Liturgia e Homilias no IV Domingo Comum C 2022
Destaque

E continuamos, com Jesus, na sinagoga de Nazaré, onde há novos desenvolvimento na reação dos seus conterrâneos. Depois do maravilhamento e louvor, vem o desencanto e a hostilidade. Quão depressa muda o coração em Nazaré. O fracasso de Jesus em Nazaré ajuda-nos a mantermo-nos de pé perante a rejeição, a recusa e a perseguição. Nós aqui vimos, para acolher Jesus, para que Ele não seja expulso da nossa cidade, nem rejeitado pelo nosso coração e para que Ele nos anime e fortaleça na missão. Deixemos que a Sua Palavra nos arda cá dentro e o Seu amor se apodere de nós.

Homilia no IV Domingo Comum C 2022

 

1. De herói admirado e elogiado a vilão odiado e perseguido… foi um instante. De Messias esperado até ser tratado e apoucado por filho de José… foi um passo atrás de gigante. Jesus perde votos de apoio na terra onde se tinha criado. Há um volte-face na campanha de Jesus, pela Galileia, desde que apresentou o Seu Manifesto de Nazaré, com um programa, sem privilégios nem milagres para os de casa! Os analistas, por certo, irão tentar perceber e discorrer sobre o que se passou, para tão drástica mudança de expetativas, mas o Evangelho deixa algumas notas, para compreender esta viragem ao arrepio de todas as sondagens.

 

2. Em primeiro lugar, os conterrâneos julgam que, sendo Jesus um deles, deve demonstrar esta sua estranha pretensão de Messias, realizando milagres ali, em Nazaré, como o fez nos povoados vizinhos. Mas Jesus não quer e não pode aceitar esta lógica, porque não corresponde ao plano de Deus: Deus quer a fé, eles querem os milagres, os sinais; Deus quer salvar a todos, e eles desejam um Messias em benefício próprio. E para explicar esta lógica de Deus, Jesus cita o exemplo de dois grandes profetas: Elias e Eliseu. Eles foram enviados por Deus para curar e salvar pessoas estrangeiras, não judias, mas que, apesar disso, tinham confiado na Sua Palavra. Diante deste convite a abrir os seus corações à gratuidade e à universalidade da salvação, os cidadãos de Nazaré revoltam-se e chegam a assumir uma atitude agressiva de rebelião e perseguição até à morte.

 

3. Em segundo lugar, nem todos os vizinhos de Nazaré estavam prontos para acreditar em Alguém que conheciam e tinham visto crescer e que os convidava a realizar um sonho há muito aguardado. Antes, pelo contrário! Diziam: «Mas não é o filho de José?». A nós, também pode suceder o mesmo, quando preferimos um Deus à distância: magnífico, bom, generoso, bem desenhado, mas distante e sobretudo que não incomode, um Deus «domesticado». Porque um Deus próximo no dia a dia, um Deus amigo e irmão pede-nos para aprendermos proximidade, presença diária e, sobretudo, fraternidade. Ora, Deus não quis manifestar-Se de modo angélico ou espetacular, mas quis oferecer-Se-nos com um rosto fraterno e amigo, concreto, familiar. Há quem prefira manter o distanciamento social!

 

4. Em terceiro lugar, esta cena põe em evidência o ciúme e a inveja, a tristeza e a mesquinhez, com que olhamos para o bem do outro, com que desprezamos as suas qualidades.  A inveja é a tristeza por um bem alheio, demonstrando que não nos interessa nada a felicidade dos outros, mas apenas o nosso bem-estar. Por isso, em vez de estima, de gratidão, de regozijo e de congratulação, pelo sucesso e progresso dos outros, deixamo-nos contaminar pelo sabor amargo da inveja (AL 91).E daí, em vez dos elogios e felicitações, começam as críticas e murmurações, os comentários baixos, para depreciar, denegrir, diminuir, apoucar e desvalorizar o outro, como se aquela pessoa (da nossa família, do nosso bairro, do nosso grupo, da nossa paróquia), não fosse assim tão boa quanto parece. Não raro, valorizamos todo o ouro que vem de fora, e desprezamos a prata da casa. Na relação entre marido e mulher, na relação entre pessoas da mesma família e até da mesma paróquia, há muitas vezes um défice de estima recíproca pelos dons que Deus confia a cada um em benefício de todos. Ora, no dizer de São Paulo, o amor não é invejoso (1 Cor 13,4), mas rejubila com a verdade (1 Cor 13,6), isto é, alegra-se com o bem do outro, reconhece a sua dignidade, aprecia as suas capacidades e as suas obras.

 

5. Irmãos e irmãs: façamos da família – e da paróquia como família de famílias – o lugar onde qualquer pessoa, que consegue algo de bom na vida, sabe que aí todos se vão congratular com ela (cf. AL 110). Não desprezemos os dons proféticos, que florescem em nossa casa, na nossa família, na nossa terra, para que uma pessoa, que nasceu e cresceu entre nós, para ser profecia e anúncio do Reino de Deus, não acabe diminuída e empobrecida pela nossa inveja. Se isso vier a acontecer, Jesus ensina-nos a reagir: “passando pelo meio deles, seguiu o Seu caminho” (Lc 4,30).

 

Top

A Paróquia Senhora da Hora utiliza cookies para lhe garantir a melhor experiência enquanto utilizador. Ao continuar a navegar no site, concorda com a utilização destes cookies. Para saber mais sobre os cookies que usamos e como apagá-los, veja a nossa Política de Privacidade Política de Cookies.

  Eu aceito o uso de cookies deste website.
EU Cookie Directive plugin by www.channeldigital.co.uk