Liturgia e Homilias - Pentecostes 2019
Destaque

Do Domingo de Páscoa ao Domingo de Pentecostes, encontramo-nos, sempre, no mesmo lugar: o da Última Ceia. No primeiro dia, estavam fechadas as portas com medo dos judeus, mas veio Jesus e, com o sopro do Espírito Santo, deu nova vida aos Apóstolos e enviou-os em missão de paz. No último dia, o mais solene da festa, uma rajada de vento encheu toda a casa e lançou a Igreja «em saída», em missão, no anúncio do Evangelho a todos os povos da Terra e em todas as línguas.

HOMILIA NA SOLENIDADE DO PENTECOSTES C 2019

 

A imagem de marca do Pentecostes é esta das línguas, à maneira de fogo, “que se iam dividindo e poisou uma sobre cada um” (At 2,3)dos Apóstolos, com um efeito surpreendente: “começaram a falar outras línguas” (At 2,4), de modo que, entre a multidão dos povos, cada qual “os ouvia falar na sua própria língua” e a proclamar com desassombro “as maravilhas do Senhor” (At 2,8). Este é hoje o grande desafio da missão e da transmissão da fé: anunciarmos o Evangelho falando a linguagem de cada pessoa, de cada povo, de cada cultura, valorizando a idade e capacidade, a riqueza e originalidade, a harmonia na diversidade. Por isso, invoco hoje do Espírito Santo três línguas de fogo para a missão que o Espírito Santo inaugurou no dia de Pentecostes: a língua materna, a língua gestual e alíngua digital.

 

A primitiva língua materna do amor

 

A transmissão da fé, para ser entendível e contagiante, tem de se fazer na língua materna. A primeira comunicação entre pais e filhos não chega a usar nem muitas nem grandes palavras, apenas alguns sons e alguns diminutivos repetitivos. Os próprios pais aprendem o dialeto dos filhos quando apenas balbuciam. E os filhos aprenderão, pouco a pouco, o sotaque e o dialeto dos pais, a começar pelos pequenos gestos de carícia, de atenção, de oração, lá em casa. Por isso, a fé passa para a criança como o leite materno, por contágio do exemplo e pela força da ternura. Não há melhor língua para transmitir a fé do que este dialeto da casa, do pai e da mãe, do avô e da avó e até da empregada doméstica, que é muitas vezes a verdadeira “madrinha”. Depois virão os catequistas, que desenvolverão esta primeira transmissão da fé. Mas sem a transmissão da fé, no amor e no calor da família, a linguagem da fé arrisca-se a tornar-se, para toda a vida, uma língua estrangeira. Recuperemos a língua materna, na nossa missão de evangelizar.

A língua gestual do testemunho

 

Outra língua fundamental na missão, aos de casa e aos de fora, é a língua gestual; não me refiro àquela que se usa com os surdos (que também faz falta) mas à linguagem dos gestos concretos, que falam por si. Os Apóstolos – imagino eu –  não dominavam o grego e o latim. Mas a sua pregação fazia-se entender. A primeira mensagem que anunciam é a imagem atraente das suas vidas felizes, destemidas, audazes, apaixonadas. As pessoas veem neles, ao vivo, a cores e em direto, em tempo real, as imagens da força transformadora do Espírito, imagens que não precisam de tradução, que atraem a atenção e despertam o interesse, a curiosidade e a interrogação. Na verdade, a primeira forma, e, às vezes, a única, de transmissão da fé é o testemunho (cf. Red. Miss., 42), queprovoca a curiosidade no coração dos outros e essa curiosidade é a semente que o Espírito Santo toma e leva em frente, tocando e falando ao coração de cada pessoa, precisamente a partir dessa boa impressão. Por isso, São Francisco dizia aos seus frades: “É necessário pregar o Evangelho, às vezes também com palavras”, porque primeiro anunciamo-l’O com a nossa vida coerente e eloquente. Sem esta língua gestual do testemunho, a transmissão da fé arrisca-se a usar apenas uma língua morta, que só interessa a quem fez da vida cristã um museu de recordações (cf. GE 139).

 

A nova língua dos nativos digitais

 

Da língua materna à língua gestual, eis-nos perante uma nova língua emergente: a língua digital. É a língua dos chamados nativos digitais, dos que já nasceram e cresceram com as novas tecnologias.Preferem a imagem à leitura e dizem tudo num simples tweet, que não excede 140 caracteres. Ora não é fácil passar o anúncio do Evangelho por este crivo da web e das redes sociais. Mas é um grande desafio que temos pela frente, para que a linguagem antiga da fé seja sempre nova e decifrável pelo software mental dos tais nativos digitais. Este é um novo campo de missão, onde “burro velho não aprende línguas” e, por isso, os jovens são virtual e realmente os mais capazes de evangelizar outros jovens. É preciso, pois, que eles empurrem a Igreja para a frente, para remar com toda a força, nesta nova rede de navegação, que não podemos mais amainar (cf. CV 201). E aqui apetece-me suplicar como o Papa Francisco dirigindo-se aos jovens: “Que o Espírito Santo vos empurre nesta corrida para a frente. A Igreja precisa do vosso entusiasmo, das vossas intuições, da vossa fé. Fazeis-nos falta! E quando chegardes onde nós ainda não chegámos, tende paciência para esperar por nós” (CV 299). Esta é a nova língua, a língua digital, que se tornou também para a missão da Igreja, uma nova língua oficial.

 

Que o Espírito Santo, que tudo possui e conhece todas as línguas, nos ensine a proclamar hoje a todos os povos as maravilhas de Deus, na nossa mais bela língua materna, na língua gestual e universal do testemunho, e na nova língua da rede digital. Que o Espírito Santo una a diversidade de todas estas línguas na profissão de uma só fé!

 

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