Homilia no III Domingo Comum A 2017
1. É surpreendente e escandalosa a estratégia pastoral de Jesus! A primeira surpresa escandalosa é que Jesus não inicia a Sua vida pública em Jerusalém, o centro religioso, social e político de Israel. A Sua missão começa numa zona periférica, numa região desprezada pelos judeus piedosos, devido à presença de diversas populações estrangeiras; por isso o profeta Isaías a indica como «Galileia dos povos» (Is 8,23), terra de pagãos. Jesus enfrenta corajosamente este ambiente urbano, esta mistura de raças, culturas e religiões. Sai ao seu encontro, na certeza de que Deus habita na cidade, a começar pelos pobres. Sai para Se encontrar, para ouvir, para abençoar, para caminhar com as pessoas…
2.Também nós estamos hoje imersos numa «Galileia dos povos». Dominados pelo medo, somos tentados a construir recintos fechados, condomínios privados, para aí nos sentarmos e sentirmos mais seguros, mais protegidos, fazendo, por exemplo, da paróquia, “um grupo de eleitos que olham, para si mesmos, e não um centro de constante envio missionário” (EG, 28). Partindo da Galileia, Jesus ensina-nos o contrário: partir da periferia, dos últimos, dos pobres, dos resíduos, dos não crentes, dos distantes, dos que procuram, para alcançar a todos! É, pois, urgente «sair do próprio conforto e ter a coragem de chegar a todas as periferias que precisam da luz do Evangelho» (EG, 20).
3. E há uma segunda surpresa escandalosa! Jesus começa a Sua missão por pessoas, que se diriam hoje «de perfil baixo». Para escolher os Seus primeiros discípulos e futuros apóstolos, não Se dirige às escolas dos escribas e dos doutores da Lei, mas às pessoas humildes e simples, que se preparam com empenho para a vinda do Reino de Deus. Jesus vai chamá-los lá onde eles trabalham, nas margens do lago: são pescadores. Chama-os e eles seguem-n’O imediatamente: a sua vida tornar-se-á, com Jesus, uma aventura fascinante.
4. Queridos irmãos e irmãs: o Senhor chama também hoje! O Senhor passa pelas estradas da nossa vida diária. O Senhor passa pela nossa praça. E chama-nos a segui-l’O, para andar com Ele, para trabalhar com Ele pelo Reino de Deus, nas «Galileias» dos nossos tempos. Deixemo-nos alcançar pelo Seu olhar, pela Sua voz, e sigamo-l’O, para que a alegria do Evangelho chegue a todos «e nenhuma periferia fique privada da sua luz» (EG, 288).
5.Seguindo o exemplo de Cristo, é preciso mudar toda a nossa estratégia pastoral. Sugeria apenas duas pistas muito simples, mas revolucionárias:
Primeira: não fiquemos sentados nos bancos da igreja à espera de quem chega, mas saiamos ao encontro de quem não vem. Irmão, irmã: sai pelas ruas da cidade, ao encontro dos mais pobres, dos sós e frágeis, mas também atento aos que vagueiam e procuram, sem sossego, uma luz para a sua vida. Sai ao encontro das pessoas, para caminhar com elas, para as ouvir e conversar, e assim lhes facilitares e provocares o encontro com o teu Senhor!
Segunda:não façamos proselitismo, como quem procura angariar sócios para um clube. Evangeliza por atração (EG 14), por contágio, pelo testemunho feliz da tua vida e pela beleza da tua comunidade. Sem propaganda, irradia e contagia com a alegria do Evangelho! Usa de ternura e de misericórdia! Atrai, pelo brilho da tua fé, para a Luz, que é Jesus Cristo. Levanta essa luz, como a de um farol, que projeta ao longe horizontes novos de esperança! Leva essa luz, como a de uma candeia, que ilumina, de perto e no concreto, a escuridão do teu irmão.
E dir-se-á: o povo da Senhora da Hora, a Galileia dos gentios, viu uma grande luz!