Homilia no XVIII Domingo Comum B 2018
1. Jesus e os discípulos estão do outro lado do mar! Não é ainda para gozar uns dias de férias! Jesus procura simplesmente o silêncio para evitar o alarido e o aplauso da multidão e não acalentar qualquer ilusão. De facto, muita daquela gente começava a ver Jesus como uma espécie de rei, que tinha no seu ceptro a varinha mágica, para garantir uma vida “low-cost” e almoços grátis a toda a gente. Jesus vai direto ao assunto: “Vós procurais-me não porque vistes milagres”, não porque entendestes o sinal que vos dei, de que só Deus vos sacia por inteiro, “mas porque comestes dos pães e ficastes saciados” (Jo 6,26). Aqui se vê que, de um lado estão os discípulos, que acolhem Jesus como o verdadeiro Pão que desce do Céu, e, do outro lado da barricada, está a massa anónima da multidão, que quer apenas tratar da sua vidinha. Portanto, de um lado estão os pagãos, que querem ter à mão um deus a seu jeito e à sua medida, de outro, os discípulos, que começaram a assimilar o pão da transformação.
2. Precisamos todos de passar por esta “transformação espiritual” (Ef 4,23)! Para nos tornarmos verdadeiros discípulos missionários já não nos basta andar atrás de Jesus, à espera do que Ele nos possa dar, e depois cirandar por aí a fazer propaganda dos Seus milagres! Para chegar a ser discípulo, é preciso deixar-se encontrar por Jesus, tornar-se ouvinte fiel da Sua Palavra, acreditar n’Ele, aderir de corpo e alma à Sua Pessoa, permanecer na amizade com Ele e assumir o Seu estilo de vida. Isto implica obviamente renunciar ao passado, deixar para trás o homem velho, corrompido por desejos enganadores, e “revestir-se do homem novo, criado à imagem de Deus, na justiça e santidade verdadeiras” (Ef 4,24). O encontro com Jesus, Homem novo, transforma realmente a nossa vida. Deixamos então de ser simples admiradores de Jesus, pessoas dotadas de sentimentos religiosos mais ou menos interesseiros, para nos tornarmos Seus discípulos missionários, seguidores de Jesus, testemunhas da transformação que Ele opera na nossa vida! Na verdade, conhecer Jesus ou não O conhecer, ser Seu discípulo ou simples cliente, não é tudo a mesma coisa. “Sabemos bem que a vida com Jesus se torna muito mais plena e, com Ele, é mais fácil encontrar o sentido para cada coisa. É por isso que evangelizamos” (EG 266).
3. Irmãos e irmãs: escutámos e meditámos este Evangelho com os olhos postos no Pão da Eucaristia! Não é só o pão quotidiano, fruto da terra e do trabalho do homem, que se transforma realmente n’Aquele Pão vivo que desceu do Céu. Também o discípulo é “trigo” que se deixa transformar em “pão” por Jesus. O batizado, discípulo missionário de Cristo, não pode viver como um pagão passado por água benta e alimentado pelo pão que o diabo amassou! Pelo contrário, o verdadeiro discípulo missionário é aquele que deixa “a graça do seu Batismo frutificar num caminho de santidade” (GE 15), é aquele que se deixa alimentar pelo Pão que Deus amassou na sua própria Carne, ao dar a Sua vida pela nossa. Pela Eucaristia, o discípulo é transformado n’Aquele que comunga! Quando recebemos Jesus na Eucaristia, deixamos que o Senhor Jesus “realize em nós cada vez mais a sua obra transformadora” (GE 157).
Que discípulos seremos nós? Clientes de pão quente ou discípulos transformados pelo Pão que Deus amassou? Garanto-vos que não é tudo farinha do mesmo saco!