Liturgia e Homilias no XXX Domingo Comum C 2025
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Há “gente que não sabe estar”! Nem diante de Deus, nem diante dos outros, nem no próprio lugar que ocupa.Era assim um fariseu, que rezava, de pé, como quem olhava para o espelho e só via as suas virtudes. Bem diferente era a oração humilde do publicano, que batia no peito, com a mão direita, apontando para oseu coraçãopobre e ferido pelo pecado. Para que seja dada glória a Deus e não a nós, e porque a oração do humilde atravessa as nuvens, reconheçamos que somos pecadores. Não façamos peito… inchados com o nosso orgulho. Batamos no peito, confessando os nossos pecados.

HOMILIA NO XXX DOMINGO COMUM C 2025 *

 

Nem sei se isto é uma parábola, se é uma caricatura! Só falta pôr na boca do fariseu esta humorada declaração de superioridade: «Em humilde ninguém me bate». Eis-nos diante de uma parábola, com dois personagens, sobre a atitude e o modo correto de rezar e de estar diante de Deus e dos outros. É a parábola do fariseu e do publicano (cf. Lc 18, 9-14). Ambos vão ao templo para orar, mas fazem-no, na forma e no conteúdo, de modos muito diferentes, com resultados opostos. Vamos então aos personagens, que afinal, um e outro, coabitam e rezam, dentro de nós:

1. O fariseu reza «de pé» (Lc 18, 11)e usa muitas palavras. A sua prece é longa, uma lexibição descarada dos próprios méritos e virtudes, com sentido de superioridade em relação aos «outros», que ele classifica como «ladrões, injustos, adúlteros», como por exemplo — e indica aquele outro que estava ali — «o publicano» (Lc 18,11). O fariseu reza a Deus, mas na verdade olha para si mesmo. Glorifica-se a si próprio. Ora por si mesmo! Em vez de ter diante dos olhos o Senhor, tem um espelho. Não sente a necessidade de se prostrar diante da grandeza de Deus; está de pé, sente-se seguro, como se fosse o dono do templo! E enumera as boas obras realizadas. No entanto, a sua atitude e as suas palavras estão longe do modo de agir e de falar de Deus, que ama todos os homens, sem desprezar os pecadores. Portanto, não é suficiente entrar na Igreja e rezar, mas devemos interrogar-nos também sobre o modo como rezamos, como está o nosso coração. Quem faz peito, em vez de bater no peito, para se evidenciar e vangloriar, não tem lugar no coração, nem para Deus nem para os outros.

2. O publicano vai ao templo, com espírito humilde e arrependido: «Mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito» (Lc 18,13). A sua prece é muito breve: «Ó Deus, tende piedade de mim, que sou pecador!». Nada mais. A sua prece é essencial e atravessa as nuvens. Fala com humildade, só está seguro de ser um pecador necessitado de misericórdia. Apresentando-se no templo «de mãos vazias», com o coração despojado e reconhecendo-se pecador, o publicano mostra-nos a posição e a condição necessárias para receber o perdão do Senhor: ter a consciência da pequenez e confiar: confiar não nos próprios méritos, mas na largueza do coração e do perdão de Deus. Somos salvos não porque somos bons! Somos salvos, porque Deus – e só Ele – é Bom. Somos salvos, não em virtude dos nossos méritos, da nossa justiça, mas pela grandeza infinita da misericórdia de Deus. O seu amor sempre nos precede e excede. É um amor anterior e superior ao nosso amor por Ele.

3. Irmãos e irmãs: a humildade não é uma virtude em alta, na nossa bolsa de valores. É mais comum cada um pôr-se em bicos de pés, impor-se e mostrar-se superior aos outros. E até nos serviços mais simples, nem sempre o fazemos com humildade, pois rapidamente fazemos do nosso lugar um posto de cobrança, um palco, uma vitrine de exibição. Ora, onde não há humildade, prospera a discórdia, a competição, a divisão. Por isso, Deus prefere a humildade, não para nos diminuir, mas para nos engrandecer. Ele, que do nada fez todas as coisas, faz tudo do nosso nada. Se a prece do soberbo não alcança a Coração de Deus, já a humildade do miserável abre-o de par em par. Deus sofre mesmo de uma enorme fragilidade: é o seu fraquinho pelos humildes!  Diante de um coração humilde, Deus abre totalmente o seu Coração. Derrete-se… Felizes as pessoas que conservam no seu coração esta consciência da sua pequenez, porque serão preservadas dos vícios gémeos da arrogância e da hipocrisia!

4. Irmãos e irmãs: a humildade não é só a justa porta de entrada no coração de Deus e na Igreja, para rezar. “A humildade é a porta de entrada para todas as virtudes” (Audiência, 22.05.2024), porque sem a humildade, até as virtudes deixam de ser virtuosas! Um santo que se convencesse da sua santidade deixaria imediatamente de o ser!

Maria, a humilde serva do Senhor, para quem Deus olhou, mostra-nos que a humildade é tudo! A humildade é tudo para o nosso nada. A humildade é tudo para Deus, que veio precisamente em Jesus Cristo salvar-nos do nosso nada!

 

 

* Cf. Papa Francisco, Audiências de 01.06.2016 e 22.05.2024

 

 

 

 

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