Homilia no XXVI Domingo Comum C 2019
Hoje tem início mais um ano de Catequese. Estamos às portas da celebração do tão anunciado Outubro Missionário Extraordinário. Por isso, apesar das incisivas palavras de Amós, que nos sacodem do comodismo e do desassossego que nos causam as feridas abertas do pobre Lázaro, fixemo-nos hoje, sobretudo, nas belas palavras de São Paulo a Timóteo, seu colaborador. Gostava de as retomar para as dirigir a todos vós, discípulos missionários, mas muito especialmente aos educadores cristãos e, mais de perto, aos pais e catequistas. Destaco três pensamentos do final desta 1.ª Carta a Timóteo:
1. Comecemos pelo modo carinhoso com que Paulo trata Timóteo: “Tu, homem de Deus” (1 Tm 6,14)!Que bonita expressão: “Tu, homem de Deus”, “Tu, mulher de Deus”! O evangelizador, o educador cristão, o discípulo missionário, o catequista, o pai e a mãe, enquanto primeiros educadores da fé, não são profissionais da comunicação religiosa, tarefeiros de serviço na Igreja, a debitar a Palavra como quem vende um detergente! Cada um deve começar por ser um homem de Deus, uma mulher de Deus, alguém que transparece, testemunha, transvaza e contagia a alegria da presença e da ação de Deus na sua vida. És um homem ou uma mulher de Deus na medida em que vives uma relação constante e vital com Ele e com o próximo. És um homem ou uma mulher de Deus, se és uma pessoa de fé, que confia verdadeiramente em Deus e põe n’Ele a sua segurança. És um homem ou uma mulher de Deus, se és pessoa de caridade, que vê a todos como irmãos. És um homem ou uma mulher de Deus, se és pessoa de paciência e perseverança, que sabe enfrentar as dificuldades, as provas, os insucessos, com serenidade e esperança no Senhor. És um homem ou uma mulher de Deus, se és uma pessoa gentil, capaz de compreensão e de misericórdia. Não sejas o “papagaio-mor do Reino”. Sê um homem de Deus, sê uma mulher de Deus. Se não fores de Deus, não serás nada para ninguém!
2. Em segundo lugar, São Paulo faz uma exortação: «Guarda o mandamento, sem mancha nem culpa» (1 Tm 6,14). Aqui, “o mandamento” significa o essencial da fé, o anúncio fundamental a nunca perder de vista. “Na boca do catequista, [do educador cristão, do discípulo missionário] volta a ressoar sempre o primeiro anúncio: «Jesus Cristo ama-te, deu a sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer, libertar»” (EG 164). O centro à volta do qual tudo gira, o coração pulsante que a tudo dá vida é este anúncio pascal, é este primeiro anúncio. Não há conteúdos mais importantes, nada é mais firme e atual. Somos chamados a viver e anunciar esta Boa Nova.
3. Por último, o apelo “guarda o mandamento” faz-nos pensar também no mandamento novo de Jesus: «Que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 15,12). É amando que se anuncia Deus-Amor: não à força de convencer, nunca impondo a verdade. Anuncia-Se Deus encontrando as pessoas, prestando atenção à sua história de vida e ao seu caminho. Porque o Senhor não é uma ideia, mas uma Pessoa viva: a Sua mensagem comunica-se através do testemunho simples e verdadeiro, da escuta e acolhimento, da alegria que se irradia. Não se fala bem de Jesus quando nos mostramos tristes, nem se transmite a beleza de Deus limitando-nos a fazer bonitos sermões. O Deus da esperança anuncia-Se vivendo, no dia a dia, o Evangelho da caridade, sem medo de o testemunhar, inclusive com novas formas de anúncio.
Renovo este apelo a todos e a cada um: Tu és uma missão! Sê então homem de Deus, sê mulher de Deus, que anuncia Deus, com a própria vida, cheia da Sua presença e da alegria do Seu amor!
