Homilia no XIX Domingo Comum A 2023
O calor deste mês de agosto e o fogo do Espírito que a JMJ irradia, reclamariam mais o silêncio de uma ligeira brisa do que um mar de palavras. Deixemos ressoar três apelos do Papa, na JMJ, a partir desta palavra central do Evangelho de hoje: “Tende confiança. Sou Eu. Não temais” (Mt 14,27).
Não ter medo!
Quase em todas as suas intervenções, o Papa disse aos jovens: «não tenhais medo». Na homilia da Missa de encerramento o Papa exorcizou repetidamente este medo. Ele falava especialmente aos jovens, ofuscados pelo medo de não realizarem os seus sonhos, aos jovens angustiados ou de sorriso disfarçado, aos jovens que querem mudar o mundo e se sentem manietados, aos jovens de quem a Igreja e o mundo têm tanta necessidade como a terra de chuva. Mas apliquemos estas palavras a todos nós, deixando que o Papa nos volte a dizer: “É o próprio Jesus que vos fixa agora. Ele que vos conhece, conhece o coração de cada um de vós, conhece a vida de cada um de vós, conhece as alegrias, conhece as tristezas, os sucessos e os fracassos, conhece o vosso coração. Ele diz-vos: «Não temais, não temais! Coragem, não tenhais medo». “Tende coragem, continuai para diante”. O amor de Deus serve de amortizador no embate com as dificuldades da vida. Pensemos sobretudo nas dificuldades dos migrantes, que saem das suas terras para servir outros, noutros lugares do mundo.
Fazer-se ao mar!
Só vencendo o medo, é possível fazer-se ao mar.Dizia o Papa:“Façamo-nos ao largo sem medo! Não temamos enfrentar o mar alto, porque no meio da tempestade e dos ventos contrários, Jesus vem ao nosso encontro e diz: «Coragem, sou Eu, não temais!» (Mt 14, 27). Quantas vezes já tivemos esta experiência? Cada qual se interpele dentro de si mesmo. E se não a tivemos é porque algo falhou durante a tempestade”. A pandemia, que o Papa associou de modo especial a esta imagem da tempestade acalmada, isolou-nos e fechou-nos, no medo. Mas “com esta Jornada Mundial da Juventude, – disse o Papa – Deus deu um empurrão na direção oposta. “E não foi por acaso que se realizou em Lisboa, uma cidade virada para o oceano, cidade-símbolo das grandes explorações marítimas”. Depois desta transfusão de sangue novo, sangue na guelra, na linfa vital do corpo da Igreja, “tenhamos a coragem de lançarmos de novo as redes e abraçar o mundo com a esperança do Evangelho. Não é momento de parar, não é momento de desistir, não é momento de atracar o barco à margem, nem de olhar para trás; não temos por que escapar deste tempo, só porque nos mete medo, para nos refugiarmos em formas e estilos do passado. Não! Este é o tempo da graça que o Senhor nos concede para nos aventurarmos no mar da evangelização e da missão”.
Surfar nas ondas do amor!
“Como os jovens que vêm de todo o mundo a Nazaré, para desafiar as ondas gigantes, façamo-nos ao largo também nós sem medo”. Citando Fernando Pessoa, o Papa recordou-nos: «Navegar é preciso». E concretizou: “Continuai a cavalgar as ondas do amor, as ondas da caridade; sede surfistas do amor”. Foram estas as suas últimas palavras em Portugal! Queridos irmãos e irmãs: o mês de agosto traz-nos o apelo da praia, do mar, das ondas. Façamo-nos então ao imenso mar da nossa vida, sem medo, com a coragem criativa da fé. E a cada leve brisa que passe ou a cada onda gigante que sobrevenha, deixemos ressoar em nossos corações as palavras de Jesus: “Tende confiança. Sou Eu. Não temais” (Mt 14,27).