Liturgia e Homilias na Solenidade do Pentecostes A 2020
Destaque

 

Estamos a concluir a cinquentena pascal, com a belíssima solenidade do Pentecostes, em que o Espírito Santo põe fim ao confinamento da Igreja e abre todas as portas e janelas para a missão. Nós que experimentamos, como os discípulos, um longo tempo em casa, com as portas fechadas das nossas igrejas, retomamos agora, pouco a pouco, a alegria do encontro dominical, à volta da mesa da Eucaristia. Não é ainda o que nós desejaríamos, mas estamos todos em comunhão com todos os que abrem as portas de sua Casa à presença do Senhor que, lá como aqui, entra para ficar, derrama o Espírito do Seu amor para nos unir e reunir, para nos animar e fortalecer, para nos fazer entrar no íntimo de Deus e nos fazer sair para o coração do mundo.

 

Homilia na Solenidade do Pentecostes 2020

 

1. Com o Pentecostes acaba de vez o confinamento dos discípulos, que estavam reunidos, à porta fechada, no Cenáculo. Não estavam de quarentena. Estavam em cinquentena pascal, “todos reunidos no mesmo lugar (At 2,1). E, nesse longo tempo de confinamento, cresceram na familiaridade, na escuta e na partilha da Palavra, na compreensão do mistério de Jesus vivo, morto e ressuscitado. Desse Jesus que entra, mesmo com as portas fechadas, para comunicar aos discípulos o dom do Espírito Santo. De facto, nenhuma porta fechada impede Jesus de entrar na nossa vida e de nos fazer sair com Ele. Nenhuma porta fechada impede o Espírito Santo de agir, se o Seu amor arder e permanecer no nosso coração. Diríamos que o Espírito Santo nos fecha dentro de portas, por algum tempo, para nos abrir “novas janelas”, para nos capacitar para uma missão universal.

 

2. Podemos então dizer que o Espírito Santo atua como uma força, ao mesmo tempo centrípeta e centrífuga. Como força centrípeta, o Espírito Santo impele os discípulos para o centro, para a interioridade, para a intimidade com Deus, porque atua desde o coração, infundindo a unidade na fragmentação, a paz nas aflições, a fortaleza nas tentações. O Espírito Santo permitiu aquele longo tempo, à porta fechada, para os unir e consolidar na fé, para os fazer crescer como nova família, para lhes dar a força interior para depois avançar em direção ao mundo. E, neste sentido, o Espírito Santo desce sobre eles, no Pentecostes, com toda a sua força centrífuga, porque os impele para o exterior, porque os provoca a sair da sua comodidade doméstica, para anunciar e testemunhar a todos o Evangelho. Numa palavra, o Espírito Santo, que nos conduz ao centro vital que é Cristo, é, ao mesmo tempo, Aquele que envia os discípulos para fora, para as periferias. Aquele que nos revela Deus é, ao mesmo tempo, Aquele que nos impele para os irmãos. Quem vive segundo o Espírito permanece nesta tensão espiritual: encontra-se inclinado, ao mesmo tempo, para o íntimo de Deus e para o coração do mundo.

3. Irmãos e irmãs: é uma feliz coincidência retomarmos as celebrações com a participação presencial do Povo de Deus, nesta Solenidade do Pentecostes, em que a Igreja se manifestou publicamente ao mundo. Precisamos agora de interpretar esta imagem provocadora das portas fechadas das nossas igrejas, para discernir o que o Espírito Santo diz à Sua Igreja, neste agora de Deus. Precisaremos ainda de algum tempo, para perceber o alcance de tudo o que nos aconteceu. Mas talvez possamos ler este sinal como um indicador do Espírito Santo, pelo menos em três direções:

 

3.1. Primeira: a Igreja não é primeiramente uma estrutura física, um edifício visível, mas sim um só Corpo, um Corpo místico, animado e guiado pelo Espírito Santo, constituído por muitos membros. Estes membros estão unidos entre si, pela seiva do Espírito, como os ramos à videira verdadeira. Esta é a verdadeira Igreja.

3.2. Segunda: Esta Igreja, de portas fechadas, tem o seu primeiro edifício visível na sala de cima, numa casa familiar, de um certo amigo de Jesus. É aí a sua primeira sede. E nós vimo-lo: à medida que se fecharam as portas das igrejas abriram-se tantas “Igrejas domésticas” em nossas casas, porque é aí que tudo começa: na alegria do amor, na experiência da escuta, da partilha, da oração. A grande família da Igreja começa na pequenina Igreja doméstica, que importa valorizar.

3.3. Terceiro: Cristo bate à porta. Do lado de fora, para nos falar ao coração, para repartir o pão, na intimidade da Ceia (cf. Ap 3,20). Mas quantas vezes não estará Ele saturado do ar irrespirável de uma Igreja fechada, e por isso, baterá, do lado de dentro, para que O deixemos sair e saiamos com Ele, até aos confins do mundo?!

 

Quem tem ouvidos oiça o que o Espírito Santo diz às nossas Igrejas (Ap 2,7), porque a ruína da Igreja virá disto mesmo: ter as portas fechadas quando as devia abrir e tê-las abertas quando as devia fechar. Que o Espírito Santo nos dê a chave certa, para abrir e para fechar, para não ter medo de entrar e ter a ousadia de sair. Enviai, Senhor, o vosso Espírito e renovai a face da nossa Casa comum: a família, a Igreja e o mundo!

 

 

 

 

 

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