Homilia no XXX Domingo Comum C 2019
1. Se uma imagem vale por mil palavras, três imagens podem ilustrar o livro inteiro da nossa vida. São Paulo deixa-nos o seu testamento espiritual, fala do seu passado, do seu presente e do seu futuro. Um passado de soldado, de luta e de combate, de corrida incansável para a meta, mas guardando, sempre e a todo o custo, a fé, isto é, transmitindo-a aos outros; no presente, o Apóstolo está a viver os seus últimos dias, detido em Roma e com a espada do martírio apontada sobre a cabeça. É hora da sua libação (2 Tm 4,6), de derramar o seu próprio sangue, até ao fim. Para o futuro, Paulo espera uma coroa, não de ouro ou de louros, mas a coroa incorruptível da justiça, a recompensa da vida eterna, que o Senhor, o justo juiz, lhe dará (2 Tm 4,8).
2.Que belas são estas imagens da nossa vida, que também podia resumir-se assim: a de uma luta diária, em que cada um trava o seu combate (cf. 2 Tm 1,18-19; 4,6-8)e tem de dar o litro, dar o melhor de si, dar tudo de si; uma corrida, às vezes uma correria, que não devia ser contra o tempo, ou em contrarrelógio, mas em direção à eternidade. E, sendo assim, nesta luta e nesta corrida, o soldado ou o atleta precisa do descanso do guerreiro, do repouso da oração, para encontrar novas forças n’Aquele que o faz correr e lutar. “Todos me abandonaram, mas o Senhor esteve a meu lado e deu-me força” (2 Tm 4,17). Entre a luta e a corrida, é preciso saber “guardar” o melhor, preservar o essencial, cuidar das coisas mais belas, do tesouro mais precioso. E São Paulo diz qual é: “guardei a fé” (2 Tm 4,7). Não a guardou num cofre! Nem debaixo da terra. Guardou a fé, porque não se limitou a defendê-la, mas anunciou-a, irradiou-a, levou-a sempre mais longe. Opôs-se àqueles que queriam apenas conservar, enterrar ou “embalsamar” a mensagem de Cristo, nos limites da Palestina. Na verdade, a fé só está bem guardada quando é cultivada, quando é partilhada, quando frutifica e se multiplica.
3. Queridos irmãos e irmãs: estamos a concluir este outubro missionário extraordinário. Deixemo-nos examinar por estas belas imagens e perguntemo-nos:
1. Luto todos os dias, como um soldado, por viver a minha vida dignamente? Estou pronto a dar o litro pelos outros? Ou vivo a minha vida e a minha fé a meio-gás? Ensino aos meus filhos que a vida e a fé são um combate, que exigem coragem, luta, esforço, renúncia, sacrifício? Estamos a formar, na vida e na fé, os nossos filhos como combatentes ou desistentes, protagonistas ou flores de estufa? Hoje é necessária muita coragem para viver com honestidade, para anunciar o Evangelho com alegria, para marcar a diferença contra a indiferença!
2. Corro diariamente, como um atleta, mas em direção a quê e a quem? A minha vida é uma corrida de alta competição espiritual ou apenas uma correria, sem direção nem sentido? “Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo, pôr de parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho” (EG 46). Já pensei alguma vez que esta “corrida” pode ser também a corrida da fé? Sou capaz de parar, de rezar, de respirar no Templo de Deus, para retomar o fôlego da minha vida e encontrar no Senhor as minhas forças?
3. Guardo a fé, como o jardineiro cultiva o que há de mais belo? Cuido por alimentar as raízes da minha fé, para a fazer frutificar? Sou capaz de reservar e preservar o tempo para rezar em família, para guardar o domingo como dia do Senhor e assim cultivar a vida da fé e da família como os tesouros mais belos da vida?
São três imagens para a missão, de ontem, de hoje e de sempre: lutar como um soldado, correr como um atleta, guardar o tesouro da fé como um jardineiro. Estes são três modos de conjugar os tempos da missão. Em todo o caso, irmãos e irmãs: Hoje é tempo de missão. Coragem!