Homilia no III Domingo da Quaresma B 2024
Três leituras, três imagens e três desafios decisivos, para experimentarmos, no caminho para Jerusalém, a alegria da saída e da subida, a alegria da libertação.
1.º desafio: sair da escravidão:
Deus fez o Seu Povo sair da escravidão do Egito! Através do deserto, Deus foi guiando o seu Povo, no caminho para a liberdade. Libertos da escravidão e dos trabalhos duros do Egito, era preciso então que o Povo não se deixasse escravizar pelos falsos deuses, que facilmente construía para si. Ao propor os 10 Mandamentos – ou para sermos mais rigorosos – ao propor as “Dez Palavras”, Deus oferece ao seu Povo Dez Palavras de amor, que o protegem e orientam no caminho para a liberdade. Os mandamentos não são imposições arbitrárias e caprichosas de um Deus, que nos queira comandar com rédea curta. Não. Os preceitos do Senhor alegram o coração, dão sabedoria aos simples. Com estas Dez Palavras, a sabedoria de Deus inspira-nos um caminho de libertação e de saída de nós mesmos, dos nossos egoísmos, dos nossos falsos deuses. Para não perder a alegria da saída, para não perder a graça da liberdade oferecida, é preciso, pois, ter a coragem de sair da escravidão dos próprios interesses, de abandonar vínculos opressivos, como o apego ao dinheiro, a uma tradição, a uma pessoa, a uma posição, a uma ideia fixa. Há ainda tantos ídolos que precisamos de extirpar: o de poder tudo, o de ser louvado por todos, o de levar a melhor sobre todos.
Esta alegria da saída de nós mesmos, da libertação das nossas escravidões pessoais, é como a alegria de quem venceu um combate, é como a alegria de quem se sente curado de uma doença, é como a alegria de quem se libertou de um vício ou de uma dependência. Esta alegria da saída, da subida e da libertação anuncia e prepara o nosso coração para a alegria completa da Páscoa.
2.º desafio: destruir falsas imagens de Deus:
Os judeus pedem milagres e os gregos procuram sabedoria. Os judeus pedem um Deus todo-poderoso, que exiba toda a sua força sobre os incrédulos. Os gregos julgam que só os inteligentes podem conhecer a sabedoria de Deus. Ora, o único poder que Jesus tem é o poder do amor. E por isso Jesus só tem o poder que o Amor tem. Cristo deixa-se Crucificar, por amor, sem recorrer à força da violência, sem nos vencer ou convencer com a força dos argumentos. Continuemos ainda e sempre com os olhos fixos na Cruz, para destruir as nossas falsas imagens de Deus. Deus não concorre com a nossa alegria. Ele quer a nossa alegria, mesmo que seja a alegria de um coração ferido por amor, a alegria de um coração curado pelo amor!
3.º Desafio: expulsar os vendilhões do Templo:
Jesus subiu a Jerusalém e não tolerou que a casa de seu Pai se tornasse um mercado. Jesus quer que a nossa relação com Deus seja uma relação filial, cordial e não comercial. E que a relação entre nós, seus filhos, seja fraterna e não inimiga ou concorrencial.
Jesus desafia-nos, hoje, a expulsar os vendilhões do templo, que transformam o nosso coração numa sucata de desejos. Para chegarmos à Páscoa, façamos, pois, uma limpeza dos nossos interiores, das artérias do nosso coração, tantas vezes poluídas e obstruídas, pelos nossos pecados, maus desejos e vícios. Celebremos o Sacramento da Reconciliação (Confissão), para vivermos a alegria de um coração purificado, a alegria de um coração pacificado! Que o Senhor nos dê a alegria da libertação, a alegria de um coração ferido e curado, a alegria de um coração purificado e pacificado. Esta é a alegria com que caminhamos juntos. Esta é a alegria com que subimos a Jerusalém.