Liturgia e Homilias na Festa da Apresentação do Senhor 2022
Destaque

Caríssimos irmãos: celebrámos com alegria, há 40 dias, a solenidade do Natal do Senhor. Hoje é o santo dia em que Jesus foi apresentado no templo por Maria e José. Exteriormente cumpria as prescrições da Lei mas, na realidade, vinha ao encontro do seu povo fiel. Aqueles dois santos velhos, Simeão e Ana, tinham vindo ao templo sob a inspiração do Espírito Santo; iluminados pelo Espírito, reconheceram o Senhor e anunciavam-n’O a todos com entusiasmo. Também nós, aqui reunidos pelo Espírito Santo, caminhemos para a casa do Senhor ao encontro de Cristo. Aí O encontraremos e O reconheceremos na fração do pão, enquanto aguardamos a Sua vinda gloriosa!

Homilia na Festa da Apresentação do Senhor 2022 – meditação mais longa[1]

Esta festa do “encontro” entre Deus e o seu Povo, entre a promessa e o seu cumprimento, entre a esperança e a sua realização, é tão luminosa, que, da nossa parte, queremos apenas hoje deixarmo-nos guiar por três fios de luz, a partir dos olhos de Simeão. O primeiro fio de luz é a sua capacidade para acolher a novidade. O segundo é o seu caminho de esperança e o terceiro fio de luz é a graça da abertura dos seus olhos. Deixemo-nos hoje guiar por estes três pontos de luz:

1. Acolher a novidade

Um ancião abraça uma criança! São duas gerações em que, de algum modo, uma transmite a chama e outra recebe a chama. A chama é a luz da fé, a luz da salvação, a luz da vida eterna. O ancião abraça a pequena criatura e, abraçando-a, sabe que abraça o futuro. Sente-se feliz por esta visão que, através dos seus braços, lhe garante a continuidade da sua vida. Ele esperou e acreditou: agora a sua esperança está aqui, precisamente nos seus braços, pequenina como uma criança, mas cheia de vitalidade e de futuro.

Esta cena tem algo de profundamente humano: é a experiência da pessoa que se alegra pelo facto de outros continuarem a sua obra; é a experiência da pessoa que se sente feliz, pelo facto de que, apesar da própria velhice e fragilidade, há sempre um despertar, uma renovação, um impulso: a vida não acaba, a vida continua, a vida vai por diante.  Não é fácil que, de facto, o homem velho, que sempre existe em nós, acolha esta criança, acolha o que é novo e surpreendente. Há, pelo contrário, em nós, o temor de que aquela criança possa não continuar ou não queira seguir o mesmo ideal; instala-se em nós o medo de que ela nos possa trair e tirar o lugar. Temos medo da novidade, temos medo de mudar.

Todavia, o velho Simeão que abraça este Menino representa o melhor de cada um de nós, perante a surpresa e a novidade de Deus. A novidade de Deus apresenta-se sempre como uma criança.  E nós, com os nossos hábitos e medos, temores e invejas, ansiedades e preocupações, como reagiremos diante desta criança, que representa a surpresa e a novidade de Deus? Abraçá-la-emos? Recebê-la-emos? Arranjaremos espaço para ela? Esta novidade entrará verdadeiramente na nossa vida? Ou procuraremos juntar o velho com o novo, deixando-nos impressionar o menos possível pela presença da novidade de Deus? Este é um dos grandes desafios do processo sinodal em marcha: acolher os desafios de Deus, mudar o que for preciso, para que a luz do Evangelho irradie pelo mundo.

Por isso, peçamos, desde já, ao Senhor: “Senhor, faz com que eu Te acolha, como uma novidade na minha vida; que eu não tenha medo de Ti; que eu não Te meça pela minha bitola; que eu não Te queira encaixar nos meus hábitos mentais; que eu me deixe transformar pela novidade da Tua presença. Faz, Senhor, com que, ao jeito de Simeão, eu Te receba, em toda a Tua novidade, em tudo o que, à minha volta, é verdadeiro, novo e bom. Que eu Te acolha em cada uma das crianças do mundo, em cada vida, em cada fermento de novidade, que Tu colocas no meu coração, à minha volta, na sociedade, na Igreja, no mundo”.

2. Caminhar na esperança da visão gloriosa

Na oração de Simeão há um imperativo: «Deixa o teu servo partir em paz, porque os meus olhos viram a salvação, que oferecestes as todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel vosso Povo». Esta oração supõe uma grande tensão interior, um sofrimento vivido, durante toda uma vida. Supõe que este homem de fé tenha continuado a viver, caminhando como um justo, e temente a Deus, segundo a Lei, sem nunca ver o objeto da sua esperança. Simeão é um homem que caminha na esperança e não na visão clara. Simeão reza assim porque, durante muitos anos, desejou ver a glória do seu povo. Viu-o humilhado, aflito, oprimido e esperou. Esperou ver a luz que ilumina todas as nações, prometida por Isaías, quando as nações oprimiam Israel. Viu a crueldade, o horror das nações e mortificou-se, através da dor e do desejo de ver com os próprios olhos a salvação de Deus. Mas agora vê. Esta visão da esperança que se cumpre é a grande experiência donde nasce o seu cântico de louvor.

3. Abrir os olhos do coração ao futuro

Agora Simeão vê uma criança e fala de salvação. Ele faz uma tal experiência que, aos olhos dos outros, nada significa, mas que, nele, iluminado pela fé e pelo Espírito Santo, significa ver a salvação. Simeão teve, portanto, a graça da abertura dos olhos ou, se quisermos, da abertura do coração, porque “o essencial é invisível aos olhos; só se vê bem com o coração”. Simeão soube acolher, por meio daqueles acontecimentos simples, do Menino levado por Maria e José ao Templo, a presença da salvação de Deus, que estava ali a manifestar-Se. E as suas esperanças cumpriram-se na paz. Daí irrompe a sua oração de louvor: “Senhor, basta! É tudo o que eu desejava, o meu coração está cheio; realizaram-se todos os meus desejos”.

Interroguemo-nos, pois, se dentro de nós existe esta esperança de salvação, o desejo de ver a glória do Seu Povo e a Luz das nações. Se dermos lugar ao silêncio, creio que certamente irromperá do nosso coração este grito cheio de desejo: “Senhor, vem e ilumina-me. Senhor, faz com que veja a Tua face, a tua justiça, a tua salvação. Que Eu veja, sem desesperar; que eu veja, para lá do que se vê: que eu O descubra, para além das aparências e dos sofrimentos, para além de tudo o que nos pode ofuscar os olhos”. E do desejo brotará a graça da abertura dos olhos: “Abre os meus olhos, Senhor, para que eu saiba ver os sinais da tua salvação no meio da minha vida. Senhor, faz com que eu não feche os olhos dizendo «este Menino não existe», «esta salvação não existe», «não há nada a fazer». Abre-me os olhos para que eu possa ver e compreender como a Tua salvação está no meio de nós e que basta abrir os braços para poder acolhê-la e apertá-la ao coração».  

Em tempo de Sínodo, para discernir o caminho a seguir, vale a pena perguntarmo-nos: “O que significa para mim abrir os olhos? O que é que implica para mim vencer os meus hábitos, os juízos desconfiados e banais acerca das coisas, das situações, das pessoas, em vez de descobrir a novidade de Deus, a sua verdade, a sua glória, o poder do amor de Deus? O que me está a impedir de ver a realidade e de vislumbrar com esperança o futuro”?

Irmãos e irmãs: a sabedoria do velho Simeão fê-lo ver algo que outros não viram naquele Menino: a salvação de Deus! Então, invoquemos o dom desta sabedoria, a sensibilidade espiritual, a abertura dos nossos olhos, para percebermos a presença de Deus, que está ao nosso lado, vivo e sempre a caminhar connosco, até ao fim dos tempos. Ámen.

 

Homilia na Festa da Apresentação do Senhor 2022 – forma mais breve [2]

 

Esta festa do “encontro” entre Deus e o seu Povo, entre a promessa e o seu cumprimento, entre a esperança e a sua realização, é tão luminosa, que, da nossa parte, queremos apenas hoje deixarmo-nos guiar por dois fios de luz, a partir dos olhos de Simeão. O primeiro fio de luz é a sua capacidade para acolher a novidade. O segundo é a graça da abertura dos seus olhos. Deixemo-nos guiar por estes dois pontos de luz.

1. Acolher a novidade: Um ancião abraça uma criança! São duas gerações em que, de algum modo, uma transmite a chama e outra recebe a chama. A chama é a luz da fé, a luz da salvação, a luz da vida eterna. O ancião abraça a pequena criatura e, abraçando-a, sabe que abraça o futuro. Sente-se feliz por esta visão que, através dos seus braços, lhe garante a continuidade da sua vida. Ele esperou e acreditou: agora a sua esperança está aqui, precisamente nos seus braços, pequenina como uma criança, mas cheia de vitalidade e de futuro. Esta cena tem algo de profundamente humano: é a experiência da pessoa que se alegra pelo facto de outros continuarem a sua obra; é a experiência da pessoa que se sente feliz, pelo facto de que, apesar da própria velhice e fragilidade, há sempre um despertar, uma renovação, um impulso: a vida não acaba, a vida continua, a vida vai por diante.  Não é fácil que, de facto, o homem velho, que sempre existe em nós, acolha esta criança, acolha o que é novo e surpreendente. Há, pelo contrário, em nós, o temor de que aquela criança possa não continuar ou não queira seguir o mesmo ideal; instala-se em nós o medo de que ela nos possa trair e tirar o lugar. Temos medo da novidade, temos medo de mudar. Todavia, o velho Simeão que abraça este Menino representa o melhor de cada um de nós, perante a surpresa e a novidade de Deus. A novidade de Deus apresenta-se sempre como uma criança.  E nós, com os nossos hábitos e medos, temores e invejas, ansiedades e preocupações, como reagiremos diante desta criança, que representa a surpresa e a novidade de Deus? Abraçá-la-emos? Recebê-la-emos? Arranjaremos espaço para ela? Esta novidade entrará verdadeiramente na nossa vida? Ou procuraremos juntar o velho com o novo, deixando-nos impressionar o menos possível pela presença da novidade de Deus? Este é um dos grandes desafios do processo sinodal em marcha: acolher os desafios de Deus, mudar o que for preciso, para que a luz do Evangelho irradie pelo mundo.

2. Abrir os olhos do coração: Agora Simeão vê uma criança e fala de salvação. Ele faz uma tal experiência que, aos olhos dos outros, nada significa, mas que, nele, iluminado pela fé e pelo Espírito Santo, significa ver a salvação. Simeão teve, portanto, a graça da abertura dos olhos. Simeão soube acolher, por meio daqueles acontecimentos simples, do Menino levado por Maria e José ao Templo, a presença da salvação de Deus, que estava ali a manifestar-Se.

Em tempo de Sínodo, para discernir o caminho a seguir, vale a pena perguntarmo-nos: “O que significa para mim abrir os olhos? O que é que implica para mim vencer os meus hábitos, os juízos desconfiados e banais acerca das coisas, das situações, das pessoas, em vez de descobrir a novidade de Deus, a sua verdade, a sua glória, o poder do amor de Deus? O que me está a impedir de ver a realidade e de vislumbrar com esperança o futuro”?

 Irmãos e irmãs: a sabedoria do velho Simeão fê-lo ver algo que outros não viram naquele Menino: a salvação de Deus! Então, invoquemos o dom desta sabedoria, a sensibilidade espiritual, a abertura dos nossos olhos, para percebermos a presença de Deus, que está ao nosso lado, vivo e sempre a caminhar connosco, até ao fim dos tempos. Ámen.



[1] Para este homilia, seguimos, adaptando, um texto de CARLO MARIA MARTINI, Itinerário de oração com o Evangelista São Lucas, Ed. Paulistas, Lisboa 1984, 47-54.

[2] Para este homilia, seguimos, adaptando, um texto de CARLO MARIA MARTINI, Itinerário de oração com o Evangelista São Lucas, Ed. Paulistas, Lisboa 1984, 47-54.

 

 

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