Homilia na Solenidade de Pentecostes B 2018
Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor!
1. Desde as Cinzas à Páscoa, fomos desafiados “a não deixar esfriar o amor” (Mt 24,12). Durante 40 dias, descemos pela escada da Cruz, aprendendo a viver e a crescer no amor! Num segundo tempo, da Páscoa ao Pentecostes, vivemos estes 50 dias de alegria pascal, subindo, degrau a degrau, a única escada que nos leva ao Céu, atraídos e “movidos pelo Amor que Se entrega na Cruz”!
2. E que pudemos, podemos ou poderemos descobrir nos passos duros desta caminhada, com as suas alegrias e dificuldades, avanços e recuos, saltos e sobressaltos? Descobrimos que não é possível percorrer este caminho do amor, se contarmos apenas com as nossas forças e esforços, se confiarmos apenas na grandeza da nossa vontade e nos méritos das nossas capacidades. O caminho do amor, este caminho que ultrapassa tudo (1 Cor 12,31), ultrapassa também as nossas habilidades e possibilidades e nunca está acabado! E por isso, é a consciência da nossa própria fraqueza, e não o orgulho dos nossos êxitos, que abre no coração uma brecha para a ação do Espírito Santo!
3. Eis a razão por que invocamos hoje o dom do Espírito Santo, nós que procuramos fazer do Hino ao Amor (1 Cor 13, 4-7)o nosso programa de vida familiar e comunitária. O Espírito Santo é o próprio Amor divino, que brota da relação entre o Pai e o Filho, e daí transborda e é derramado em nossos corações, como o Dom supremo. Invocamos o Espírito Santo, neste caminho de perfeição, porque não nos é possível escalar este caminho do amor, sem a graça e o favor, o sopro e o alento do Espírito Santo! O próprio Papa Francisco nos adverte que tal escalada do amor não é possível sem o Espírito Santo, “se não se clama todos os dias pedindo a Sua graça, se não se procura a Sua força sobrenatural, se não Lhe fazemos presente o desejo de que derrame o Seu fogo sobre o nosso amor para o fortalecer, orientar e transformar em cada nova situação” (AL 164). Por isso, na conclusão desta caminhada, invocamos, invoquemos e invocaremos sempre o dom do Espírito Santo, que corre dentro dos nossos corações, como um rio de água viva, para tornar puro o nosso desejo de amar. Este Espírito Santo arde, dentro do nosso peito, como um fogo sem se ver, e só Ele é capaz de transformar os nossos pensamentos, sentimentos e desejos em caridade verdadeira.
4. Vede, irmãos e irmãs, como na própria celebração do Matrimónio, invocamos o dom do Espírito Santo, rezando assim: «Enviai, Senhor, sobre eles (os noivos) a graça do Espírito Santo, para que, pelo vosso amor, derramado em seus corações, permaneçam fiéis na aliança conjugal» (Ritual do Matrimónio, n.º 74). É Ele, o Espírit0 Santo, “o selo da aliança de ambos, a fonte sempre aberta do amor conjugal, a força em que se renovará a sua fidelidade” (cf. CIC 1624). Diríamos que “o Espírito, que o Senhor infunde, dá um coração novo e torna o homem e a mulher capazes de se amarem como Cristo nos amou. O amor conjugal atinge assim aquela plenitude, para a qual está interiormente ordenado: a caridade conjugal” (AL 120).
5.O Espírito Santo, que é o amor no seio da família divina (cf. AL 11), é também a fonte inesgotável do amor na família humana e na família dos cristãos: “um amor que nunca acaba” (1 Cor 13,8)! Sim, nunca acaba, da parte de Deus, pois “a caridade, devido à sua natureza, não tem um limite para o aumento, porque é uma participação da caridade infinita que é o Espírito Santo. E, nunca acaba, em cada pessoa, porque não é possível pôr-lhe um termo; ao crescer na caridade, eleva-se também em cada pessoa a capacidade para um aumento maior» (AL 134). E não tenhamos ilusões, na vida familiar, “este amor é um amor inacabado, chamado a crescer, sempre em caminho” (AL 218).
Por isso, retomando e percorrendo todos os atributos do amor, colocados nos 14 degraus da escada da Cruz, concluímos esta reflexão e esta caminhada, com esta oração de invocação ao Espírito Santo.
Oração do Fiéis (1.ª hipótese)
Notas
- Esta oração, proferida na conclusão da homilia, pode substituir as preces previstas para a Oração dos Fiéis. Neste caso, segue-se à oração a Profissão de fé (Credo).
- Esta oração pode ser introduzida e concluída pelo Presidente (P.), deixando as 13 invocações, sinalizadas com a língua de fogo, para um, dois ou vários leitores.
- Pode acender-se uma vela, à medida que se invoca o amor, nos seus diversos atributos.
- Pode também introduzir-se um refrão de invocação entre as preces.
P. Espírito Santo,
alma do amor que nos move e comove,
derramai em nossos corações,
para o maior bem das nossas famílias:
- o amor paciente, que não cede à agressividade do instinto, mas aceita o outro tal como é,
- o amor que não procura o próprio interesse, mas deseja mais amar do que ser amado,
- o amor que não se deixa corroer pela inveja, mas cultiva a gratidão e o reconhecimento,
- o amor amável, que não é inconveniente nos modos, mas gentil e afável no trato,
- o amor que não é arrogante nem orgulhoso, mas humilde, serviçal e discreto na ação,
- o amor que não cede à lógica fria da vingança, mas tudo suporta, movido pela compaixão,
- o amor que tudo crê e confia, sem pedir provas, mas sempre pronto a dar sinais concretos,
- o amor que tudo desculpa, compreende e corrige, mas sem expor os limites e fraquezas do outro,
- o amor que não se irrita nem guarda ressentimento, mas decide vencer o mal com o bem,
- o amor prestável, que não se reduz a um sentimento, mas mostra a bondade em tudo o que faz,
- o amor que não se alegra com a desgraça alheia, mas rejubila com a verdade e o sucesso do outro,
- o amor que tudo espera, mas sem exigir do outro a perfeição plena, que só no Céu alcançará,
- o amor que não acaba nunca, um amor chamado a crescer e sempre em caminho.
P. Espírito Santo, dai-nos um coração novo, para que, movidos pelo Amor que Se entrega na Cruz,
o nosso olhar se volte para o futuro, onde o Amor de Deus nos espera e alcança,
para chegarmos à plenitude da perfeição.
Ámen.