Liturgia e Homilias no 1.º Domingo da Quaresma C 2022
Destaque

Este é o tempo favorável. Desde a passada Quarta-feira de Cinzas, ressoa nos nossos corações este fortíssimo apelo: aproveitemos o tempo favorável: o tempo favorável do nosso caminho quaresmal e o tempo favorável do percurso sinodal, para ampliarmos a escuta: a escuta silenciosa de Deus na sua Palavra, a escuta recíproca entre nós, a escuta humilde da realidade, que nos desafia a discernir os atalhos a evitar e o Caminho a seguir. Para isso, somos impelidos, tal como Jesus, pelo Espírito Santo, a entrar no deserto da solidão, do silêncio, da oração, da escuta e da purificação, para prosseguirmos juntos por um Caminho novo.

Homilia no 1.º Domingo da Quaresma C 2022 *

 

1. Eis o tempo favorável. E é-nos favorável, pelo menos, em cinco sentidos. Tempo favorável, pela oportunidade de renovação pessoal e pastoral, que a Quaresma sempre nos oferece, neste caminho que nos conduz à Páscoa. Tempo favorável, pela promessa de renascimento natural, nesta Primavera que já se anuncia. Tempo favorável pelo tão desejado alívio das restrições à convivência, nesta fase final da pandemia. Tempo favorável, pelo processo sinodal que está em marcha, mas que agora terá mais condições, de espaço e de tempo, para se desenvolver. E se nada mais houvesse – queridos irmãos e irmãs – o drama e a tragédia da guerra na Ucrânia, fazem desta hora terrível da nossa história um tempo favorável para intensificar a oração que desarma o coração, para semear e praticar o bem sem esmorecer (cf. Gl 6,9-10), para jejuar como sinal de compaixão solidária com todas as vítimas da guerra, da fome, da injustiça. Sim. Por esta mão-cheia de sentidos, este é realmente o tempo favorável…

2. Acentuemos, porém, a afinidade entre o tempo favorável da Quaresma e o tempo favorável do percurso sinodal em marcha. Que têm em comum? Ambos são tempo favorável para a escuta, em ordem ao discernimento das nossas escolhas pessoais e pastorais, dos atalhos a evitar, do Caminho a seguir. A isso mesmo nos desafia o exemplo dado por Jesus no deserto. A esse lugar, de isolamento e sem ruídos, a esse lugar de silêncio e de provação, é impelido Jesus pelo Espírito Santo. E ali, Jesus é tentado a seguir a Sua vida e a Sua missão, por Sua própria conta e risco, por atalhos rápidos e fáceis, renegando a Sua condição de Filho. Ali Jesus confronta-Se com as suas escolhas; ali deve discernir se tais promessas messiânicas de poder, de triunfo e de glória, vêm do Espírito Santo ou do espírito do mundo. Jesus não dialoga nem negoceia com o diabo. Escuta e responde sempre com a Palavra de Deus. À luz dessa Palavra, Jesus desmascara a mentira do Tentador e faz a sua escolha decisiva: seguir pelo caminho novo da Cruz.

3.Também nós, nesta Quaresma e no contexto do processo sinodal em curso, precisamos de deserto, de dar mais espaço ao silêncio, à escuta recíproca e à ação do Espírito Santo, para discernirmos, isto é, para interpretarmos bem os desejos do nosso coração, para sabermos bem por onde ir ou por onde não ir. O discernimento é necessário, sobretudo neste tempo que nos “oferece enormes possibilidades de ação e distração, sendo-nos apresentadas pelo mundo como se fossem todas válidas e boas. Todos, mas especialmente os jovens, estão sujeitos a um zappingconstante. É possível navegar simultaneamente em dois ou três écrans e interagir ao mesmo tempo em diferentes cenários virtuais. Sem a sabedoria do discernimento, podemos facilmente transformar-nos em marionetes à mercê das tendências da ocasião” (GE 167). Já agora, libertemo-nos da dependência dos meios de comunicação digitais. Cultivemos uma comunicação humana feita de «encontros reais», face a face: voltemos com alegria à vida comunitária e à celebração presencial da Eucaristia.

4. Na nossa vida pessoal e na vida da Igreja, este discernimento é fundamental, quando, por exemplo, nos aparece uma novidade. Temos então de discernir se esta é vinho novo que vem de Deus ou se é novidade enganadora do espírito do mundo. Noutras ocasiões, acontece o contrário, porque as forças do mal induzem-nos a não mudar, a deixar as coisas como estão, a optar pelo imobilismo e a rigidez e, assim, impedimos que atue o sopro do Espírito Santo (cf. GE 168). Peçamos o dom sobrenatural do discernimento, para prosseguirmos juntos por um caminho novo.

5. A caminhada sinodal, que propomos a todos os grupos pastorais, aos pais com filhos na catequese, e ao povo de Deus em geral, seja a nossa principal penitência quaresmal. “Que ninguém fique de fora. A escuta não é para reivindicar, acusar, denunciar, mas para discernir caminhos novos, para nós e para as nossas comunidades eclesiais” (Bispos do Porto, Nota para a Quaresma 2022). Esta é a grande proposta desta Quaresma de 2022. Vamos agarrá-la?

Este é o tempo favorável. E se não for este, que outro tempo o será?

 

* Homilia inspirada na Nota Pastoral dos Bispos do Porto para a Quaresma e na nossa caminhada quaresmal.

 

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