Liturgia e Homilias na Solenidade do Corpus Christi | Ano C 2019
Destaque

Reunimo-nos nesta quinta-feira da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, que nos reporta à instituição da Eucaristia, na quinta-feira da Ceia do Senhor. Em pleno Ano Missionário, é bom recordar que a Eucaristia é a fonte e ápice da vida e da missão da Igreja. Viemos de lá de fora, do nosso mundo, para este encontro íntimo com o Senhor, a fim de Lhe lançar no coração todas as sementes e os frutos da missão. Aqui dentro, na Eucaristia, façamos a experiência do encontro com Aquele que anunciamos, com o olhar posto fora do templo, para uma missão sem muros nem fronteiras. Aqui dentro recebamos a força e o alimento para a missão no mundo. Daqui havemos de partir, de novo, em missão, na certeza de que a Eucaristia nunca termina, pois há de converter-se em liturgia depois da liturgia. Que a beleza desta celebração seja para todos, e desde já, experiência de atração de Cristo e para Cristo, e por isso mesmo experiência de missão.

Homilia na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo c 2019

1.“Ite, missa est”! É com estas palavras, em língua latina, que o diácono ou o sacerdote despede a assembleia! E não deixa de ser curioso que o nome mais popular da Eucaristia seja precisamente este de “Missa”, a partir destas palavras de despedida e de envio, no final da celebração. É como se tivéssemos de começar a compreender e a viver a própria Missa, pelo fim. Na verdade, nesta saudação final “ite, missa est” – que o missal em língua portuguesa traduziu por “Ide em paz. O Senhor vos acompanhe” – podemos identificar a relação indissociável entre a Missa celebrada e a missão cristã no mundo. Missa e missão são afinal palavras da mesma família, realidades inseparáveis, que se reclamam mutuamente.

2.Se alguns, em certa altura, interpretaram esta palavra “missa”, a partir de “dimissio”, referindo-se à dissolução da assembleia, outros preferem ir à raiz da palavra “missio” para a assumir como «envio» dos fiéis, a fim de que “estes vão cumprir a vontade de Deus, na sua vida quotidiana” (cf. CIC 1332). Bento XVI lembrou-nos que o termo “despedir” foi evoluindo, no uso cristão, para o sentido pleno de “expedir em missão” (Sac. Carit. 51). São mais felizes, por isso, as traduções do missal italiano, que propõe quatro fórmulas diferentes de despedida e envio: “A alegria do Senhor seja a nossa força. Ide em paz”; “Glorificai a Deus com a vossa vida. Ide em paz”; “No nome do Senhor, ide em paz”, ou, por último: “Ide e levai a todos a alegria do Ressuscitado”, como quem diz aos fiéis: “Testemunhai com a vida o que celebrastes na fé”. Ou, talvez, possamos dizer de outro modo: “Que a vida em Cristo seja a vossa vida” (Dom José Cordeiro, Corações ao alto, p. 184).

3.O que importa mesmo – caríssimos irmãos e irmãs – é que esta “despedida” jamais se pareça àquela que os discípulos quiseram fazer, para se demitir da sua obrigação de prover ao alimento e alojamento da multidão. Descartaram-se, pois, com esta triste fórmula: “Manda embora a multidão”. Jesus não gostou e envolveu-os e devolveu-os à missão: “Dai-lhes vós de comer” (Lc 9,12). Mesmo que o que tivessem lhes parecesse pouco, o Senhor pede-lhes esse pouco, para lhes dar o Seu muito. Aos discípulos de todos os tempos, compete, pois, transmitir o que recebem (cf. 1 Cor 11,23-26), replicar na própria vida os gestos de Jesus, no milagre dos pães e dos peixes e que são afinal os mesmos verbos da Eucaristia: tomar o pão e o vinho, de mãos abertas, sem o merecer ou reter para si; bendizer e agradecer a Deus, sem se lamentar pelo pouco; partir e repartir o que há na mesa, aprendendo que, no Reino dos céus, as contas de multiplicar se fazem a dividir. Assim, do Pão partido da Eucaristia, o cristão faz-se pão repartido para a vida do mundo (cf. Jo 6,51). Da carne de Cristo, o cristão passa para a carne dos irmãos, onde Jesus espera ser por nós reconhecido, servido, honrado e amado (cf. CIC 1397). A celebração da Eucaristia compromete-nos, portanto, a ser testemunhas do amor de Deus em relação aos outros, e de maneira especial, em relação aos pobres.

4.Por isso, quando a Missa termina, tem início o compromisso do testemunho cristão. Saímos da igreja para «ir em paz» levar a bênção de Deus às atividades diárias, aos nossos lares, aos ambientes de trabalho, às ocupações da cidade terrena, “glorificando o Senhor com a nossa vida”. Deixemos que a Eucaristia nos transforme n’Aquele Jesus, Pão da Vida, que comungamos: que os Seus pensamentos sejam os nossos, os Seus sentimentos os nossos, as Suas escolhas as nossas. Na verdade, os frutos da Missa estão destinados a amadurecer na vida de todos os dias. Podemos dizer, numa imagem simples, que a Missa é como o grão de trigo que, depois, na vida comum, cresce, floresce, frutifica e amadurece, nas boas obras, naquelas atitudes que nos tornam mais semelhantes a Jesus.

5.Portanto, meus queridos irmãos e irmãs: quando ouvirdes «ide em paz», não significa que a Missa acabou. Significa, pelo contrário, que fomos alimentados pelo Pão da Vida, para sermos uma vez mais enviados em missão. Como dizem os ortodoxos, a missão é a liturgia depois da liturgia, a missa depois da missa!

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