Homilia na Solenidade da Imaculada Conceição 2017
1.“Fiel” é a marca que deixamos no primeiro par de pegadas. A mesma marca sinaliza, desde o primeiro dia do Advento, o primeiro canto da Estrela Maior, a do Amor de Deus, que “move o sol e as altas estrelas” (Dante, Paraíso XXXIII, 45) e nos move a nós, rumo ao Presépio de Belém. E que bom é podermos dar este primeiro passo na fidelidade, dizer o nosso “sim” e mantê-lo todos os dias e firme até ao fim, seguindo as pegadas do itinerário percorrido por Maria, a Virgem fiel.
2.Na verdade, Maria é fiel desde o primeiro sim, na Anunciação. Não diz ao Senhor: «Bem, desta vez cumprirei a Tua vontade, dando a minha disponibilidade, e depois verei». Ou “Sim, mas agora não”, ou “Sim, desde que”. Não! O seu sim é completo, total, para a vida inteira, numa disponibilidade sem condições, sem restrições, sem calculismos. É umsim sem garantias, confiante na fidelidade de Deus à sua Palavra; um sim sem reservas, totalmente aberto às surpresas de Deus. Um sim sempre às ordens, sem defesas, sem adiamentos. Um sim tipo “seja o que Deus quiser”.
3.Como viveu Maria a sua fidelidade ao sim da Anunciação, ao longo de toda a sua vida? Viveu-a, em primeiro lugar, procurando conhecer e realizar a vontade de Deus, na simplicidade dos numerosos trabalhos e preocupações de cada mãe, como prover à comida, à roupa, aos afazeres de casa. Precisamente esta existência normal da vida doméstica foi o terreno onde desenvolveu uma atenção concreta a cada coisa, uma relação singular e um diálogo profundo entra Ela e o seu Deus, entre Ela e o seu Filho. Maria viveu sempre imersa no mistério deste Deus que Se fez homem, meditando e ponderando tudo em seu coração, examinando todas as coisas à luz do Espírito Santo, para assim compreender e pôr em prática a vontade de Deus. No silêncio da oração, da meditação, da contemplação, Maria suplica e recebe a graça de uma fidelidade a toda a prova, de uma fidelidade todo o terreno, que a mantém fiel ao sim da primeira hora, sem nunca arrefecer o fervor do primeiro amor. Maria permanece fiel até ao fim, nesta união ao seu Filho Jesus, nos altos e baixos, mesmo quando as coisas não correm bem. Permanecerá fiel e firme na fé, até na desolação da noite escura da Cruz (cf. LG 58), quando outros hão de desertar e trair o Senhor. Em todo o caso, e sempre, “Maria é a Virgem que mantém íntegra e pura a fidelidade prometida” (LG 64). Ela é, para todos nós, testemunha da fidelidade, na perseverança, na constância e na coerência de toda a sua vida. Em Maria, “palavra dada é mesmo palavra honrada”!
4.Vivemos um tempo em que a fidelidade parece opor-se à felicidade e à liberdade! A fidelidade aparece como um estorvo para agarrar uma nova oportunidade, fazer novas experiências e tirar todo o partido da vida.Faz-nos, por isso, muito bem, deixarmo-nos inspirar e guiar pela fidelidade de Maria ao seu sim, uma fidelidade esmaltada pela alegria do primeiro amor.Maria convida-nos a pronunciar este sim, que parece tão difícil, quando se trata de assumir a decisão de casar ou de permanecer no casamento, a decisão de se consagrar ou de perseverar na vocação. Somos tentados a seguir os nossos desejos e sentimentos. Maria diz-nos: “Tem coragem! Dá o teu sim, sem medo. Diz ao Senhor o teu temor, mas entrega-te ao Seu amor. Quando não compreenderes bem aonde te leva esse sim, diz-lhe: «Seja feita a tua vontade»”. Manter a fidelidade ao primeiro amor, perseverar no sim à vontade de Deus, pode parecer-nos um peso insuportável, um jugo impossível de carregar. Mas, na realidade, a vontade de Deus não é um peso: é o verdadeiro bem que nos orienta para a felicidade autêntica. A infidelidade, pelo contrário, é sempre causa de tristeza, de amargura e desconfiança.
5.Irmãos e irmãs: “Fiel” é a “pegada” que nos mantém firmes na rota daquela Casa que brilha no amor. Deixemo-nos inspirar, mover e guiar pela fidelidade de Maria, a Estrela da manhã, que nos guia os passos, com segurança, ao encontro do Senhor.