Homilia no XXIX Domingo Comum A 2017
Dai a César o que é de César, a Deus o que é de Deus!
1. Dai a César o que é de César. Ao poder político, ao Estado, é devida a moeda! Mas não é Jesus que tem os bolsos cheios, donde sacar uma moeda, em que está gravado o nome de “Tibério César, filho do divino Augusto”! Quem usa a moeda são precisamente os que interrogavam Jesus, para O pôr entre a espada de Roma e a parede dos pobres! Mas Jesus, que lhes conhece a malícia, faz-lhes cair a máscara da hipocrisia! Para Ele é claro: se usam a moeda nas relações comerciais, se reconhecem o poder instituído, então não têm por que se queixar. Que cumpram as suas obrigações!
2.Só que a resposta de Jesus vai mais longe do que a pergunta, quando acrescenta: “e dai a Deus o que é de Deus”. Na verdade, é à imagem de Deus e não de César, que somos criados! É no coração de Deus, e não numa moeda, que estão inscritos os nossos nomes! Por isso, quem devolve a César o que lhe pertence, fica livre para se entregar a Deus, o único a Quem realmente nos devemos e damos. Só Deus é o Senhor! Dito de outro modo: «Podeis dar dinheiro a César – éo seu território– mas Deus é o Senhor». Fica assim clara a primazia de Deus e o amor que é devido a Deus, sobre todas as coisas.
3.Neste sentido, e por consequência, não se pode sacrificar a vida, a dignidade ou a felicidade das pessoas a nenhum poder político ou económico. Dar a Deus o que é de Deus implica reinstalar Deus no coração da nossa vida pessoal e da vida pública. Para isso, não basta dar algumas horas ou minutos de oração, de missa e devoção a Deus, como se lhe pagássemos algum favor! Dar a Deus o que é de Deus implica recolocar a dignidade da pessoa humana, criada à Sua imagem e semelhança, no centro da atividade política, económica, social e cultural, pois “a glória de Deus é o homem vivo” (Santo Ireneu). Dar a Deus o que é de Deus implica também denunciar “esta economia que mata” para defender os mais pobres, os Seus eleitos. Dar a Deus o que é de Deus implica renunciar, em todo o caso, a fazer do poder, da imagem e do dinheiro, o nosso deus! Dar a Deus o que é de Deus significa também, e para cada um de nós em particular, não cair na tentação de nos tornarmos os senhores absolutos da vida, os donos disto tudo, os patrões dos outros, sacrificando-os ao egoísmo e à vaidade dos nossos interesses pessoais. Quando Deus deixa de contar, o homem torna-se como um pequeno deus e o mundo fica entregue à triste sorte dos seus interesses mesquinhos. Rapidamente o jardim da Terra converte-se em pó e cinza, como se viu, nesta praga dos incêndios.
4.Estamos a viver o Dia Mundial das Missões. A missão não é mais uma atividade confiada a meia dúzia de especialistas da evangelização, lá em terras longínquas. Não. A missão está no coração da fé cristã e pertence à essência da Igreja que é, por sua natureza, missionária. E por isso, a missão diz respeito a todos e a cada um dos batizados, chamados a ser uma missão, na sua própria terra, “não só com palavras, mas com obras poderosas, com a ação do Espírito Santo”. Somos todos discípulos missionários. E alguns são-no em regimes totalitários, colocando-se, em nome de Deus, ao serviço da promoção humana.
Movidos pelo amor de Deus, não podemos deixar de propor e contagiar aos outros a Pessoa viva de Jesus Cristo, único Senhor, porque sabemos que o encontro com Ele “dá à vida um novo horizonte e um rumo decisivo” (cf. DCE 1). Dar a Deus o que é de Deus é reconduzir a Ele todos os Seus filhos e instaurar neste mundo o Seu Reino de justiça e de paz. Dar a Deus o que é de Deus significa que Só Ele nos merece por inteiro, de todo o coração, neste mundo, que é o lugar da nossa missão!