Texto-base para a Homilia 2022 | Pároco ausente neste Domingo
A paz, dom do Ressuscitado | cf. Audiência do Papa em 13.04.2022
1. Anota o Evangelho, e por duas vezes, que “Jesus veio, pôs-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco»” (Jo 20,19.26), ou talvez ainda melhor: “A paz está convosco”. Esta Paz é Ele mesmo, no meio dos Seus discípulos. Jesus vem, uma e outra vez, à sala da Última Ceia, não para um ajuste de contas com o passado, não para ignorar ou branquear as fraquezas, negações e traições dos discípulos, mas para lhes oferecer o perdão e assim a Paz.Com o dom do perdão, não se trata de encobrir ou enfaixar o pecado; mas de o ajudar a encarar e a assumir, pois aquilo que não é assumido não pode ser redimido! Com este dom do perdão, Jesus recria o coração dos Seus discípulos. E eles podem doravante assumir o seu pecado e recordar o seu passado, mas agora sob o olhar misericordioso do Senhor, que os liberta da culpa e lhes pacifica os corações, pois “só quem é amado pode ser salvo. Só quem é abraçado pode ser transformado” (Christus vivit, n.º 120). E assim encontrar a Paz.
2.A paz que Jesus nos dá, na Sua Páscoa, não é a paz do mundo, alcançada através da força, da conquista ou de várias formas de imposição. Essa paz, na realidade, é apenas um intervalo entre guerras. A Paz do Senhor segue o caminho da mansidão e da cruz: é ocupar-se do próximo, cuidar das suas feridas abertas. Com feito, Cristo assumiu sobre Si o nosso mal, o nosso pecado e a nossa morte. Mesmo Ressuscitado, Ele continua a trazer em si as marcas dos nossos pecados; as Suas feridas são as feridas das vítimas de todos os tempos, que continuam a sangrar, de modo tão cruel nesta guerra contra a Ucrânia. Ele revela-Se vivo, para mostrar que Ele, a Vítima, que Se oferece continuamente por todas as vítimas de todos os tempos, é o verdadeiro Vencedor. Ele assumiu sobre Si todas as nossas feridas e pecados. Desta forma, Ele libertou-nos. Ele pagou por nós, com o dom da Sua Vida oferecida, que assim nos reconcilia com o Pai e nos faz irmãos.
3. A paz que Jesus Ressuscitado nos traz não é fruto de algum compromisso diplomático; ela nasce do dom de Si mesmo. Esta Paz, mansa e corajosa, que não acusa nem se vinga da morte é-nos difícil de aceitar, de acolher, de praticar. Esta paz de Jesus não domina os outros, nunca é uma paz armada: nunca! As armas do Evangelho, que Jesus nos ensinou a usar, da sua Paixão à gloriosa Ressurreição, são a oração, a ternura, o perdão e o amor gratuito ao próximo, o amor a todos, o amor aos inimigos, o amor capaz de reconstruir e de reconciliar. Esta é a forma de trazer a Paz de Deus ao mundo. É por isso que a agressão armada destes dias, como qualquer guerra, representa um ultraje contra Deus, uma traição blasfema ao Senhor da Páscoa, preferindo ao seu rosto manso a figura do falso deus deste mundo. A guerra é sempre uma ação humana para levar à idolatria do poder, seja ele de quem for.
4. Antes da Sua última Páscoa, Jesus dissera aos seus discípulos: «Não vos perturbeis, nem temais» (Jo 14, 27). Sim, porque enquanto o poder mundano só deixa destruição e morte – vimos isto nestes dias – a sua paz constrói a história, a começar pelo coração de cada pessoa que a acolhe, sem reservas. A Páscoa é então a verdadeira festa de Deus e do homem, porque a Paz que Cristo conquistou na cruz, no dom de Si mesmo, é-nos distribuída, oferecida gratuitamente. É por isso que o Ressuscitado aparece aos discípulos no dia de Páscoa. E como os saúda? Já o dissemos e repetimos: «A paz esteja convosco!» (Jo 20, 19.21). Esta é a saudação de Cristo: de Cristo ressuscitado vítima e vencedor.
5.Irmãos e irmãs: em vez de sirenes de alarme, ressoem por todo este tempo pascal as campainhas do anúncio da vitória da Ressurreição. Que o Senhor nos dê a todos – porque ou é de todos ou não será – uma verdadeira Páscoa da Paz!