Liturgia e Homilia na Quarta-feira de Cinzas 2022
Destaque

Eis o tempo favorável: o tempo santo da Quaresma, que vivemos na estação florida desta Primavera que já se anuncia e no contexto esperançoso do fim da pandemia. Eis o tempo favorável do processo sinodal, que queremos agora intensificar, percorrendo juntos esta caminhada de renovação pessoal e pastoral. A Quaresma, que hoje se inicia, é um tempo favorável, que nos conduzirá à Páscoa de Jesus Cristo morto e ressuscitado. A Páscoa, a vida nova, a transformação, é a meta. Só com o olhar fixo em Jesus Cristo, qual grão de trigo semeado na terra, para frutificar ressuscitado (cf. Heb 12, 2), é que podemos acolher a exortação do Apóstolo, que o Papa toma como tema da Mensagem da Quaresma: «Não nos cansemos de fazer o bem» (Gl 6, 9). Com o coração unido especialmente aos irmãos da Ucrânia, como nos pediu o Papa, vivamos este dia de oração e de jejum, como “tempo favorável que nos deu a Divindade, para que tenham remédio as culpas da humanidade”.

Homilia programática da Quaresma | Quarta-feira de Cinzas 2022

Este é o tempo favorável (cf. 2 Cor 6,2; Is 49,8)!

 

1. Tempo favorável é este da Quaresma, que hoje se inicia, “mas é-o também toda a nossa existência terrena, de que a Quaresma constitui, de certa forma, uma imagem” (MPQ2022) [1]. Tempo favorável é também este do processo sinodal em curso, “porque este é o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milénio” (Papa Francisco, Discurso, 17.10.2015). Não só a Igreja, mas também o mundo precisam de reaprender a cultura da escuta e do encontro, a gramática do diálogo, a arte de caminhar juntos, para habitarmos a nossa Casa Comum, na justiça e na paz.

2. Por isso, propomo-nos fazer esta caminhada da Quarema à Páscoa em ritmo sinodal. Porque este é mesmo o tempo favorável. Em que sentido? Diríamos que o é em cinco sentidos:

2.1. Este é o tempo favorável para darmos passos mais largos no nosso caminho sinodal. É um tempo mais para semear do que para colher, é um tempo mais para iniciar processos e fazer aprendizagens do que para obter resultados imediatos ou colher frutos maduros. O Sín0do não será um evento mensal, mas um modo de ser e de agir, de viver e construir a Igreja, para nela se ativar a comunhão, a participação e a missão de todos. Não nos cansemos, pois, de caminhar juntos, uma vez que a necessidade de mais tempos de escuta, de mais espaços de diálogo, de mais reuniões, de mais colaboração e envolvimento de todos nas decisões, a par da demora ou da desilusão com os resultados obtidos, facilmente nos pode conduzir a uma espécie de fadiga democrática. Peçamos ao Senhor a constância paciente do agricultor (cf. Tg 5, 7), para não esmorecer nem desertar do caminho, com um passo de cada vez.

2.2. Este é o tempo favorável porque o florescer da Primavera desafia-nos a manter vivo o fogo, a renascer das cinzas e nunca a adorá-las (Papa Francisco, Discurso, 7.3.2015). Os ritmos naturais dão-nos um tempo de feição, não só para a sementeira do bem, mas também para intensificarmos o processo sinodal, que agora tem mais e melhores condições práticas, para se desenvolver.

2.3. Este é o tempo favorável, porque o fim da pandemia já se anuncia. Com menos restrições para o encontro presencial, podemos libertar-nos mais da dependência dos meios de comunicação digitais, que empobrece as relações humanas, privilegiando uma comunicação humana mais integral (cf. FT 43), feita de «encontros reais» (FT 50), face a face, de proximidade e em comunidade.

2.4. Este é o tempo favorávelpara semear e fazer o bem (cf. Gal 6,9), tendo em vista uma boa colheita, que dê frutos para a vida eterna (cf. Jo 4,36). E façamo-lo desde logo, a partir das nossas relações diárias.Não nos cansemos de fazer o bem, através de uma caridade ativa para com o próximo, dando com alegria (cf. 2 Cor 9, 7), cuidando de quem está próximo de nós e dos que se encontram feridos na margem da estrada da vida(cf. MPQ2022).Sejamos pacientes e não esmoreçamos na prática do bem, porque “o bem, como aliás o amor, a justiça e a solidariedade não se alcançam de uma vez para sempre; hão de ser conquistados cada dia” (FT 11).

2.5. Este é o tempo favorável, para a Quaresma e para a dinâmica sinodal, porque uma coisa e outra nos convidam a examinar tudo, a discernir o que há a abandonar, o que importa criar, o que urge renovar, para decidirmos juntos um caminho novo. Para isso, é tão importante que não nos cansemos de escutar, de rezar, que evitemos o ruído das palavras avulsas e a dispersão das mil imagens, para acolhermos a Palavra de Deus, viva e eficaz (Hb 4,12), como inspiração do que há ou não a fazer; é tão importante que não nos cansemos de extirpar o mal na nossa vida, mediante o jejum (sobretudo o jejum do pecado), através de uma luta decidida contra os maus desejos, sem esquecer quanto precisamos de pedir e de receber o perdão divino (cf. MPQ2022). Na sementeira do bem, “o jejum prepara o terreno, a oração rega e a caridade fecunda-o” (cf. MPQ2022).

3. Seguindo a proposta do nosso Conselho Paroquial de Pastoral, não iremos inventar grandes coisas, para preencher o programa da Quaresma à Páscoa.  Além das iniciativas já programadas [2], iremos sobretudo, valorizar um sinal, uma prática cheia de simbolismo, para o Povo de Deus peregrino: uma caminhada sinodal. Fá-lo-emos em pequenos grupos pastorais, em pequenos grupos de pais com filhos na catequese, em pequenos grupos de fiéis e de pessoas de boa vontade que livremente o queiram fazer. Esperamos e desejamos que, tanto quanto possível, durante a Quaresma, todos realizem esta caminhada, quer do ponto de vista físico (se for possível), quer do ponto de vista espiritual e pastoral. Que seja uma verdadeira peregrinação, como a de irmãos, filhos de Deus, rumo à casa do Pai.

Este é o tempo favorável. Não seja em vão. Levanta-te. Juntos por um caminho novo!


[1] MPQ2022– sigla de “Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2022” inspirada no texto da Carta aos Gálatas: «Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos» (Gl 6,9-10 a).

[2] Podem referir-se aqui sumariamente: Celebrações pré-batismais com os catecúmenos; Celebração da memória do Batismo (13 de março); Festa do Pai-Nosso, com a Catequese do 2.º ano (a 19 de março); Celebração comunitária da Reconciliação e Confissão individual, a 25 de março, integrada na Iniciativa “24 horas para o Senhor” (a 25 e 26 de março); Promessas dos Escuteiros (3 de abril); Contributo penitencial para a Igreja de São Tomé e Príncipe. Partilha quaresmal para as obras da na nossa Igreja.

 

 

 


 

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