Homilia na comemoração de fiéis defuntos 2016
1.O desafio audaz que vos deixei, ontem, foi este: viver e crescer na santidade, praticando uma obra de misericórdia por dia! Isto bastaria - disse-vos - para revolucionar o mundo! Estas obras de misericórdia, como sabeis, estão enumeradas num catálogo de 14, sete das quais corporais e outras sete espirituais. Em último lugar, numa e noutra lista, vêm então o piedoso dever de “sepultar os mortos” e de “rezar por vivos e defuntos”. No cemitério, dediquei a minha reflexão às questões da sepultura. Aqui gostaria de me fixar, na proximidade misericordiosa, junto das pessoas, que trazem cravado, no coração, o aguilhão da morte dos seus ente-queridos e na importância da nossa oração pelos defuntos.
2.E, a ilustrar a prática destas obras de misericórdia, está Jesus, no evangelho. Jesus irrompe no cortejo dos que se ocupam de sepultar os mortos e dedica-Se a consolar aquela triste viúva, que acabara de perder o seu filho único, e, portanto, todo o seu viver. Diz o texto, que “o Senhor compadeceu-Se” (Lc 7,13)! Trata-se de uma viúva e de uma mãe que perdera um filho. Na verdade, “uma mãe que perde um filho é como se o tempo parasse: abre-se um abismo que engole o passado e o futuro. Chega-se mesmo a culpar Deus (…) Nestes casos, a morte é como um buraco negro que se abre na vida das famílias e ao qual não sabemos dar explicação alguma” (Papa Francisco, Audiência, 17.06.2015; cf. AL 254-255). E diante disto Jesus compadeceu-Se.
3.Este é, pois, um grande desafio, na prática da misericórdia: a nossa proximidade às famílias enlutadas: “Não podemos deixar de lhes oferecer a luz da fé. Abandonar uma família atribulada por uma morte seria uma falta de misericórdia” (A.L. 253). “Aqueles que já não podem contar com a presença de familiares a quem se dedicar e de quem receber carinho e proximidade, a comunidade cristã deve sustentá-los com particular atenção e disponibilidade, sobretudo se vivem em condições de indigência” (AL 254). Valorizemos a nossa proximidade misericordiosa, no luto!
4.Irmãos e irmãs: a pessoa amada, que partiu, não precisa da nossa tristeza, nem quer a nossa ruína. E também não é grande coisa lembrá-la e nomeá-la, a todo o momento, querendo-a amarrar a um mundo, a que, de facto, já não pertence, em vez de amarmos a pessoa real, que agora se encontra nas mãos bondosas e vigorosas de Deus (cf. Papa Francisco, Audiência, 17.06.2015, cit. por AL 284).
Não o esqueçais: “a melhor maneira de comunicarmos com os seres queridos que nos morreram é rezar por eles”(CIC 285; cit. A.L. 257). Diz a Bíblia que «rezar pelos mortos» é um «santo e piedoso» pensamento (2 Mac 12, 44.45). Rezar por eles «pode não só ajudá-los, mas também tornar mais eficaz a sua intercessão em nosso favor». Curiosamente, alguns Santos, antes de morrer, consolavam os seus entes queridos, prometendo-lhes que estariam perto ajudando-os. Santa Teresa de Lisieux sentia vontade de continuar, do Céu, a fazer bem. E São Domingos afirmava que «seria mais útil, depois de morto, mais poderoso para obter graças». São laços de amor, porque de modo nenhum se interrompe a união dos que ainda caminham sobre a terra com os irmãos que adormeceram na paz de Cristo; mas (...) é reforçada pela comunicação dos bens espirituais (cf. AL 256). Neste caso, a morte não separa, mas une ainda mais, porque mais forte que a morte é o amor (cf. Ct.8,6)!
5.Irmãos e irmãs: Queremos estar mais próximos de quem partiu? Rezemos com eles e por eles e peçamos-lhes que rezem e intercedam por nós! Queremos que a nossa oração seja mais eficaz e intensifique a abertura da alma dos que nos morreram à misericórdia do Senhor? Ofereçamos-lhe então o tesouro inesgotável da Eucaristia. Nela o céu desce à Terra. Aqui todos os filhos de Deus, peregrinos na terra ou já alcançados pelo Céu, se sentam à mesa do Senhor!