Homilia no xxxii domingo comum b 2018 – Semana dos seminários
“Sabei que o Filho do Homem está mesmo à porta” (Mc 13,29)!
1. Ele está a porta e chama! Chama-te pelo nome! Sabe de cor o teu nome, porque todos os nossos nomes estão inscritos no livro da Vida (Dn 12,1), gravados no coração de Deus. Para ouvir o toque do seu chamamento, precisamos de guardar silêncio, pôr de vigia o coração, para que, quando Ele passar e bater, o excesso de ruído dentro da nossa casa, não nos impeça de O reconhecer. Não hã vocação, não há resposta possível a este chamamento pessoal, sem esta atenção secreta do coração! Precisamos de educar para o silêncio, para a escuta, para discernir a voz do Senhor e responder à sua chamada e segui-l’O, “cada um por seu caminho” (LG 11; GE 11). E pode ser que este caminho, para mim, ou para um amigo meu, ou para um filho ou neto, passe pelo Seminário, até chegar a ser Padre… para assim alimentar o Povo de Deus com a Palavra. Por que não?
2. Ele está à porta e quer entrar. “Eis que estou à porta e bato – diz o Senhor – se alguém ouvir a minha voz entrarei, cearei com ele e ele comigo” (Ap 3,20). É este encontro pessoal com Ele, que é decisivo para a fé; é este encontro pessoal “que dá a vida um novo horizonte e, desta forma, um rumo decisivo” (DCE 1).É este encontro com Cristo que forma o discípulo. Não basta, pois, abrir a porta. É preciso sentar-se aos pés d’Ele para O escutar. Não basta abrir a porta. É preciso pôr a mesa e pôr-se à mesa com Ele. Por isso, este Jesus, que está porta e bate, é Aquele que te convida a entrar na Sua intimidade, a cultivar a amizade com Ele. Sem esta experiência íntima do encontro com Ele não é possível conhecer a alegria do Evangelho, não é possível seguir Jesus, tornar-se seu discípulo. Por isso, diz o Papa Francisco: “convido todo o cristão a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz respeito” (EG 3). E pensemos: se cultivar o gosto pela Eucaristia, é possível que Ele me chame a mim, ou a um amigo meu, a um filho ou a um neto, a fim de preparar para todos este banquete pascal. Por que não?
3. Ele está à porta e quer sair. “Pergunto-me – diz o Papa Francisco– se às vezes Jesus não estará já dentro de nós, batendo para que O deixemos sair” (GE 136). Jesus não quer ficar preso dentro de nós, no conforto da nossa casa, com portas isoladas e janelas de vidros escuros ou duplos, que nos impedem de ouvir e de ver o que se passa lá fora ou que nos mantêm comodamente à varanda ou à janela a ver a banda passar! Não. Jesus bate hoje à porta do nosso coração, para que O deixemos sair e para que saiamos com Ele e ao encontro d’Ele em todos aqueles a quem somos enviados, e que vivem na nossa casa, são companheiros de escola ou de trabalho, moram na nossa rua e são a boa gente da nossa terra. Somos constantemente desafiados a sair da missa para a missão, de modo que a porta do nosso coração e desta Igreja esteja sempre aberta, não só para deixar entrar quem nos procura… mas para nos fazer sairao encontro de quem anda à procura a Deus e precisa de encontrar um interlocutor, um ouvinte, uma estrela no caminho da fé.
Irmãos e irmãs: “Saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo” (EG 49)! Não nos tornemos uma Igreja curvada sobre si mesma, doente, a cheirar a mofo, medrosa, cansada, viciada na rotina, sem ardor missionário.Cada cristão, e esta nossa comunidade, têm de discernir qual é o caminho que o Senhor lhes pede, mas todos somos convidados a aceitar este desafio: sair da própria comodidade e ter a coragem de irradiar a alegria e a luz do evangelho onde fazem mais falta. E neste movimento de saída de nós mesmos, tenhamos a ousadia de assumir ou de propor a um amigo, a um filho, a um neto, a vocação sacerdotal? Por que não?
Eis que Ele está mesmo à tua porta. Quer entrar, para ficar e sair contigo! Não recuses o convite. Não deixes cair a chamada! É a chance da tua vida!
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Homilia na Missa com Catequese – Entrega da Bíblia – 4.º ano
1.Estamos a concluir a Semana de Oração pelos Seminários. Há oito dias, eu disse que era preciso fazer “like”, pôr um “gosto” em sete coisas importantes, para que a semente da vocação encontrasse um bom terreno para frutificar. E o primeiro “gosto” era… ainda se lembram? Ah, “gosto de rezar”. E por isso eu disse que era tão importante educar para a escuta. Que quer isso dizer?Significa cultivar o silêncio, familiarizar-me com a Palavra de Deus, habituar-me a ler um pouco do Evangelho do dia, aprender a rezar todos os dias com a atitude própria do discípulo: “Falai, Senhor, que o vosso servo escuta” (1 Sm 3,9)! Poderá ser então que, sem o ruído exterior, eu entre na onda divina e me torne não apenas um ouvinte, mas também um ministro da Sua Palavra. Eu ou um amigo meu, Padre, porque não?!
2.Neste dia da Entrega da Bíblia, os meninos e famílias do 4.º ano, têm de pôr este “gosto”, com o polegar bem apontado para o céu, e um coração cheio de amor à Palavra de Deus. Porque sabeis: tudo passa! Passam as modas. Passam os modelos de telemóveis. Passam os heróis do futebol e da banda desenhada. Passam o céu a terra. O que é que não passa? Jesus di-lo: “As minhas palavras não hão de passar” (Mc 13,30). Se algum de vós tiver o gosto de começar a ler a Bíblia, a partir da leitura dos 4 Evangelhos, poderá então descobrir o rosto belo de Jesus, seguindo-O. Só Ele tem palavras de vida eterna (Jo 6,68). E até pode ser que algum de vós, ao ficar fascinado por Jesus, queira segui-l’O como padre.Eu ou um amigo meu, porque não?
3.Só mais uma pequena observação: na Bíblia encontrais muitas histórias de vida, muitos personagens. Mas não esqueçais que “os vossos nomes estão inscritos no livro de Deus” (Dn 12,1), estão inscritos no livro da vida. Vós próprios, se puserdes em prática a Palavra de Deus, tornar-vos-eis “uma página escrita por Deus, para ser conhecida e lida por todos” (2 Cor 3,2). Que antes de falarmos de Deus aos outros, Deus fale pela nossa vida. A Palavra, antes de se ouvir, há de ver-se no nosso rosto feliz! Como disse São Francisco: “É necessário pregar o Evangelho, às vezes também com palavras”…porque primeiro anunciamo-lo com a vida.