Liturgia e Homilias | V Domingo da Páscoa A 2020
Destaque

 

Irmãos e irmãs: reunimo-nos para dar início à celebração do 5.º Domingo da Páscoa. Pelo Batismo, somos todos membros deste Povo adquirido por Deus, chamado a anunciar os louvores d’Aquele que nos chamou das trevas para a Sua Luz admirável. O Povo de Deus é todo ele, em cada um dos seus membros, um Povo sacerdotal. Como Povo sacerdotal, unidos a Cristo, celebramos os louvores de Deus cuidando e oferecendo a nossa vida pelos outros. Na união das nossas vozes e dos nossos corações, exprime-se a unidade de toda a Igreja, que tem Cristo como Pedra Angular. Celebremos com alegria mais um Domingo da Páscoa do Senhor.

 

 

Homilia no V Domingo da Páscoa A 2020

 

1. Voltamos ao Cenáculo, àquela sala de cima, onde Jesus está “confinado” com os Seus discípulos, para a celebração da Páscoa, na Última Ceia. Ali, Jesus transforma a casa de um certo amigo numa verdadeira Catedral, num Templo santo, onde Ele mesmo Se oferecerá em sacrifício por nós. O Evangelho faz-nos voltar a esse lugar da Última Ceia. Ali, Jesus serena o coração perturbado dos seus amigos, dizendo-lhes: “em Casa do meu Pai há muitas moradas(Jo 14,2). E dizendo-o, na sala de cima, naquela casa de habitação, Jesus está a sugerir-nos que é possível edificar muitas moradas para Deus, a partir das nossas casas, na casa de todos e de cada um.

 

2. Ao longo destes tempos de pandemia tomamos consciência viva disto mesmo: pelo Batismo, tornamo-nos “pedras vivas na construção deste templo espiritual” (1 Pe 2,5), que não se confina às quatro paredes dos nossos edifícios. Somos pedras vivas de um Templo Santo, mesmo se as nossas estruturas visíveis, como a Igreja ou o Centro Paroquial, estão de portas fechadas. O mistério e a vida da Igreja não se confinam ao seu espaço físico. Somos pedras vivas de um Templo espiritual. Aí, em casa, cada casal que se une em Cristo, cada família que se reúne em nome de Jesus, formam um templo espiritual, onde se manifesta a presença do Senhor. Ao vermos tantas famílias a rezar, tantos catequistas a fazer chegar a cada família a Boa Nova, vemos como está a ser ativado o sacerdócio batismal de todos os fiéis. Damo-nos conta de que há muitos modos de celebrar e de viver a presença real de Cristo: na oração, na escuta e na vivência da Palavra de Deus, na dádiva da própria vida, na experiência da partilha fraterna, na missão vivida na própria terra. Obviamente, todos estes modos de presença de Jesus têm a sua coroa de glória na presença real e substancial da Eucaristia, por que tanto ansiamos.

 

3. Por isso é que a Igreja, desde o princípio, cresce como um templo espiritual em construção. A Igreja não é um edifício acabado, como se Jesus nos deixasse uma Igreja já feita e perfeita. Não. Somos todos, em Cristo, um edifício em construção permanente, em renovação inadiável. As primeiras comunidades cristãs, à medida que apareciam novos problemas e novos desafios, procuravam encontrar novas respostas, em novos ministérios e serviços, como por exemplo, o dos diáconos, para a dinamização da Caridade (cf. At 6,1-7). Aqueles que querem a Igreja sempre na mesma desacreditam o Espírito Santo, como se Ele não tivesse nada de novo a gerar ou a criar na vida da Igreja, em cada tempo. Por isso, é belo perceber, nestes tempos de pandemia, que há ministérios laicais que se valorizam e reinventam; há novas situações de pobreza e solidão que exigem novos serviços, movidos por um amor criativo, para que ninguém seja deixado para trás.

 

4. Neste Templo do Espírito Santo, cada um de nós é uma pedra viva. Cabe-nos, pois, participar na construção deste edifício espiritual: cada um com o que tem, com o que sabe, com o que pode, como pode, no seu estado ou condição de vida. Mas ninguém pode ficar por fora ou para trás. Esta construção permanente e esta renovação inadiável não se fazem sem a ativação do sacerdócio comum dos fiéis, isto é, sem a oração, sem a vida oferecida, sem a missão assumida por cada um. Se vier a faltar o tijolo da nossa vida cristã, faltará também algo da beleza da Igreja, Templo santo de Deus. Com esta pandemia, tomamos consciência disto mesmo: somos todos frágeis, todos necessários, todos importantes, todos carecidos de Deus e todos carentes dos outros.

 

5. Irmãos e irmãs: os tempos incertos que nos esperam são bem exigentes. Jesus dá-nos a Sua Paz: “Não se perturbe o vosso coração(Jo 14,1)! Tenhamos confiança. Porque, na base da construção da Igreja, Templo santo de Deus, não está a nossa ciência, nem a nossa eficiência ou competência. Está Cristo, como Pedra Angular! Nesta construção espiritual, nesta renovação inadiável todos têm lugar! Na Igreja e no mundo, Cristo tem um lugar preparado para ti (Jo 14,3)! Não o deixes vazio.

 

 

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