Liturgia e Homilia no XVI Domingo Comum C 2016
Destaque

O“bom samaritano” não é jogador da seleção, mas é «património da humanidade». Toda a gente conhece a parábola e a figura, pelo seu nome. Quando se trata de alguém que faz o bem, sem olhar a quem, aí está – dizemos nós – um «bom samaritano». 

Em domingo de ordenações, de 4 diáconos e 5 presbíteros, na Sé do Porto, a verdade é que o levita e o sacerdote não ajudam nada à missa e ficam muito mal na fotografia, se pensarmos que nem sequer a lei mais dura os proibia de assistir aquele homem meio-morto. E todavia, um e outro, levados pelo excesso de zelo da lei, preferem o sacrifício à misericórdia, de modo que a suma justiça se transforma na suprema injustiça.Ambos passam sem parar. Um e outro vão por outro caminho e não se aproximam. E a lição é clara: nem sempre os que servem a casa de Deus e deviam conhecer, melhor do que ninguém, a sua misericórdia, sabem realmente amar o próximo. E no entanto, não existe culto autêntico nem amor a Deus, se ele não se traduzir em serviço ao próximo. Ignorar o sofrimento do homem significa ignorar Deus!

2. Pelo contrário, o estrangeiro, o impuro, o cismático, um tal samaritano «encheu-se de compaixão» (Lc 10,33). O seu coração, as suas vísceras comoveram-se! Eis a diferença. Os outros dois «viram» mas os seus corações permaneceram fechados, insensíveis. Ao contrário, o coração do samaritano estava sintonizado com o coração do próprio Deus. O samaritano comporta-se com verdadeira misericórdia: cura as feridas daquele homem, transporta-o para uma hospedaria, cuida pessoalmente dele e provê a sua assistência. Tudo isto nos ensina que a compaixão, a caridade, não é um sentimento incerto, mas significa cuidar do outro, até pagar pessoalmente por ele. Significa comprometer-se dando todos os passos necessários para «se aproximar» do outro até se identificar com ele. E a nós só nos resta fazer o mesmo. A misericórdia não é outra coisa que o amor concreto!

3. Neste domingo, cada um de nós aprende que a pergunta fundamental e final já não é «Quem é o meu próximo?», procurando descobrir e apoiar as cores da sua seleção, mas sim «De quem sou eu próximo?», isto é, «Como me posso tornar próximo de todo aquele que precisa de mim» mesmo que não faça parte do meu clube religioso, político, social ou desportivo?! O Evangelho ensina-nos a globalizar a fraternidade: todo o homem é meu próximo, todo o homem é meu irmão.

4. E, repito, sendo este o «domingo de ordenações» na Sé do Porto, peçamos ao Senhor, que nos dê diáconos e presbíteros, que sejam o rosto da misericórdia de Cristo, o verdadeiro «bom samaritano da humanidade», que Se debruça sobre nós e paga o preço da nossa salvação.

5. E tu, meu irmão, minha irmã, não penses que ficas de fora, a ver o jogo, somente com o calor das emoções. Usa de misericórdia. Entra em campo. Mete os pés a caminho. Suja as mãos. «Vai e faz o mesmo» (Lc 10,37).Foste misericordiado! Faz-te misericordioso! 

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