Liturgia e Homilias no 4.º Domingo do Advento A 2022
Destaque

A oito dias da celebração do nascimento de Jesus, multiplicam-se os votos e desejos de boas festas, preparam-se e partilham-se tantos presentes. E renascem, à volta da chamada «magia do Natal», os sonhos de um tempo novo, de uma vida nova, de uma humanidade mais fraterna, de um mundo de paz. A Liturgia deste Domingo faz-nos entrar, não na falsa magia do Natal sentimental, mas no sonho de Deus, que, por sinal, precisa de nós e do abraço do nosso sim, para entrar neste mundo. Vai ser intérprete dos nossos sonhos, José, o esposo da Virgem Maria, que passa a vida a sonhar, para conhecer e realizar os sonhos de Deus, a Sua vontade.   

Homilia no IV Domingo de Advento A 2022

 

Abraça o presente. O presente é um sonho! E José, esposo da Virgem Maria, é o homem dos sonhos (cf. Gn 37,19)! O Evangelho de Mateus narra-nos quatro sonhos de José (1,18-25; 1,13-5 2,13-15; 2,19-23). Hoje escutávamos apenas o primeiro. Alargando este abraço ao presente de Natal, que é Cristo vivo, gostaria de vos propor, à luz dos quatro sonhos de José, quatro formas de abraçar os sonhos de Deus.

1. No primeiro sonho, o Anjo ajuda José a resolver o drama interior que o atinge, quando soube da gravidez de Maria. José não diz uma única palavra! É o homem do silêncio orante, homem de palavra e da Palavra: «Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe ordenara» (Mt 2,24).  Muitas vezes, a vida coloca-nos, como a José, diante de situações que não compreendemos, que nos ultrapassam, que parecem não ter sentido ou solução. Fazer silêncio, escutar, rezar, significa deixar que seja o Senhor a falar, a abrir-nos os olhos, a mostrar-nos o que é justo fazer. É a oração silenciosa que nos dá a intuição do caminho de saída, que nos ajuda a discernir as boas escolhas e nos indica o modo justo de resolver, segundo a vontade de Deus!  Sonhemos, rezando!

2. No segundo e terceiro sonhos, José ensina-nos, que sonhar implica acordar e levantar-se. No segundo sonho, o mensageiro diz a José: «Levanta-te, toma o Menino e sua mãe e vai para o Egito» (Mt 2, 13). E a resposta de José à ordem de partida foi a mesma que deu, tempos depois, no terceiro sonho, à ordem de regresso: «José levantou-se, tomou o Menino e a sua mãe e foi para a Terra de Israel» (Mt 2, 21). É preciso sonhar, sim, mas acordados!É preciso despertar do sono e do sonho, levantarmo-nos, como José e Maria, e caminhar sem se cansar. Sobretudo, em família, quando as coisas não correm bem, quando o cansaço mina o encanto, quando parecem desfazer-se os nossos sonhos mais profundos, é preciso olhar com humildade e realismo para a vida, sem nunca perder de vista os sonhos, os ideais, as promessas e as esperanças, porque o sonho comanda a vida. Não há famílias perfeitas. Continuemos a caminhar!É pelo sonho que vamos!Sonhemos, caminhando!

3. No quarto sonho, José ensina-nos a lutar. Muitas vezes transferimos para os sonhos da noite as nossas lutas diárias connosco, com Deus e com os outros. Uma forma de lutar pelos sonhos é enfrentar com coragem os desafios mais duros, sobretudo quando estão em perigo a vida ou a família. «Advertido em sonhos, José retirou-se para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré» (Mt 2,22-23). Deus chama-nos, como a José, a ir para lugares que não sonhávamos, a reconhecer os perigos que ameaçam as nossas famílias e a protegê-las de todo o mal. Não deixemos de lutar por defender a família. Nada corresponde mais ao sonho de Deus do que o sonho de construir uma família feliz. Sonhemos, lutando!

4. Em todos os sonhos, há um denominador comum: São José nunca sonha em si, mas somente em cuidar dos tesouros que Deus lhe confiou: Maria e o Menino. Na verdade, “o homem começa a viver, na medida em que deixa de sonhar consigo mesmo” (Pablo d’Ors)e aprende a sonhar com os outros. Sozinhos, corremos o risco de ter miragens, vendo aquilo que não existe; é juntos que se constroem os sonhos (cf. FT 8). Como é importante sonharmos juntos, pais e filhos, avós e netos, jovens e idosos, mais novos e mais velhos, para que os nossos jovens tenham sonhos com raízes no chão e asas para voar. Sonhemos juntos!

5. Irmão, irmã: o presente é um sonho! Ao longo desta semana, sonha e dá nome a estes quatro sonhos: um primeiro sonho, sobre o que mais gostarias de alcançar de Deus na tua vida pessoal; um segundo sonho, sobre a graça que mais anseias para a vida da tua família; um terceiro sonho, sobre o fruto mais belo que gostarias de ver crescer nesta tua comunidade; um quarto sonho, sobre o desejo mais ardente que acalentas para o nosso mundo. Coloca, sob a imagem de São José, estes quatro sonhos. E reza, levanta-te todos os dias, luta e sonha com todos, para abraçares o presente de Natal que é Cristo vivo. O presente é um sonho. Liberta a vida!

 

 

 

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