Liturgia e Homilias no XI Domingo Comum A 2023
Destaque

Não somos uma multidão anónima.Somos um reino de sacerdotes, uma assembleia santa, um povo sacerdotal. Quando nos reunimos, em assembleia, para celebrar a Eucaristia, ativamos este sacerdócio comum dos fiéis, que recebemos de graça, no Batismo. Pelo Batismo, tornamo-nos membros deste Povo sacerdotal, que é chamado a fazer da sua vida um dom de amor, um sacrifício de louvor a Deus, pela salvação dos irmãos. Pelo Batismo, participamos deste sacerdócio de Jesus, unindo-nos, em Eucaristia, ao dom que Ele mesmo faz da Sua vida ao Pai por nós. Pelo Batismo, somos todos chamados pelo nome próprio, resgatados pelo mesmo amor e enviados em missão, para dar de graça aos outros, o que de graça recebemos do Senhor.

Homilia no XI Domingo Comum A 2023

 

1.«Jesus, ao ver as multidões, encheu-se de compaixão» (Mt 9,36)! Não é isto tão estranho a nossos olhos?! Não é tão bom ver tanta gente reunida, num mesmo lugar? Não são boas a convivialidade fraterna, a união e reunião de pessoas, a força viva de uma comunidade reunida? Não ficamos nós felizes quando as nossas iniciativas juntam pessoas? Não nos animamos e rejuvenescemos quando vemos a Igreja «cheia», em certos dias de Festa? Não estamos nós apostados no êxito da JMJ 2023, com o previsível um milhão e meio de jovens? Sim! Claro que sim.

2.Mas Jesus – pelo que vê e se vê – não se ilude com as multidões. Ele sabe que nem sempre os grandes ajuntamentossão lugares de encontro, de alegria, de comunhão. Muitas vezes, as multidões são lugares de fuga e evasão da realidade, espaços de distração e dispersão, de fusão e de confusão, instantes rápidos de bem-estar individual que, por fim, nos deixam vazios, na mais fria solidão! Por isso – diz o Evangelho – Jesus encheu-Se de compaixão, ao ver tais multidões, «porque andavam fatigadas e abatidas, como ovelhas sem pastor» (Mt 9,36). Jesus não é indiferente à dispersão, ao desalento, ao desencanto, ao protesto silenciosodaquela multidão. Por isso, a escolha de Jesus é a de reunir num só Povo os filhos de Deus dispersos; é a de fazer da multidão dispersa um pequenino rebanho, reunido à volta do Seu Pastor. Nesta perspetiva, Jesus chama os discípulos e envia os Doze, para formar uma comunidade de pessoas felizes, com nome próprio!

3.Também nós assistimos hoje ao regresso das multidões, numa espécie de cura da depressão coletiva causada pela pandemia! Na verdade, os laços comunitários já não se tecem à volta do adro, mas nas arenas das festas e festivais; mais nas redes sociais do que nos contactos pessoais. A busca da felicidade, da jovialidade, já não se direciona para o consolo da religião. A Liturgia do encontro com o divino parece mais acessível e apetecível no êxtase dos concertos musicais do que nas nossas Missas dominicais. Por isso, este regresso das multidões não tem o mesmo retorno nas nossas Igrejas, meio-cheias ou senão meio-vazias! Não deveríamos nós ver nestas multidões em festa um sinal indicador do caminho da Igreja? Não há neste regresso das multidões em festa, uma nostalgia, a saudade e o desejo de uma comunidade viva, de uma liturgia festiva, de uma fé revestida de alegria? 

3.Creio que podíamos partir daqui para três desafios pessoais e pastorais:

1.º: Viver a alegria da fé, que brota sempre do encontro com Cristo. Saibamos dar prioridade a tudo o que proporcione este encontro pessoal e vital com Cristo, nos estilos, ritmos e calendários das pessoas de hoje. Que tudo o que propomos e vivemos tenha esta marcada alegria. Um cristão triste é um triste cristão, não convence ninguém! Revistamo-nos desta alegria de gente salva em Cristo!

2.º: Descobrir a alegria de ser e de viver em comunidade.Nós não nascemos nem crescemos, nem como pessoas nem como cristãos, sozinhos ou em laboratório. Precisamos de uma comunidade. Mas para isso, as nossas comunidades terão de tratar primeiramente “das ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 10,6). Há a ovelha que se perde no deserto, mas há também a dracma que a mulher perdera dentro de casa! Há o filho pródigo que se perdeu longe de casa, mas há também o filho mais velho que se perdera dentro de casa. Numa palavra: é preciso tornar as nossas comunidades mais familiares, mais fraternas, mais afetuosas, mais belas e acolhedoras e, por isso, mais atraentes. Quanto mais a comunidade for espaço familiar de encontro… tanto mais os outros se esforçarão por entrar nela!

3.º: Neste tempo tão depressivo para a Igreja, manifestemos o nosso “orgulho grei”(não; não me enganei!). Mantenhamos esta vaidade santa de pertencer a esta grei, a este rebanho, dizendo: “Nós somos o Povo do Senhor, somos as ovelhas do seu rebanho”. Somos a sua grei! Que esta alegria da fé, de ser e de viver em comunidade, se manifestem, desde logo, quando saímos de casa, em cada Domingo, para a Missa, a cantar e a bailar em nossos corações: “Vamos com alegria para a Casa do Senhor” (Sl 122/121,1).

 

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