Liturgia e Homilias no XXIII Domingo Comum B 2021
Destaque

Somos assembleia acolhida e reunida, em nome de Cristo. Aqui viemos, guiados e acompanhados, para o encontro pessoal com Cristo. Aqui estamos, para abrir os nossos ouvidos à Palavra de Deus e para proclamar, de viva voz, os louvores do Senhor.O Evangelho deste domingo desafia-nos a esta abertura dos ouvidos e da boca, da alma e do coração, a Cristo, para que Ele rompa os nossos bloqueios e divisões e nos torne comunidade de pessoas acolhedoras, inclusivas e participativas, onde há lugar para todos, com a sua vida frágil e fatigante.  

HOMILIA NO XXIII DOMINGO COMUM B 2021

1.Levaram a Jesus um surdo-mudo! Um homem aprisionado no silêncio, uma vida reduzida a metade. É apresentado a Jesus por uma pequena comunidade de pessoas que lhe querem bem. Elas pedem a Jesus para lhe impor a mão. Mas Jesus faz muito mais. Toma-o, provavelmente pela mão, e leva-o consigo, à parte, longe da multidão, exprimindo-lhe assim uma atenção especial; já não é um dos muitos marginalizados anónimos, agora é o preferido, e o Mestre é todo para ele, e começam a comunicar assim, com a atenção, olhos nos olhos, sem palavras. E seguem-se gestos muito corpóreos e ao mesmo tempo muito delicados. Jesus põe o dedo nos ouvidos do surdo: o toque dos dedos, as mãos que falam sem palavras. Jesus entra numa relação corpórea, não etérea ou afastada, mas como um médico capaz e humano, dirige-Se ao que é frágil, toca esses sofrimentos. Depois, com a saliva, toca a sua língua. Olhando para o céu, emana de Jesus um suspiro e diz-lhe «Efatá», isto é, «Abre-te»! E aquele homem, ouvido no seu clamor começou a escutar, silenciado pela sua mudez começou a falar. É todo um Evangelho de contactos, de odores, de sabores (cf. Ermes Ronchi, In Avvenire, 6.9.2018).

2.Esta prática libertadora de Jesus que acolhe os marginalizados e as pessoas com deficiência, esta ação inclusiva de Jesus que comunica de forma sensível, adaptando-se aos seus interlocutores e falando a sua linguagem, esta atitude pastoral de Jesus que promove a inclusão e a participação das pessoas com deficiência abre-nos algumas pistas de ação pastoral para este novo ano pastoral. Destacaremos apenas algumas:

2.1.De facto, não se chega a Jesus sem que alguém abra porta e caminho para Ele. Destaco, por isso, a importância do acolhimento, à porta da Igreja e dentro dela. Precisamos de aprender a não cativar o nosso lugar, mas a dar lugar aos outros, e sobretudo a tornarmo-nos um lugar para os outros. Nestes tempos de pandemia, a prática do acolhimento, à porta da Igreja, habituou-nos a não entrar de rompante, a não nos isolarmos ou apoderarmos rapidamente do nosso lugar na assembleia, a darmos a vez aos outros. É preciso que este acolhimento permaneça e se alargue, de modo que se torne atitude pessoal e pastoral de cada um dos fiéis. Assim, quem quer que atravesse o limiar da porta encontrará sempre um rosto sorridente, uma mão estendida, um guia solícito, um interlocutor atento, capaz de falar a mesma linguagem. Precisamos de pessoas disponíveis para este verdadeiro ministério do acolhimento. Quem terá ouvidos abertos, um sim feliz nos lábios, um coração disponível?

2.2.Este acolhimento precisa de se prolongar para além das celebrações e também ao longo da semana, mantendo abertas as portas das nossas igrejas. Temos constituído o grupo Porta Aberta, que garante a abertura e a vigilância da Igreja, todos os dias. Muitos idosos e reformados deixaram de exercer esse ministério por falta de saúde ou por se sentirem em risco, durante a pandemia. Peço aos reformados, aos idosos, às pessoas com alguma disponibilidade de tempo que integrem este grupo e prestem este serviço tão essencial. Quem poderá dar uma hora ou duas do seu rico tempo, para dar as boas-vindas a quem nos visita e procura?

2.3.Somos também chamados a promover uma prática pastoral inclusiva, que torne acessível a graça de Deus e a participação ativa na vida da comunidade cristã, de todas as pessoas com deficiência: dos surdos e dos mudos, dos mais pequeninos e dos idosos, enfim, de todas as pessoas frágeis. O objetivo não é apenas cuidar delas, mas acompanhá-las e ungi-las de dignidade, através de uma participação ativa na comunidade, para se tornarem sujeitos ativos da pastoral e não apenas destinatários. A este respeito, já criámos uma rampa de acesso à Igreja e aos serviços pastorais, para as pessoas com mobilidade reduzida. Já integrámos na Catequese e em alguns grupos pastorais pessoas com vários tipos de deficiência. Mas precisamos de convidar, de chamar, de integrar ainda mais pessoas com deficiência mental, por exemplo, no Movimento Fé e Luz. Precisamos de retomar o acompanhamento de uma Missa por mês com um tradutor de língua gestual. Precisamos de recorrer ainda mais e melhor às novas tecnologias para fazer chegar mais longe o anúncio do Evangelho e o testemunho da comunidade. Percebemos todos que as pessoas com deficiência revelam bem a nossa deficiência para com elas. Quem está disponível para as incluir, acolher, integrar, acompanhar, envolver e fazer participar na vida da nossa comunidade?

3.Irmãos e irmãs: muito mais haveria e haveremos de propor no âmbito desta ação pastoral de acolhimento, de inclusão e de participação, para que as pessoas com deficiência, os mais pobres, os sós e frágeis, sintam a Igreja como sua casa e se sintam na Igreja como em sua casa. Precisamos de lhes dar vez e voz, de modo que nesta comunidade não haja a divisão entre «eles» e «nós», entre os ricos e os pobres, entre os bem e os mal vestidos, mas haja apenas o «nós», pois a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo não deve admitir aceção e distinção de pessoas. Teremos nós consciência da riqueza que representa para a Igreja e para a sociedade aqueles que consideramos os mais frágeis? Com quem contamos e a quem descontamos no serviço do Reino de Deus?

Fique-nos a arder na consciência esta pergunta final da Carta de São Tiago: “Não escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que Ele prometeu àqueles que O amam?” (Tg 2,5).

 


 

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