Homilia no Domingo de Páscoa B 2021
1.Passado o sábado, o dia do grande confinamento, três mulheres despedem-se da noite e chegam ao sepulcro ao nascer do sol. A seus olhos não veem como remover a pedra, como se livrar daquele peso insustentável da morte de Jesus. O desejo é embalsamar o seu corpo morto, pôr o último selo de amor sobre a morte do amigo. Mas são surpreendidas, na manhã daquele domingo, o primeiro dia da semana. A pedra fora removida por uma mão invisível e poderosa. À entrada do sepulcro, a cor escura da noite veste-se de branco e o velho dá lugar a um rosto de juventude. Elas ficaram assustadas. Afinal, são as primeiras a descobrir o sepulcro vazio, o ventre aberto do mistério da manhã de Páscoa. A mensagem é clara: “Procurais a Jesus de Nazaré, o Crucificado? Ressuscitou. Não está aqui” (Mc 16,6). Não era fácil ler o sinal daquele vazio, porque não havia memória nem história de uma ressurreição assim!
2. A Ressurreição de Jesus é uma novidade inteiramente nova. Jesus está vivo. Mas não voltou à vida que tinha. É o Eterno Vivente e não um morto reanimado, que volta à vida de antigamente. Jesus não volta para trás. Pelo contrário, a senha dada pelo jovem é clara: “Ele vai adiante de vós, para a Galileia. Lá O vereis” (Mc 16,7).
3. Doravante, onde vive, onde se vê a vida nova de Cristo Ressuscitado? Ele está vivo e vive… e isso vê-se na fé e no testemunho dos discípulos que superaram o trauma do confinamento e da morte, com a paz oferecida pelo Ressuscitado. Ele está vivo e vive… e isso vê-se na fé de todos aqueles que O deixaram entrar e transformar as suas vidas. Ele está vivo e vive… e isso vê-se nos que lutam pela vida dos outros até ao sacrifício da sua própria vida. Ele está vivo e vive… e isso vê-se nos que dão testemunho d’Ele, sem medo e até à morte. Ele está vivo e vive e isso vê-se… em todos os que O procuram, por dentro do vazio, de coraçãosincero. Ele está vivo e vive… e isso vê-se em tempos de pandemia, em tantas vidas que se converteram, em tantos servidores ocultos do bem, que esta hora da história trouxe à luz do dia. Vemo-lo em tantos sinais vitais de vitória sobre o egoísmo, sobre o mal e sobre a morte. Na verdade, a ressurreição de Jesus não é algo do passado; é uma ressurreição contínua. Ela contém uma força de vida, que penetra o coração do nosso mundo. Onde parece que tudo morre, surgem rebentos de uma Primavera e “crescem nas asperezas do caminho pequenas flores brancas da esperança! Não podem os espinhos afogá-las, pois foi o amor que as chamou à vida”.
4. Irmãos e irmãs: que poderiam dizer-nos estas três mulheres da manhã de Páscoa? Que coordenadas nos poderiam dar, para encontrar hoje vivo o Senhor, sobre os escombros desta pandemia?
4.1. A primeira palavra seria esta: Não queiras embalsamar o passado, por muito glorioso que te pareça! O vazio desta hora está a dizer-te que se abre uma nova página da história, voltada para o futuro. Não queiras voltar à vida de antigamente! Também Jesus não volta para trás. Com Ele, o caminho é adiante, para a frente!
4.2. A segunda palavra seria esta: Levanta-te do chão. Não faças da visita pascal um compasso de espera! Vai adiante, até à Galileia dos gentios. Sai ao encontro de quem anda à deriva e, porventura, conta contigo na sua procura! As ‘igrejas vazias’ dizem-te que o teu amigo, o teu irmão já não está aqui. Por onde andará? Será que se perdeu? Será que adoeceu? Será que alguém lhe morreu? Será que ficou para trás? Não estará ele à espera que lhe dês sinais de vida? Estará ele a precisar de uma mão? Faz esta visita pascal, de modo pessoal, por via telefónica ou por rede digital!
4.3. Por fim, a terceira palavra seria esta: se queres ressurgir em força desta pandemia, desconfina a Páscoa: volta com alegria, no primeiro dia da semana, à mesa da Eucaristia. Se guardares fielmente este tesouro da Eucaristia, também ele te guardará de uma vida pobre, morta ou vazia. Celebremos, todos juntos, em ritmo dominical, a nossa Páscoa semanal, a Festa de Cristo, nosso Cordeiro Pascal!