Liturgia e Homilias na Solenidade do Pentecostes C 2022
Destaque

O longo Tempo da Páscoa chega hoje à sua plenitude. Hoje celebramos a Solenidade do Pentecostes e nela o dom do Espírito Santo, que faz a unidade na diversidade e a harmonia nas diferenças.Caminhámos juntos, desde a preparação e celebração da Páscoa, que desejámos então como Páscoa da Paz para todos, até chegarmos hoje, todos juntos, ao Pentecostes. E hoje em que invocamos, ainda com mais intenso desejo, a Paz com dom do Ressuscitado e fruto precioso do Espírito Santo. Ele é o Espírito da Paz. Nesta Eucaristia, deixemos que o mesmo Espírito Santo, que converte a diversidade dos fiéis num só Corpo e converte o pão e o vinho no Corpo e Sangue do Senhor, transforme os nossos corações, para fazer de nós homens e mulheres de Paz.

Homilia na Solenidade do Pentecostes C 2022 *

O Espírito da Paz

 “Jesus veio, pôs-Se no meio dos discípulos e disse: «A paz esteja convosco»” (Jo 20,19.26), ou talvez ainda melhor: “A paz está convosco”.  

 

1. A Páscoa da Paz, que tanto desejámos, culmina hoje com o dom do Espírito Santo, o Espírito da Paz! Sim. Todos os sinais da Sua manifestação nos conduzem ao Espírito da Paz: O sopro de Jesus sobre os discípulos evoca o vento do Espírito, que, no princípio da Criação, pairava sobre as águas e transformou o caos informe e vazio, para dar origem à terra e ao céu (Gn 1,1-2), que agora nos cabe guardar e proteger como Casa Comum; a pomba, que nos tempos de Noé, com o seu ramo de oliveira no bico, anunciava uma nova era de paz, desceu sobre Jesus, no Batismo, para O ungir como Messias da Paz e fazer de nós discípulos da paz, que respondem à violência com a espada do Espírito (Ef. 6,17). A forma de línguas, em que se manifesta o Espírito Santo, mostra-nos quanto a diversidade de ideias e culturas não é necessariamente uma fonte de confusão e conflito, como na construção da Torre de Babel (Gn 11,1-9), mas pode gerar harmonia, na polifonia de vozes e culturas tão diversas. O “fogo” das línguas remete-nos para o monte Sinai, em que o Senhor descera no meio do fogo(Ex 19,3-20), para trazer o dom da Lei, como plataforma para a Paz, e agora desce para nos dar o coração novo, que as nossas mãos não podem criar, pois só Ele, o fogo do amor, o pode forjar em nós.

2. Irmãos e irmãs: em tempo ainda de pandemia, de uma guerra inimaginável na Ucrânia, de aprendizagem de um novo estilo sinodal na Igreja, é urgente abrirmos, nem que seja uma fenda, no nosso coração, para que o Espírito nos conceda duas graças, que nos permitam alcançar a paz verdadeira: a consolação e a harmonia.

2.1.O Espírito da Paz é o Consolador! As consolações do mundo são como os anestésicos: oferecem um alívio momentâneo, mas não curam o mal profundo que temos dentro. Insensibilizam, distraem, mas não curam pela raiz. Agem à superfície, ao nível dos sentidos, dificilmente ao nível do coração. Com efeito, só dá paz ao coração quem nos faz sentir amados tal como somos. E o Espírito Santo, o Amor de Deus, faz isso: como Espírito que é, age no nosso espírito, desce ao mais íntimo de nós mesmos, visita o íntimo do coração. Ele é a ternura de Deus em Pessoa, que não nos deixa sozinhos. Por isso, irmã, irmão, se sentes o negrume da solidão, se trazes dentro um peso que sufoca a esperança, se tens no coração uma ferida que queima, se não encontras a via de saída, abre-te ao Espírito. Onde houver maior tribulação, Ele levará maior consolação.

2.2.O Espírito da Paz é a perfeita harmonia. É o Espírito da Paz que reúne os dispersos, faz a unidade das pessoas na diversidade de povos e línguas, tece a comunhão nas diferenças culturais, entretece fios de paz onde se produzem fios de arame farpado. Só Ele pode suscitar a diversidade de dons, a pluralidade de serviços, a multiplicidade de carismas, e, ao mesmo tempo, realizar a unidade! Assim, a comunhão na Igreja e a paz entre pessoas, famílias e nações, é fruto deste Espírito, que fala e atua em cada um. Como num coro, a unidade requer, não a uniformidade, a monotonia, mas a pluralidade e variedade das vozes, a polifonia. Quando somos nós a querer fazer a diversidade, trazemos a divisão; quando somos nós a querer fazer a unidade, segundo o que temos na cabeça, acabamos por trazer a uniformidade, aquela monótona igualdade em que só nos interessam os que são como nós! Se, pelo contrário, nos deixarmos guiar pelo Espírito, a riqueza, a variedade e a diversidade nunca darão origem ao conflito, à guerra, porque o Espírito Santo impele-nos a viver a unidade, a comunhão, a fraternidade!

3.O Espírito da Paz infunda a Sua consolação onde há amargura no coração, recrie a beleza da Sua harmonia onde ameaça a divisão, ensine a linguagem do Amor onde reina a confusão, componha a melodia de um novo Hino de Paz na Terra onde ainda ressoam as sirenes da guerra! Ámen.

 

 

* Para outras propostas de homilias:

cf. anexo Liturgia e Homilias na Solenidade do Pentecostes C 2022

 

 

 

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