Homilia na Solenidade de Todos os Santos 2018
1.“Todos discípulos missionários” também se poderia dizer hoje, e mais apropriadamente, “todos santos”! E por que não «Todos os Santos»? O nome desta solenidade reporta-nos a todos os santos do passado, mesmo se entre eles “podem estar a nossa mãe, uma avó ou outras pessoas próximas de nós” (EG 3). Preferia hoje ficar pela marca (hashtag) “#todossantos”. Não por sermos todos heroicamente bons, mas porque, no Batismo, a santidade de Deus nos tocou e transformou a vida. Na verdade, todos discípulos significa apenas isto: todos chamados a seguir Jesus, cada um pelo seu próprio caminho, mas todos segundo aquele que nos é traçado no mapa das bem-aventuranças.
2.Diz-te o Papa Francisco: “Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos. És pai ou mãe, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais” (GE 14). Hoje, portanto, não celebremos apenas a festa de “Todos os Santos”, mas exultemos na alegria de sermos “#todossantos”. E como é belo vermos “a santidade nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes. Esta é muitas vezes a santidade «ao pé da porta», daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou – por outras palavras – da «classe média da santidade» (GE 7). Portanto, a santidade é um chamamento universal. Para nós deve ser claro: é a mesma coisa dizer “todos discípulos” ou dizer “todos santos”.
3.Mas também é a mesma coisa dizer “todos missionários” ou “todos santos”.A vocação universal à missão lança as suas raízes na vocação universal à santidade. Dizia São João Paulo II, que “o verdadeiro missionário é o santo” (Red. Mis. 90). Pelo que “não é possível imaginar a própria missão na terra, sem a conceber como um caminho de santidade (GE 19). Cada santo é uma missão, noseu tempo, na sua terra, para todos os tempos e em todos os lugares.
4.Por isso, quando se pretende, com este Ano Missionário, um renovado impulso na missão, não basta renovar os métodos pastorais, as linguagens e as expressões; o que faz falta, em primeiro lugar, é suscitar em todos um novo «ardor de santidade» (cf. Red Mis. 90). Estou mesmo convencido disto: “A Igreja não precisa de muitos burocratas e funcionários, mas só de missionários apaixonados, devorados pelo entusiasmo de comunicar a verdadeira vida” (GE 138), de evidenciar que “a única tristeza na vida é a de não ser santo” (Léon Bloy; cf. GE 34). Nenhuma técnica ou motivação serão suficientes para relançar a missão, às gentes de além-mar ou entre as nossas gentes, “se não arder nos corações o fogo do Espírito” (cf. EG 261)que nos santifica, se não irradiar da nossa vida a beleza, o fulgor e o ardor da santidade. Aliás, esta é hoje uma das marcas da santidade: não a pacatez, a passividade, a ingenuidade, o medo ou a indiferença, mas a audácia e o ardor, que dão novo impulso evangelizador, desassombro destemido, que nos tornam capazes de romper velhos hábitos, abanar a história, sacudir marasmos, sair da mediocridade tranquila e anestesiadora (cf. GE 138), para renovar o rosto da Igreja e a face da Terra. Como ser missão, num mundo tão hostil, sem esta coragem apostólica, sem esta ousadia de navegar pelo mar dentro, para lançar as redes em águas mais profundas (cf. GE 130)?
5.Irmãs e irmãos, lembremo-nos hoje e sempre disto: onde estiver a marca “todos santos” aí estará, em alta definição e em ativa laboração o nosso propósito pastoral: “Todos discípulos missionários”!