estão a correr bem para Jesus! Alguns desistiram de aprender o caminho, outros mudaram de curso, outros contestam as medidas do programa, outros nada aprenderam do que ouviram! O ministério de Jesus pela Galileia entra em crise. Os Doze não percebem por que razão as coisas não vão de vento em popa! Entre os seguidores mais próximos e apressados de Jesus começava a nascer o desalento e a desconfiança. Valia a pena continuar a trabalhar com Jesus?
2.Todos nós, pais, educadores, professores, formadores, catequistas e pastores, somos, cada qual a seu modo, semeadores, quantas vezes em crise, desapontados pelo insucesso, desconfiados do nosso tamanho esforço, desiludidos com os frutos, desesperados com os resultados que não chegam. Às vezes, culpabilizamo-nos do nosso mau desempenho. E perdemos o alento.
3. Jesus ensina-nos hoje a compreender a crise e a conviver com o fracasso, sem perder a esperança. Na verdade, ao ser lançada no coração, a semente é confiada ao percurso vital da liberdade humana e por isso aceita as respostas que o terreno do coração humano dá, e que são frequentemente negativas. No entanto, e em todo o caso, Jesus desafia-nos a semear, sem a pressa, porque o fruto que germina, por fim, em boa terra, compensa a esterilidade dos outros terrenos!
4. Hoje não iria esquadrinhar os quatro terrenos, que são quatro parcelas do nosso coração, mas propor-vos quatro tempos e modos de semear:
4.1. Semear com abundância,sem medo de esbanjar, sem mãos a medir, pois quem semeia pouco também colherá pouco (2 Cor.9,6). Jesus semeava a Palavra e gestos de bondade e de misericórdia, até nos ambientes mais impensáveis: entre pecadores públicos e pessoas afastadas da religião. Jesus semeava, com o realismo e a confiança de um lavrador da Galileia. Todos sabiam que a semente se perderia em mais de um local, em terras tão acidentadas. Porém, nenhum lavrador deixava de semear. O importante era a expetativa da colheita final. É preciso continuar a semear, por toda a parte, sem medo de desperdiçar. Não sabemos onde, em quem, nem quando, mas o destino da semente é frutificar. Semeemos com generosidade, sem distinção de pessoas, sem olhar à cara, mas ao coração.
4.2. Semear com humildade é acreditar mais na vitalidade e na bondade da própria semente, que há de produzir o seu efeito (Is 55,11) do que na capacidade do semeador! O semeador não produz a semente, nem a faz crescer por suas mãos. O semeador, quando muito, pode facilitar o seu crescimento! “Na verdade – disse São Paulo – “Eu plantei. Apolo regou. Mas foi Deus que fez crescer” (1 Cor 3,6-7). Os resultados da colheita não são da nossa conta. A pressa e o sucesso imediato não fazem parte da lógica do Reino. O que germina depressa, depressa morre.
4.3. Semear com lágrimas para colher com alegria(cf. Sl 125,5), nem que essa colheita nos esteja reservada apenas para a vida eterna! Jesus, aparentemente, como Mestre, também foi um fracasso! Ficou só. No entanto, dois mil anos depois, como fruto da Cruz, aí está a vida e a fé de cada um de nós! Tenhamos confiança. Semeemos na dor, com amor! Só caindo à terra, como a semente, daremos fruto!
4.4. Semear com confiança, paciência e esperança,deixando a semente crescer, por si só, e a seu tempo, sem pressa, o que nos obriga a esperar até ao fim! Se é boa a semente da Palavra que ensinamos, do trabalho que fazemos, do serviço que prestamos… então continuemos a semear, sem a pressa dos resultados! E a semente dará fruto a seu tempo, e, quantas vezes, já depois do nosso tempo!
5.Irmãos e irmãs: na Igreja, não temos por que colher sucessos, conquistar a rua, dominar a sociedade, encher as Igrejas, impor a nossa fé. O que temos é necessidade de discípulos missionários que semeiem, por onde passam, palavras de esperança e gestos de compaixão. E, lançada a semente, não nos agarremos ao chão. Sejamos Igreja em saída, pelas encruzilhadas dos caminhos, a convidar os excluídos! Oh – direis – mas é verão e apetece sentarmo-nos à beira-mar?! Então vamos lá. Também é preciso lavrar o mar! E quem em julho ara e fia, ouro cria!