PÁROCO AUSENTE
Proposta de Homilia a partir do Comentário de Luciano Manicardi
1. De humildade nos fala hoje a Palavra de Deus: é uma atitude humana, que muito agrada a Deus e torna amável aquele que a vive; a humildade é também um comportamento que reproduz as opções e a forma de vida de Jesus Cristo. Com efeito, Cristo é o verdadeiro pobre e humilde, Aquele que, sendo Deus, Se limitou à condição humana, fez-Se servo, até partilhar a condição mortal do homem, no seu abaixamento até a morte e morte de Cruz. Jesus é Aquele que escolheu o último lugar, aquele que ninguém jamais poderá tirar!
2. O Evangelho denuncia, em contraste, o protagonismo e o exibicionismo de quem procura os primeiros lugares nas festas, arriscando ser mandado para o último lugar, caso chegue um hóspede mais distinto. Obviamente a humildade não se coloca apenas para quem gosta de se mostrar, para os que "gostam de ocupar o primeiro lugar nos banquetes e os primeiros assentos nas Sinagogas" (Mt 23,6), para quem usa a Igreja e o religioso para se exibir, mas também para o comportamento falso de quem se coloca atrás, no último lugar, com a esperança de ser notado para avançar. Humildade é estar no lugar que o Senhor designou. Humildade é ser fiel à tarefa que nos foi confiada e ao lugar em que fomos colocados.
3. Jesus fala-nos ainda do surpreendente modo gratuito de Deus agir: no banquete do Reino são os pobres que têm um lugar privilegiado; os últimos são os primeiros (cf. Lc 14,11). Trata-se, para nós, de uma "lógica ilógica", "estranha", "louca", "inusual" de Deus e do seu Reino. Aquele «dou para que me dês», que tantas vezes procuramos, no elogio ou na recompensa, é completamente estranho ao agir de Deus: “Serás feliz por eles não terem com que te retribuir” (Lc 14,14).
4. A gratuidade anda, assim, de mãos dadas com a humildade. A bem-aventurança inscrita neste amor gratuito, desinteressado, é a total gratuidade, a alegria de amar sem recompensa, consciente de que o amor basta ao amor, que amar é a recompensa para quem ama. É a bem-aventurança de quem espera como única recompensa a comunhão plena com Deus no Reino (cf. Lc 14,14); é a bem-aventurança de quem encontra no dom a alegria; é a bem-aventurança de quem não age à espera de recompensa, mas se dá inteiramente no que vive e realiza.
4. Irmãos e irmãs: o Senhor tem um lugar para todos, um dia, na sua morada eterna; tem um lugar para nós na mesa desta Eucaristia, mas também nos destina um lugar no seio desta comunidade cristã. Na perspetiva de um novo ano pastoral, que se avizinha, valeria a pena cada um perguntar-se: Qual o lugar em que o Senhor me quer transformar, para servir a comunidade? E nem sequer a humildade me dá o direito de dizer: «Eu não sirvo para nada», para, deste modo, esconder a nossa soberba e justificar a nossa preguiça. Na verdade, “a nossa imperfeição não deve servir de desculpa; pelo contrário, a missão é um estímulo constante, para não nos acomodarmos na mediocridade, mas continuarmos a crescer” (EG 121), na gratuidade, na humildade, no serviço. Num tempo em que tudo se paga, “trabalhar de graça”, fazer algo de modo gratuito é um verdadeiro e poderoso sinal da manifestação do Reino de Deus.
5. À mesa da Eucaristia ou à mesa de trabalho, há um aviso de alerta dos serventes, que também aqui tem o seu sentido e lugar. É dito a cada um: “Tem cuidado com o tacho… que te podes queimar”.