Liturgia e Homilias na Quinta-Feira Santa 2023
Destaque

Abraça o presente da Páscoa: é Cristo vivo.Um presente sempre presente. Com este propósito, completámos juntos o caminho quaresmal e chegámos agora à meta: a nossa transformação pascal, pela ação misteriosa do mistério pascal de Cristo vivo em nós. Abraçar o presente da Páscoa é antes de mais acolher o convite a participar da Páscoa do Senhor, receber e a reconhece o dom inestimável da Sua presença na Eucaristia. O grande presente da Páscoa é Cristo vivo, na Eucaristia. Ele faz-se presente na assembleia unida e reunida em Seu Nome, na pessoa d’Aquele que preside, no dom da Palavra que Se proclama, e, de modo único, nos dons do Pão e do vinho consagrados. Com este desejo ardente de celebrar, com Cristo, a Sua Páscoa gloriosa, tomados de assombro por tal convite imerecido, damos início agora à celebração do Tríduo Pascal do Senhor Crucificado, Sepultado e Ressuscitado. E fazemo-lo nesta Missa Vespertina da Ceia do Senhor, que nos reporta àquela mesma noite, em que Jesus, desejando ardentemente comer a Páscoa com os discípulos, os reuniu para a Ceia Pascal. Pelo Sacramento da Eucaristia, nós tornamo-nos misteriosamente contemporâneos deste grande acontecimento da Páscoa do Senhor. Fixemos então o nosso olhar na Cruz do Senhor. E, de pé, cantemos.

Homilia na Missa de Quinta-feira Santa da Ceia do Senhor 2023 *

 

Três palavras para esta noite comemorativa da instituição da Eucaristia, do sacerdócio ministerial e do mandamento novo: desejo ardente, assombro apaixonado e abusos intoleráveis.

 

Desejo ardente

 

1. A instituição da Eucaristia não é invenção nossa, não é obra das nossas mãos. Ela corresponde ao desejo ardente do Senhor de nos tornar participantes da Sua Páscoa gloriosa: “Desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco, antes de padecer” (Lc 22, 15), diz Jesus aos discípulos. Pedro e João sabem que devem preparar tudo para aquela Ceia, mas sobretudo devem preparar-se para receber sem mérito algum da sua parte, tal dom inexcedível. Na verdade, ninguém conquistou, por direito próprio, um lugar naquela Ceia. Todos foram convidados ou, melhor, todos foram atraídos pelo desejo ardente que Jesus tinha de comer aquela Páscoa com eles. Jesus é o verdadeiro Cordeiro daquela Páscoa. Ele é a Páscoa. Esta é a novidade absoluta que torna aquela Ceia única e, por isso, última, irrepetível. No entanto, desde então e até ao fim dos tempos, permanece o infinito desejo de Jesus de viver e permanecer em nós, pela comunhão do Seu Corpo e Sangue. Por isso, esta mesma Ceia tornar-se-á presente, em cada celebração da Eucaristia, hoje e até que Ele venha novamente.Não se trata de uma mera encenação ou representação, mesmo que sagrada, da Ceia do Senhor. Não se trata, ainda menos de uma vaga recordação da Última Ceia. Trata-se, sim, do encontro com Cristo vivo, em que precisamos de estar presentes de corpo e alma.

 

Assombro apaixonado

 

2. “Na Santíssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, nossa Páscoa e Pão vivo” (PO 5). Daí o assombro apaixonado com que nos ajoelhamos diante do mistério admirável da nossa fé. Assombro que é alumbramento e deslumbramento, espanto e maravilhamento, êxtase e agradecimento! Assombro não é desmaio perante algo de obscuro e enigmático. É, sobretudo admiração, encantamento, gratidão, adoração, pela proximidade do Senhor, que Se faz real e continuamente presente na Eucaristia. Este assombro impedir-nos-á de cair no habitual, trivial e banal, em que a Eucaristia se torna preceito, espetáculo ou diversão. Este assombro requer da nossa parte, um cuidado cada vez maior, em vários âmbitos: na preparação da celebração e na arte de celebrar; na valorização do silêncio, símbolo da presença e da ação do Espírito Santo; na qualidade da proclamação da Palavra e do canto litúrgico; na harmonia dos gestos diversificados e partilhados por todos os membros da assembleia; na linguagem dos símbolos, de entre os quais se destaca o do nosso corpo orante.  

 

Abusos intoleráveis

 

3. Precisamos, pois, de despertar o desejo ardente e o assombro da nossa paixão pela Eucaristia, para não usarmos e abusarmos dela, como se fosse uma coisa nossa, feita à nossa moda e do nosso modo. Não. A Eucaristia é uma dádiva do Senhor à Sua Igreja. E é toda Igreja – e não apenas o Padre – o sujeito celebrante da Eucaristia. O Sacerdote deve presidir à Eucaristia (e à comunidade), não para fazer as vezes de Cristo, não para O substituir, não para ser um outro Cristo – porque Cristo é só Um e só Ele é o protagonista – não para Lhe tirar o lugar, mas para O tornar presente. O representante aponta sempre para o representado. Mas aquele que se julga substituto tenta sempre tornar secundário o substituído. Ora, o Padre não se deve assumir nem ser assumido como um ídolo, que se substitui a Deus, mas antes como um ícone, que transluz a presença e a graça de Cristo. E todos sabemos como este vírus clerical do empoderamento e do endeusamento do padre, como se fora o ator principal da Eucaristia e o Senhor da Igreja, está na origem de tantos abusos intoleráveis sobre a Eucaristia, sobre a comunidade e, pior ainda, sobre os seus membros menores e mais frágeis.

Irmãos e irmãs: em suma: Deixemo-nos envolver pelo desejo que o Senhor continua a ter de comer a sua Páscoa connosco, em cada Eucaristia! Continuemos a assombrar-nos com a beleza da Liturgia. Corramos “atraídos por esse rosto tão amado, que adoramos na Sagrada Eucaristia e reconhecemos na carne de cada irmão sofredor” (CV 299)! E que a ferida sangrenta dos abusos na Igreja, exposta a nossos olhos, para nossa conversão, nos faça pôr toda a nossa fé, toda a nossa confiança e toda a nossa glória… somente na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo!  

 

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* Esta homilia é inspirada na Carta Apostólica do PAPA FRANCISCO, Desiderio desideravi (29.06.2022) sobre a formação litúrgica do Povo de Deus

e em algumas reflexões de TOMÁS HALIK, no seu livro “A tarde do cristianismo”, sobretudo nas páginas 106-107.

 

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