Homilia no III Domingo da Quaresma A 2020
1. Todos aqui renascemos.E todos sabemos como a sede nos pode matar e como um simples copo de água fresca nos pode saciar, renovar e renascer. Porém, neste encontro de Jesus com a Samaritana, percebemos que há outra água e há outra sede! Jesus tem sede da fé daquela mulher. Jesus quer fazer dela uma pessoa nova, uma nova criatura, e por isso vai escavando o poço de misérias do seu coração, para dele fazer jorrar uma fonte de Água viva. E aquela mulher, na sua sede, pouco a pouco, acolhe Jesus e converte-se a Ele. Cristo torna-Se, para ela, a verdadeira fonte de água viva, capaz de matar a sua sede infinita: a sua sede de vida verdadeira, a sua sede de amor, a sua sede de salvação. Por fim, ela crê em Jesus, o Messias, que renova toda a sua vida. É tal a transformação do deserto do seu coração em terra fértil, que ela deixa o cântaro, porque afinal “o que era antigo já passou”(2 Cor 5,17)! E vemo-la então sair, pela região, como verdadeira apóstola, a dar testemunho de Jesus. Ela mostra, com a sua própria vida, que Cristo fez dela uma nova criatura(2 Cor 5,17). É verdade: o Senhor faz novas todas as coisas (cf. Is 43,19; Ap 21,5)!
2. Tudo isto acontece junto ao poço de Jacob e por meio da água. Vale a pena pensar nisto, porque a água é o símbolo da morte e o símbolo da vida!
2.1. Sim, a água é um símbolo da morte! A água faz-nos pensar no mar Vermelho. Ora, o mar representava, para os judeus, a força da morte, a necessidade de morrer para alcançar uma vida nova. Por isso, no Apocalipse, ao falar do mundo renovado, São João diz que lá “o mar já não existirá” (Ap21,1). É a morte que desaparece. Para nós, isto significa que o nosso Batismo, na água e no Espírito, não é um banho corporal, mas implica morrer para nascer de novo. Com Cristo, como que somos submersos no mar da morte para daí emergirmos como criaturas novas. Nesta perspetiva, o Batismo não é uma cerimónia de apresentação, uma lavagem ou uma limpeza corporal. É uma morte para uma determinada forma de vida, onde Deus e os outros não contam. E é um novo nascimento, uma ressurreição para uma vida nova. Atravessando nós o mar Vermelho, nessa fonte do Batismo, em Cristo somos doravante novas criaturas. O Batismo renova-nos, faz nova a nossa vida!
2.2.A água é, obviamente, e por excelência, o símbolo da vida! Sem água não há vida. Ora, esta água viva que nos dá a vida eterna foi infundida nos nossos corações, pelo Espírito Santo, no Batismo. Neste sentido, o Batismo é vida nova em Cristo, é participação no mistério da “regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tt 3,5). Pela água e pelo Espírito somos lavados e purificados de todo o pecado: Cristo faz então de nós novas criaturas, dá-nos uma nova vida e uma vida nova: faz-nos participantes da própria vida divina!
3. Irmãos e irmãs: talvez tenhamos esquecido este grande dom do Batismo; talvez andemos ainda à procura de «poços», cujas águas não nos matam a sede, ou que não têm água limpa. Então, este Evangelho é precisamente para nós! Somos chamados, em Cristo, a renovar a sede e a graça do Batismo.
4. Interroga-te, então, durante esta semana: A minha vida batismal é comparável à estagnação de águas paradas ou de águas passadas, que já não movem nada dentro de mim nem à minha volta? Ou, pelo contrário, a minha vida batismal é como a dança da água viva e corrente, que continua a saciar a sede de Deus e a transformar os meus desertos interiores? Na minha vida, deixo que Cristo faça novas todas as coisas? Sou, como a Samaritana, pessoa-cântaro, capaz de levar a água viva que recebi de Cristo, para a dar de beber aos outros? Ou envergonho-me de dar testemunho de Nosso Senhor?
5. Deixa o teu cântaro e a asa e diz a todos: “Cristo é fonte de água viva. Só Ele faz novas todas as coisas”! E reza, pedindo continuamente no teu coração esta graça: «Senhor, dá-me dessa água viva, que me renova e sacia eternamente»!