Homilia no III Domingo da Quaresma B 2021
Todos juntos na Arca da Aliança.Dentro da Arca da Aliança, os judeus guardavam este tesouro precioso: o Decálogo, gravado em duas tábuas de pedra, com as Dez Palavras, que conhecemos por Dez Mandamentos. Da reflexão atenta sobre o Decálogo, podemos deduzir alguns princípios da pedagogia divina, para tomarmos consciência desse outro tesouro precioso, que é a Educação. Aprendamos de Deus a cuidar deste tesouro. Fixemo-nos em cinco pontos:
1.º: Deus educa o seu Povo, amando-o (Ex 20,2).Deus nunca nos pede nada sem que primeiro nos dê tudo. Primeiro, está o que Deus fez por Israel, depois a resposta de gratidão do Povo à sua eleição. Aprendamos então da pedagogia divina isto mesmo: educar é um ato de amor. Para educar os filhos, os catequizandos, os alunos, é preciso conquistar a sua confiança com o carinho e o testemunho e não com o medo e a força. E isso implica, antes de tudo, amá-los. É a experiência do amor e não do temor que dá autoridade verdadeira ao educador.
2.º: Deus educa o seu povo, corrigindo-o (Dt 8,5). E corrige-o não só com a sua Palavra de sabedoria, mas com os acontecimentos da vida, que se transformam em verdadeiros “ensinamentos” (cf. Dt 8,2-3). E qual é o filho a quem o pai ou a mãe não corrige? (cf. Dt 8,5; Heb 12,6).Mas, para que uma correção seja acolhida por quem a recebe, como sinal de preocupação pelo seu maior bem, é muito importante que não seja aplicada em estado de ira, num clima emocional de descontrolo dos educadores. Senão, a correção é apenas disfarce de uma vingança, de uma afirmação de poder do mais forte sobre o mais fraco. Pelo contrário, quem écorrigido com amor sente-se tido em consideração, dá-se conta de que reconhecem as suas potencialidades e aceita a correção como um estímulo de crescimento.
3.º: Deus educa dialogando e não «mandando» (Ex 20,1; Ex 34,28; Dt 4,13; 10,4).A Escritura fala em «dez palavras» e não em “dez mandamentos”. Por isso, aprendamos da pedagogia divina a percorrer com paciência, benevolência e compaixão este diálogo educativo, que integre a sensibilidade e a linguagem própria dos mais novos, até que estes compreendam a importância de certos valores, princípios e normas, em vez de lhos impormos como verdades indiscutíveis.
4.º:Deus educa o Seu Povo na liberdade e para a liberdade.Primeiro, está o dom da libertação e só depois o dever e a obrigação. Primeiro, está a relação de amor com Deus e só depois o cumprimento da lei.Aqui, a lei destina-se a preservar a liberdade. Então, devemos educar sempre na liberdade e para a liberdade. As regras e a disciplina moral destinam-se apenas a colocar ‘limites construtivos’, sinais de orientação no caminho, e não ‘muros inibidores’. O controlo excessivo não educa para a liberdade. A educação envolve a tarefa de promover liberdades responsáveis que, nas encruzilhadas, saibam optar com sensatez e inteligência.
5.º: Deus educa-nos como povo chamado a viver em aliança.Educa-nos através da transmissão da fé e da cultura em família, através da pregação dos profetas, através da tradição oral e do ensino dos sábios, através do vínculo entre mestres e discípulos (cf. Sir 24,30-34).Ora, hoje vivemos num contexto de emergência educativa, porque se abriu uma rutura entre família, sociedade e escola. Os “peritos” substituem os pais, a família não é reconhecida ou não se assume como primeiro e indispensável sujeito educador; os alunos deixam de ser ouvidos e tidos em conta, nos seus próprios processos educativos! Precisamos de um pacto educativo global para e com as novas gerações, que empenhe as famílias, as comunidades, as escolas e as universidades, as instituições, as religiões, os governantes, a humanidade inteira, na formação de pessoas maduras. Sem esta aliança educativa, não há base sólida para uma esperança realista na mudança que sonhamos para o nosso mundo. Também aqui, no campo educativo, temos de estar juntos. Para educar alguém é mesmo precisa uma «aldeia inteira», uma comunidade unida por um pacto educativo global! Façamo-lo, todos juntos, na arca da aliança!