Homilia no II Domingo do Advento C 2018
1. Presépio, lugar de encontro para todos! Ontem, aprendemos de Maria o modo feminino de habitar o Presépio, em dois movimentos rotativos do coração: recolher para dentro, para acolher quem chega de fora. Hoje, este jeito feminino de habitar o Presépio projeta-se, de algum modo, sobre a cidade de Jerusalém, qual Mãe que recebe nos seus braços a multidão dos filhos que regressam a casa! A Igreja, a nova Jerusalém, revê-se nesta figura de Maria e, à sua imagem, sente-se desafiada a ser Presépio, ou a ser no Presépio, uma Mãe de coração aberto (EG 46-49), acolhedora e carinhosa, com lugar para todos.
2. Mas, a liturgia deste domingo é dominada pela figura masculina e austera de João Batista, o pobre de Cristo, a quem foi enviada a Palavra de Deus, no deserto. A Palavra de Deus passou ao lado de sete figurões poderosos, com nome e lugar na história: Tibério, Pilatos, Herodes, seu irmão Filipe, Lisânias, Anás eCaifás. A Palavra de Deus passou ao lado dos palácios reais, do Templo de Jerusalém, dos hotéis de luxo e de todos os lugares “in” frequentados pelos famosos da época. A Palavra de Deus, num tempo preciso, foi dirigida a João, no deserto. É aí, no deserto, que Ele recebe a Palavra e é aí, e a partir daí, que ele a anuncia. De algum modo, o seu estilo de vida, pobre e simples, o seu grito de esfomeado e sedento de justiça, é já profecia, é já o anúncio e o testemunho de Jesus Cristo, o Filho de Deus, que estava para chegar. Em João, como depois em Jesus, vemos que a esperança não vem dos centros comerciais ou de poder, vem dodeserto!
3. A esta luz, o que é preciso ainda fazer, para que o Presépio se torne lugar de encontro para ti e para todos?
Primeiro, é preciso criar espaços de deserto, dentro e à volta do Presépio. Quando uma criança dorme, fazemos silêncio, tiramos volume ao som da música, evitamos o barulho. Precisamos, talvez, de calar certas músicas de embalar, para ouvir o gemido do Menino que chora, de fome, de sede, de solidão, em tantas pessoas, a quem não conseguimos ouvir, porque há muito ruído à custa do Presépio.
Segundo, é preciso destralhar o Presépio, para que ganhe novos espaços, onde outros encontrem o seu justo lugar. Dito de outro modo, é preciso escolher uma vida simples, uma vida que se atém ao essencial. Que o monte dos embrulhos não nos impeça de ver o rosto do Menino. Quanto menos espaço ocuparem as nossas coisas, mais espaço sobrará para quem vier até ao Presépio à procura de um lugar.
Terceiro,é preciso ser pobre para estar com os pobres! O Presépio é um lugar para todos, mas quem chega lá primeiro são os pobres, os pastores da Judeia. Eles têm lugar privilegiado. Devem ser eles, os pobres, o alvo preferencial da nossa atenção. Por isso, preparar no deserto o caminho do Senhor, é altear os vales frios e vazios dos inválidos e descartados deste tempo, elevando-os social e culturalmente. Abater os altos montes e as colinas seculares é combater a concentração de poderes e a máxima riqueza no mínimo de pessoas. Endireitar os caminhos é repor os equilíbrios, lutar pela igualdade de oportunidades. Não tenhamos medo de abater à nossa conta, para que outros possam altear a cabeça e endireitar a vida.
4.Irmãos e irmãs: não se paga entrada no Presépio. E, por isso, os pobres estão na fila da frente! Neste Advento, escutemos o seu grito, descubramos o seu rosto, de modo que eles se sintam em nossa casa e na Igreja como em sua casa.
E então, sim, o Presépio tornar-se-á um lugar de encontro para ti e para todos!