Liturgia e Homilias | VI Domingo Comum A 2020
Destaque

Para nós, o mandamento «não matarás» (Ex 20,13; Mt 5,21)não é para ser revogado; é para ser completado (cf. Mt 5,17)com aquele outro: «amarás a vida, cuidarás da vida: da tua e da do teu irmão; serás cuidador do teu irmão; aceitarás estar sob os cuidados do teu irmão». Portanto,perante o sofrimento, a solução não é avançar para medidas extremas como a eutanásia, mas favorecer práticas solidárias em vez de deixar correr a indiferença e o descarte.

Homilia no VI Domingo Comum A 2020

“Diante do homem estão a vida e a morte: o que ele escolher, isso lhe será dado” (Sir 15,17)!

 

1.Sábias palavras, tão antigas e afinal tão cheias de atualidade, quando, por exemplo, o Parlamento português se prepara para revogar o mandamento «não matarás», com a proposta de legalização da eutanásia, a pedido do doente. Não aceitamos esta usurpação de “procuradores da morte”, por parte de quem devia cuidar da nossa vida, de quem nos devia representar e não substituir. A verdadeira missão que compete à política é o suporte infatigável à vida. E não o c0ntrário.

2.Sejamos, pois, claros: a eutanásia não significa renunciar a certas intervenções médicas já inadequadas à situação real do doente, porque não proporcionadas aos resultados que se poderiam esperar ou ainda porque demasiado gravosas para ele e para a sua família. Renunciar a meios extraordinários ou desproporcionados não equivale a suicídio ou eutanásia. E isto é eticamente aceitável. É, aliás, uma forma de aceitar o limite da nossa condição humana. É bem diferente matar ou aceitar a morte. Quando se fala de eutanásia quer-se dizer então o quê? Trata-se de uma ação ou omissão (fazer algo ou deixar de o fazer) que, por sua natureza e nas intenções, provoca a morte com o objetivo de eliminar o sofrimento. A ela se pode equiparar o suicídio assistido, isto é, o ato pelo qual não se causa diretamente a morte de outrem, mas se presta auxílio, para que essa pessoa ponha termo à sua vida”. Neste caso, não se elimina o sofrimento, elimina-se a pessoa que sofre.

3.Nós, os cristãos, temos o sentido sagrado da vida e partilhamos com todos os homens e mulheres de boa vontade a convicção do valor inviolável e indisponível da vida humana até ao fim. Para nós, o mandamento «não matarás» (Ex 20,13; Mt 5,21)não é para ser revogado; é para ser completado (cf. Mt 5,17)com aquele outro: «amarás a vida, cuidarás da vida: da tua e da do teu irmão; serás cuidador do teu irmão; aceitarás estar sob os cuidados do teu irmão». Portanto,perante o sofrimento, a solução não é avançar para medidas extremas como a eutanásia, mas favorecer práticas solidárias em vez de deixar correr a indiferença e o descarte. É preciso, pois, recorrer aos instrumentos médicos e paliativos ao nosso alcance para minorar a dore cuidar da vida humana até ao fim. Temos todos de nos perguntar se já fizemos tudo o que podíamos fazer para promover e amparar a vida, sobretudo a daqueles que são mais frágeis. Precisamos de ampliar a prática e a rede de cuidados paliativos, para cuidar até ao fim com compaixão!

4.Irmãos e irmãs: a palavra “eutanásia” tem inscrita duas palavrinhas: aquele “eu”, que significa “boa” e o “thanatós” que significa “morte”. Tratar-se-ia, literalmente, de uma “boa morte”. Mas também aqui se trata de um “eufemismo”, isto é, de uma forma capciosa de tornar belo o horrível. É falsa compaixão eliminar a pessoa, mesmo que a seu pedido, para eliminar o sofrimento, como se existisse um direito à morte, porque o direito tem sempre por objeto um bem. Quantas vezes, o grito dos doentes «dai-me qualquer coisa para acabar com este sofrimento, para eu partir em paz, para eu morrer», não é senão o lancinante apelo de alguém que te está a dizer «abraça-me», «ajuda-me», «não me deixes viver, sofrer e morrer sozinho nesta luta». Temos de reconhecer que o sofrimento é vivido de modo diferente quando é acompanhado com amor e agrava-se quando é abandonado à solidão. Por isso, na boca de um cuidador, de um profissional de saúde, nunca pode sair esta expressão: «não há nada a fazer», porque há sempre. “Quando não puderdes curar, podereis sempre cuidar com gestos e procedimentos que proporcionem amparo e alívio ao doente” (Papa Francisco, Mensagem para o Dia Mundial do Doente 2020).

5.Os dias que se aproximam são de duro combate. Leiamos. Estudemos. Informemo-nos sobre a gravidade do que está em jogo e dêmos um contributo para um diálogo sereno e humanizador. Escutemos o aviso do sábio da 1.ª leitura: “Diante do homem estão a vida e a morte: o que ele escolher, isso lhe será dado”(Sir 15,17)! Diga-se o que se disser, a vida é a coisa mais bela. Dêmos tudo por ela!

Top

A Paróquia Senhora da Hora utiliza cookies para lhe garantir a melhor experiência enquanto utilizador. Ao continuar a navegar no site, concorda com a utilização destes cookies. Para saber mais sobre os cookies que usamos e como apagá-los, veja a nossa Política de Privacidade Política de Cookies.

  Eu aceito o uso de cookies deste website.
EU Cookie Directive plugin by www.channeldigital.co.uk