Homilia na Festa da Sagrada Família A 2019
1. “Como eleitos de Deus, santos e prediletos”(Cl 3,12)! Três palavras, que definem a graça do cristão, a partir do seu Batismo, como aliás definem, em primeiro lugar, o próprio Cristo, batizado no Jordão: é Ele o Eleito, o Santo de Deus, o Filho muito amado do Pai! E nós, que neste Natal e pelo Batismo, nascemos com Ele, com Ele morremos e com Ele ressuscitámos para uma vida nova, somos os eleitos de Deus, santos e prediletos. E, a partir desta tríplice graça batismal, São Paulo deduz um conjunto de exortações, que vão diretas à família, à relação entre os esposos, entre pais e filhos, que têm um modelo único: Jesus Cristo. E, por isso, a própria “submissão” entre marido e esposa, entre pais e filhos, é serviço e não servidão, «como convém no Senhor» (cf. AL 156).
2. Este ano, gostaria de focar especialmente a nossa atenção sobre o matrimónio cristão, como caminho de santidade. E deixo, para os 12 meses do ano, 12 caminhos para a vocação à santidade, específica dos esposos:
I. Os esposos crescem juntos na santidade! E não um para cada lado. “A santificação é um caminho comunitário, que se deve fazer dois a dois. Há muitos casais santos, onde cada cônjuge foi um instrumento para a santificação do outro” (GE 141).
II. O Chefe de família não é o esposo nem a esposa! É Cristo. Que seja Cristo, a sua Palavra, o seu Amor, a reinar lá em casa. Nunca os esposos se devem deitar sem rezar, sem fazer as pazes, sem prestar contas ao “Chefe” da casa!
III. Marido e esposa devem amar-se como Cristo amou a Igreja. Mas nada de ilusões (cf. AL 73): não esperar, nem exigir de um ser humano a perfeição própria de um ser divino! Só Cristo é o Amor perfeito. Devem os esposos aprender a desiludir-se do outro (cf. AL 320), a aceitar a pobreza e a fragilidade, os defeitos, as falhas, os erros e as omissões do outro. Quando um dos dois não merece ser amado, é então esse que mais precisa de ser perdoado!
IV. Os esposos devem perseverar com paciência no bem, mantendo-se ao lado um do outro, mesmo se isso já não proporciona qualquer satisfação imediata. Para quem ama, conta mais a necessidade do outro que o prazer individual.
V. Não guardar pedras no sapato, mas lutar por que nenhum ressentimento ganhe raízes no coração, tornando-se uma pessoa azeda, amarga, maldisposta, desconsolada. Uma pessoa infeliz desgraça a outra!
VI. Ter mais tempo para ouvir do que pressa em falar, mais vontade em consolar do que ímpeto para corrigir. Há que não gastar energias a lamentar-se dos erros do outro, ou a tentar corrigi-los. Grande sinal de santidade é saber rir-se sozinho e guardar silêncio sobre os defeitos do outro… diante dos outros.
VII. Evitar absolutamente a violência física ou verbal, que mata e maltrata. Cada um é do outro e dom para o outro e jamais dono ou escravo do outro.
VIII. Não falar bem de si mesmo, para deixar o outro na sombra! É preferível louvar e engrandecer o outro, do que pôr-se em bicos de pés. De saltos altos, cai-se mais facilmente.
IX. Escolher, em casa, as tarefas mais difíceis e as menos vistosas, servindo sem se queixar e sem ser necessário que o outro reclame colaboração.
X. Viver com alegria e humor, capaz de se rejubilar com o sucesso do outro. Quem se concentra nos seus direitos, condena-se a viver com pouca alegria!
XI. Vencer a habituação, a rotina, o cansaço, com ousadia, criatividade e ardor. O amor é capaz de agradar e surpreender todos os dias.
XII. Valorizar os pequenos detalhes, os pequenos gestos de amor (cf. GE 16),de partilha, doação, abnegação, oração, pelo qual cada um mostra cuidar especialmente do outro, sem nunca esquecer as três palavras fundamentais da vida conjugal e familiar: «obrigado, desculpa e por favor» (AL 133; 266).
3. Aos que não são casados, obrigado pela paciência, peço desculpa pela falta de atenção e, por favor, apliquem esta dúzia de palavras à relação com o vosso próximo mais próximo. E vereis que ficará tudo em família!