Liturgia e Homilias no XV Domingo Comum A 2020
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O tempo do verão e das férias permite-nos saborear a beleza e a riqueza da Criação. À beira-mar ou no alto da montanha, à sombra de uma árvore ou de sol a sol por entre as searas, os céus e a Terra proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das Suas mãos. Somos desafiados a abrir o livro da Natureza, com as mãos de um jardineiro e o coração de um poeta. A Natureza está cheia de palavras de amor, mas a pressa e o ruído, as ocupações e preocupações impedem-nos muitas vezes de as ouvir e compreender. Procuremos, desde já, desimpedir do terreno do nosso coração tudo o que impeça de deixar frutificar a boa semente da Palavra de Deus.

Homilia no XV Domingo Comum A 2020

1. Sentado à beira-mar está Jesus com o Seu olhar contemplativo sobre a Criação: um olhar cheio de atenção, de carinho e de admiração. A partir do livro da Natureza, Jesus ensina a necessária sinergia entre a potência da boa semente (a Palavra divina) e os terrenos diversos (do coração humano) onde a semente pode ou não frutificar. Isaías contemplava a descida e o retorno da água (da chuva e da neve) e comparava-os ao movimento da Palavra divina, que primeiro desce do alto e ressoa no coração humano e logo depois retorna às alturas, sob a forma de oração ao Senhor. Também o apóstolo Paulo fixa os seus olhos na Criação inteira. Ele fala-nos das criaturas que sofrem ainda as dores da evolução e gemem por causa dos abusos indescritíveis das nossas mãos desumanas. Por isso, as criaturas anseiam pela gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Só os filhos de Deus saberão viver como irmãos e cuidar do mundo com as mãos benignas e agradecidas de um jardineiro e não com as mãos assassinas dos corruptos e abusadores.

 

2. Realmente a Natureza, na sua harmonia, está cheia de palavras de amor, mas a pressa e o ruído impedem-nos muitas vezes de as ouvir e compreender (cf. LS 225). A mesma Natureza, na sua agonia, vítima espezinhada de tantos abusos, está hoje a gritar por uma mudança radical do comportamento humano. Nunca maltratámos e ferimos a Terra como nos últimos dois séculos. A trágica pandemia do coronavírus veio mostrar que a Natureza não perdoa e que temos, por isso, de crescer na consciência do cuidado pela Criação. É nossa vocação sermos guardiães da obra de Deus (cf. LS 217), para que a Terra, nossa Casa comum, seja o que Deus sonhou ao criá-la e corresponda ao seu projeto de paz, de beleza e de plenitude (cf. LS 53).

 

3. Irmãos e irmãs: os meses de julho e de agosto, o tempo de férias e de descanso, proporcionam-nos a experiência de um contacto gratuito, gozoso e harmonioso com a Natureza. Deixo cinco sugestões simples para um novo estilo de vida, para uma verdadeira aliança de paz entre a humanidade e o ambiente:

3.1. Primeira: cuidemos de pequenas ações diárias, tais como evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias, reutilizar em vez de desperdiçar (cf. LS 211).

3.2. Segunda: regressemos a uma vida mais simples e mais sóbria, que se alegra com pouco e não está obcecada pelo consumo (cf. LS 222; 27) pois, quanto menos coisas estão à nossa mesa, tanto mais e melhor as poderemos saborear (cf. LS 222). 

3.3. Terceira: cultivemos o sentido da gratidão e da admiração, do maravilhamento e da contemplação, diante da beleza e da harmonia da Criação, através de um olhar contemplativo e não possessivo, orante e não evasivo.

3.4. Quarta: façamos a oração de bênção antes e/ou no final das refeições, pelo menos, aos domingos, no almoço, em família. A bênção da mesa recorda-nos que a nossa vida depende de Deus, fortalece o nosso sentido de gratidão pelos dons da Criação, dá graças por aqueles que, com o seu trabalho, fornecem os bens, e reforça a solidariedade com os mais necessitados (cf. LS 227).

3.5. Por último, vivamos o descanso dominical como repouso gratificante e agradecido, reparador das forças e restaurador das nossas relações com Deus, com os outros e com a Criação. Participemos na Eucaristia que, de certo modo, é sempre celebrada sobre o altar do mundo. Ela une o Céu e a Terra, abraça e penetra toda a Criação. Assim, o dia de descanso, centrado na Eucaristia, difundirá a sua luz e a sua paz sobre a semana inteira e dar-nos-á novo alento para cuidar da nossa Casa comum e servir os pobres (cf. LS 237).

 

Irmão, irmã: se queres cuidar da Criação e fazer dela a Terra boa, cuida primeiro da limpeza do teu coração, para que ele se torne essa boa terra, que dará frutos de alegria e de harmonia, de liberdade e de paz, para o bem de todos os que habitamos a nossa Casa comum!  


 

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