Homilia no III Domingo do Advento A 2019
“Vou enviar à frente o meu mensageiro para te preparar o caminho”(Mt 11,10).
1. A missão de João Batista não foi outra senão a de preparar o caminho, para que o Messias se pudesse manifestar ao mundo! A palavra profética de João Batista e a sua ação de batizar eram admiráveis, mas estavam no limite de um tempo velho, no limiar de um tempo novo. O mais pequeno, que tenha a graça de viver este tempo novo, que Jesus inaugura com a sua vinda, é sempre maior do que João Batista. Porquê? Porque, apesar de João ser o maior entre os filhos de mulher, ele faz parte do que era antigo e já passou. Quem reconhece a Cristo, conhece o tempo novo e torna-se, pela fé, filho de um Deus maior!
2. Desta austera figura de João Batista, gostaria de propor três reflexões práticas sobre o compromisso que pais e padrinhos assumem no Batismo.
2.1. A primeira é que fazem falta, aos neófitos – isto é, à plantazinha frágil dos acabam de ser batizados – mensageiros, pessoas que sejam referências, indicadores de vida cristã, guias de sentido para a vida. Não precisam os pequeninos, na idade ou na fé, de quem lhes prepare o caminho, “estendendo uma passadeira vermelha” de facilidades, tratando-os como filhos menores, meninos da mamã ou filhinhos do papá, educados com um controlo remoto à mão. Precisam, sim, de mensageiros, de pais e padrinhos que os preparem para o caminho, que puxem para cima, que arrisquem tudo, que confiem neles. Enfim, que não deixem os seus filhos ou afilhados permanecerem menores, dependentes, mas os ajudem a crescer como filhos de um Deus maior. Gozar de autoridade significa, literalmente, isto: fazê-los crescer. De facto, não basta fazê-los nascer! Eles nasceram para renascer. Por isso, os pais são chamados, não apenas a gerar os filhos que recebem de Deus como um dom, mas também a fazê-los renascer, a colaborar com Deus na regeneração espiritual dos filhos, iniciada no Batismo. E os padrinhos são chamados a colaborar, com os pais, nesta missão, como testemunhas, guias e companheiros da fé.
2.2. A segunda é que fazem falta aos recém-batizados mensageiros que vão à frente, percorrendo o caminho que propõem, que vão a meio e dão a mão ou que vão atrás e levantam do chão. Que tipo de autoridade têm um pai, uma mãe, um padrinho ou uma madrinha, que propõem ao filho ou ao afilhado um caminho que eles próprios não estão dispostos a percorrer e a acompanhar?! Sem o testemunho, a autoridade degenera num autoritarismo ditador, que não gera filhos de um Deus maior, porque é comparável a um “pavão que alisa as suas penas e torna as almas mais pequenas” (Sophia M. Breyner).
2.3. A terceira é que este caminhar juntos, na fé e na vida cristã, exige muita paciência. Não se trata de resignação ou desistência. É este olhar em grande, esta visão macro da vida, esta grandeza de alma, própria de quem semeia na esperança e aceita o outro como ele é, mesmo quando age de modo diverso daquilo que eu desejaria (Cf. AL 92). Com realismo paciente, o pai e a mãe, o padrinho e a madrinha, sabem esperar que o filho ou afilhado cresça, segundo o seu próprio ritmo e no seu próprio caminho, como o agricultor que “espera pacientemente o precioso fruto da terra, aguardando a chuva temporã e a tardia” (Tg 5,7). A paciência é esta arte, que só o amor tem (cf. 1 Cor 13,4), de conviver serenamente com o incompleto, o imperfeito, o parcial, sem perder de vista o bem, o ideal, o perfeito. Trata-se de aceitar o caminho lento da gradualidade, feito de pequenos passos, que mutuamente se vão acertando, corrigindo, melhorando. Por isso, dizia Agustina Bessa-Luís: “Apaciência é a última porta da sabedoria”.
3. Vivamos o Advento como mensageiros de esperança, que preparam e se preparam para um caminho, iniciado no Batismo e que dura a vida inteira. Neste domingo cor-de-rosa, a espera do Advento tinge-se da cor da paciência! Só assim se geram e regeneram todos os batizados, que são chamados filhos de um Deus maior!