Homilia no XIV Domingo Comum B 2021
O famoso profeta de Nazaré «está a jogar em casa», mas perde três pontos em três tempos: os seus conterrâneos mudam muito rapidamente a tática do jogo: primeiro, ouvem-no com espanto e admiração; logo a seguir, questionam-se com perplexidade; e, por fim, escandalizam-se com Ele.
1.E por que se escandalizaram os judeus com Jesus? Por uma coisa muito simples: pela sua origem humilde, pela sua pobreza, pela sua humanidade. Não lhes parecia bem que o Filho de Deus fosse conhecido por ser o filho do carpinteiro. Não lhes passava pela cabeça que um Deus tão grande Se fizesse homem, Se tornasse assim tão pequenino, tão próximo deles. No fundo, os contemporâneos de Jesus escandalizaram-se com a “encarnação”, isto é, com este acontecimento divino e humano, pelo qual a Palavra de Deus se fez carne em Jesus e assim Deus Se manifestou ao mundo como um ser humano, que pensa com inteligência humana, trabalha e age com mãos humanas, ama com coração humano, come e dorme, cansa-Se, tem fome e sede, chora e ri, como um de nós. Este escândalo será ainda maior, quando Jesus Se mistura com os pecadores nas águas do Jordão, quando Jesus Se faz servo e lava os pés aos discípulos, quando morre na Cruz, solidário até ao extremo do amor com a nossa condição humana! É este o motivo de escândalo e de incredulidade não só naquela época, em todas as épocas, mas também hoje.
2.Queridos irmãos e irmãs: para nós, talvez fosse mais fácil acreditar em Jesus, como Filho de Deus, se Ele Se revelasse forte, poderoso, imponente, espetacular. Mas não. O Senhor convida-nos a assumir uma atitude de escuta humilde e de expectativa dócil, porque a graça de Deus apresenta-se, com frequência, de maneiras surpreendentes, que não correspondem às nossas expectativas. Pensemos juntos na Santa Madre Teresa de Calcutá, por exemplo. Uma religiosa pequenina — ninguém dava dez tostões por ela — que ia pelas ruas recuperar os moribundos para que tivessem uma morte digna. Esta pequenina religiosa fez maravilhas com as orações e com as suas obras! A pequenez de uma mulher revolucionou as obras de caridade na Igreja. É um exemplo dos nossos dias. Deus não Se conforma com os preconceitos. São grandes aos olhos de Deus os mais pobres, os mais simples, os mais pequeninos, os mais fracos. É com eles que Deus conta, é convosco que Ele conta, é contigo que Ele conta para transformar este mundo! Então, cada vez que deixarmos Deus ser Deus, aderirmos a um Deus que prefere os pobres e levanta os fracos, poderemos então dizer como Paulo: “quando sou fraco, então é que sou forte” (2 Cor 12,10).
3.Este Evangelho põe também o dedo na ferida da nossa pouca fé ou da nossa falta de fé, que é um obstáculo à graça de Deus. Talvez muitos de nós, batizados, pouco mais conhecemos de Jesus do que a terra onde nasceu, o nome da mãe e do pai, mas nunca O reconhecemos como Filho de Deus; talvez tenhamos algum saber doutrinal acerca de Jesus, mas nunca O saboreámos como água viva, que lava e dessedenta, perfume que nos unge de dignidade e nos fortalece, Pão que dá vida, Vinho novo da alegria, Perdão que nos levanta do chão, Amor que dá ao coração uma alegria maior. Quantas vezes, na prática, vivemos como se Cristo não existisse nem contasse para nada: repetimos mecanicamente os gestos e os sinais da fé, mas a isso não corresponde uma adesão real à pessoa de Jesus nem ao seu Evangelho.
Que o Senhor desfaça a dureza dos nossos corações e a limitação das mentes, para que sejamos abertos à sua graça, à sua verdade e à sua missão. E que os tempos de verão nos aproximem muito mais desta Fonte de Vida, que é Cristo. E, por favor, não escandalizemos o mundo com uma fé à nossa estreita medida!
Homilia no XIV Domingo Comum B 2021 | Festa da Eucaristia com Batismos
O famoso profeta de Nazaré «está a jogar em casa», mas perde três pontos em três tempos: os seus conterrâneos mudam muito rapidamente a tática do jogo: primeiro, ouvem-no com espanto e admiração; logo a seguir, questionam-se com perplexidade; e, por fim, escandalizam-se com Ele.
1.E por que se escandalizaram os judeus com Jesus? Por uma coisa muito simples: pela sua origem humilde, pela sua pobreza, pela sua humanidade. Não lhes parecia bem que o Filho de Deus fosse conhecido por ser o filho do carpinteiro. Não lhes passava pela cabeça que um Deus tão grande Se fizesse homem, Se tornasse assim tão pequenino, tão próximo deles. No fundo, os contemporâneos de Jesus escandalizaram-se com a “encarnação”, isto é, com este acontecimento divino e humano, pelo qual a Palavra de Deus se fez carne em Jesus e assim Deus Se manifestou ao mundo como um ser humano, que pensa com inteligência humana, trabalha e age com mãos humanas, ama com coração humano, come e dorme, cansa-Se, tem fome e sede, chora e ri, como um de nós. Este escândalo será ainda maior, quando Jesus Se mistura com os pecadores nas águas do Jordão, quando Jesus Se faz servo e lava os pés aos discípulos, quando morre na Cruz, solidário até ao extremo do amor com a nossa condição humana!
2.Mas este “escândalo”, com o modo de Deus ser e agir, terá uma réplica, na mesma sinagoga de Nazaré. Um dia, no mesmo local, Jesus, depois do sinal da multiplicação dos pães, fez um Discurso, onde Se oferecia como “Pão da Vida”, Pão vindo do Céu, Pão que sacia a fome e a sede de vida eterna. Nessa altura, os judeus diziam: “Não é Ele, Jesus, o filho de José, de quem nós conhecemos o pai e a mãe? Como se atreve a dizer «Eu desci do Céu?»” (Jo 6,42). E quando Jesus lhes anunciava o mistério da Eucaristia, em que Ele Se oferece no seu Corpo dado e no seu Sangue derramado, através dos sinais do Pão e do Vinho, os próprios discípulos reagiram dizendo: “Que palavras insuportáveis! Quem pode entender isto?” (Jo 6,60). E então Jesus disse-lhes: “Isto escandaliza-vos?” (Jo 6,62).
3.Queridos meninos e meninas, queridos pais, avós, padrinhos, catequistas, irmãos e irmãs: para nós, talvez fosse mais fácil acreditar em Jesus, como Filho de Deus, se Ele Se revelasse forte, poderoso, imponente, espetacular. Mas não.
Entra na nossa vida, a partir do Batismo, como corrente de água viva; na Eucaristia faz-Se presente num pedacinho de Pão, que se parte e se esmigalha. Na Eucaristia, esta fragilidade é força do amor que Se faz pequeno para ser acolhido e não temido; é força do amor que Se parte e Se divide para alimentar e dar vida; é força do amor que Se fragmenta para nos reunir.
4.Por isso, tenhamos claras duas atitudes: primeira: a presença do Senhor na nossa vida, desde o Batismo, nos sacramentos e, sobretudo, na Eucaristia, é tão humilde, tão escondida, que precisa de um coração preparado, desperto e acolhedor, para ser reconhecida; precisa do olhar do coração, do olhar da fé, capaz de ver o invisível; segunda: “A Eucaristia não é um prémio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos” (EG 47).
5.Por isso, cada vez que recebemos o Pão da Vida, Jesus também nos diz: Como são grandes aos olhos de Deus os mais pobres, os mais simples, os mais pequeninos, os mais fracos. É com eles que Eu conto, é convosco que Eu conto, é contigo que Eu conto, para transformar este mundo!
Então, cada vez que n’Ele renascermos e d’Ele comungarmos, podemos dizer como Paulo: “quando sou fraco, então é que sou forte” (2 Cor 12,10).