Liturgia e Homilias no II Domingo de Páscoa B 2018
Destaque

Depois da descida pela escada da Cruz, no alto da qual Jesus foi exaltado, agora subimos, na outra escada, a partir do degrau inferior, pelo caminho do amor, até que se cumpra em plenitude o tempo e o mistério da Páscoa do Senhor.

Homilia no II Domingo da Páscoa B 2018

1.«O amor tudo crê» (1 Cor 13,7)! Mas o amor não crê em tudo, porque quem crê em tudo acaba por não acreditar em nada! E o contrário também se poderá verificar: quem não acredita em nada está pronto a acreditar em tudo. Ora, nós acreditamos, sim, mas “acreditamos no amor que Deus nos tem” (DCE 1). E só este Amor é digno de fé! A fé que professamos, celebramos, rezamos e vivemos, é a correspondência do nosso amor ao Amor de Deus, que primeiro nos amou! Na 1.ª Carta de São João, eamor aparecem-nos de mãos dadas. E por isso, o verbo crer conjuga-se no imperativo do verbo amar e sob a forma de um único mandamento. O amor é, por isso, o coração da fé. E a fé é a humilde adesão da inteligência, da alma e do coração humano que se fia e confia, que se deixa amar e surpreender por Alguém!

2.É assim também a fé de Tomé, que não merece nada a porrada que leva neste dia. A ferida aberta no seu coração, pela morte recente de Jesus, estava ainda a sangrar. E por isso, Tomé reclama ver nas mãos do Ressuscitado o sinal dos cravos; ele quer meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no lado aberto do Crucificado para acreditar. Sem pretender provas evidentes, Tomé reclama apenas por alguns sinais, pelos sinais da Sua crucifixão, pelos sinais do Seu amor.

3.E o Amor de Jesus é realmente muito condescendente com a dúvida de Tomé, que pode, por fim, ver os cravos nas mãos e meter o dedo no Seu lado aberto. Mas afinal, quais são as provas? Quais os milagres pelos quais Tomé chega à fé? Não há provas nenhumas. Há alguns sinais. E, no caso, não são sinais portentosos, esmagadores, que deixem Tomé convencido e de boca aberta! Não. Os sinais pelos quais chega à fé são os sinais da crucifixão; numa palavra, são os sinais do Amor que Se entrega na Cruz. Só estes sinais dissipam as dúvidas de Tomé e o movem à sua mais bela profissão de fé: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20,28). Doravante, não se trata mais de ver para crer. Doravante, só vê quem crê: «Se acreditardes, vereis» (Jo 11,40). E agora só vê pela fé quem ama, porque só o amor vê o invisível, só o Amor é digno de fé! Com Tomé, aprendemos que acreditar é também uma forma de se deixar amar, de se deixar tocar, de se entregar, de confiar e de se confiar ao Senhor, no Seu imenso amor.

4.Irmãos e irmãs: nas nossas relações familiares, vivamos “o amor que tudo crê” (1 Cor 13,7). Este amor não pede nem pode dar provas científicas de vida, sem deixar margens para dúvidas. O amor que tudo crê está mais pronto a dar sinais do que a pedi-los. É impossível amar e crescer no amor sem a confiança no outro e sem a confiança do outro. Quando falta a confiança entre as pessoas sobra um clima de suspeita que inibe o outro de se exprimir e de partilhar as suas vivências. Na relação conjugal, por exemplo, cada um confia no outro e confia-se ao outro. Não é possível ao esposo ou à esposa colecionar ou exibir provas de amor, muito menos através do controlo absoluto, da posse constante e do domínio permanente do outro. Que podemos oferecer ao outro, para que acredite no amor? Apenas podemos apresentar os sinais da Cruz, isto é, os sinais da dádiva, da entrega e do sacrifício pelo outro. Aí está a prova: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por quem ama” (Jo 15,13). Também na comunidade cristã, o crédito dado à notícia da ressurreição não vinha senão dos sinais do amor concreto, em razão dos quais “não havia nenhum necessitado entre eles” (At 4,34).

5.Reine nas nossas famílias e na nossa comunidade uma confiança sólida e carinhosa. Não desistamos nunca de ninguém. Apesar de tantas feridas abertas, não deixemos de acreditar no amor. O amor que tudo crê, reconhece a luz acesa por Deus, que se esconde por detrás da escuridão ou a brasa ainda acesa sob as cinzas de um amor que parece esfumar-se. Suceda o que suceder, voltemos sempre a confiar. Porque o amor tudo crê! Porque só o amor é digno de fé!

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